Pessoas perfeccionistas sofreram mais na pandemia

Este é o primeiro estudo a nível internacional a avaliar o papel do perfeccionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de covid-19

Foto
As pessoas mais perfeccionistas tiveram mais medo da covid-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia EPA/MARTIN DIVISEK

Um estudo divulgado esta quarta-feira e conduzido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) concluiu que as pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia de covid-19.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um estudo divulgado esta quarta-feira e conduzido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) concluiu que as pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia de covid-19.

Este é o primeiro estudo a nível internacional a avaliar o papel do perfeccionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de covid-19. Realizado por investigadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, foi dirigido pelo catedrático António Macedo, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, indica-se numa nota da Universidade de Coimbra (UC).

Segundo os resultados da investigação, publicada na revista científica Personality and Individual Differences, as pessoas mais perfeccionistas “tiveram mais medo da covid-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências, e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stress”, refere Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo.

Foto
Ana Telma Pereira DR

O perfeccionismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, “acompanhada de auto-avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfeccionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress”, esclarece a investigadora, citada no comunicado.

A amostra do estudo foi constituída por 413 adultos, homens e mulheres, da população portuguesa, recrutados entre Setembro e Dezembro de 2020. “Embora as mulheres tenham demonstrado níveis mais elevados de perfeccionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfeccionismo que avaliámos, e que são actualmente as consideradas mais relevantes (perfeccionismo rígido, autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do género”, realça Ana Telma Pereira.

A epidemia do perfeccionismo

A investigadora explica que as reacções psicológicas a pandemias dependem muito da personalidade da pessoa, uma vez que “são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como se interpretam as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram”. “Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reacções psicológicas à pandemia de covid-19”, sublinha.

“Mais concretamente, verificámos que as diversas componentes do perfeccionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros), geraram mais ansiedade, depressão e stress” face à pandemia”, especifica Ana Telma Pereira.

Tendo em conta que o perfeccionismo tem vindo a aumentar significativamente “nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma ‘epidemia de perfeccionismo'”, refere Ana Telma Pereira, notando que os resultados deste estudo evidenciam que “o perfeccionismo deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico das pandemias”.

É difícil, conclui, “alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles”. Além de Ana Telma Pereira e António Macedo, a equipa de investigadores integra Carolina Cabaços, Ana Araújo, Ana Paula Amaral e Frederica Carvalho.