O traço que rouba ao escuro nos desenhos de António Jorge Gonçalves
A partir do encontro entre um lápis branco e as folhas de um caderno preto nasceu o livro Desenhar do Escuro. Resultado de deambulações do ilustrador que, não se limitando a isso, retratam de forma sublime um tempo de pandemia.
Tudo começou em Guadalajara, há cerca de três anos. Correcção: tudo começou no facebook, há cerca de três anos anos. Mas não haveria história para contar se António Jorge Gonçalves não estivesse, de facto, em Guadalajara, na Feira Internacional do Livro, quando um post de facebook de Cláudia Guerreiro, ilustradora e baixista da banda Linda Martini, o colocou perante um peculiar pedido de ajuda. Cláudia apelava a uma alma gentil que estivesse nos Estados Unidos ou no México que lhe pudesse comprar e trazer para Portugal uma marca específica de lápis brancos, completamente fora dos radares da distribuição comercial europeia. Como a mensagem apanhou António exactamente na cidade mexicana, voluntariou-se para a missão. Chegado à livraria, com os lápis na mão, pensou que dado aquele interesse específico da ilustradora e a rara oportunidade de poder adquiri-los, talvez não fosse má ideia juntar um exemplar para si também e esperar para ver o que lhe poderia sugerir. Enfiou os lápis na bagagem, trouxe a encomenda para Lisboa e guardou o seu precioso lápis branco. E guardou-o, simplesmente — sem que acontecesse coisa alguma.