Professores saíram à rua para reivindicar “estima e respeito”
Na marcha do Dia Mundial do Professor, o sentimento é comum: todos sentem que a profissão é desvalorizada e que é necessária uma intervenção imediata do Governo.
“Quem não quer negociar, não pode governar.” Foi uma das frases que mais se gritaram na manifestação dos professores, realizada na tarde desta terça-feira, em Lisboa. Para assinalar o Dia Mundial do Professor, a marcha organizada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) reuniu largas centenas de professores e dirigentes sindicais que partiram do largo de Santos e terminaram em frente ao Ministério da Educação, na Avenida 24 de Julho.
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“Quem não quer negociar, não pode governar.” Foi uma das frases que mais se gritaram na manifestação dos professores, realizada na tarde desta terça-feira, em Lisboa. Para assinalar o Dia Mundial do Professor, a marcha organizada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) reuniu largas centenas de professores e dirigentes sindicais que partiram do largo de Santos e terminaram em frente ao Ministério da Educação, na Avenida 24 de Julho.
Os cartazes de protesto que esvoaçaram ao longo do percurso descreviam uma classe que se sente desvalorizada e desrespeitada no geral, mas principalmente pelo Governo. No discurso de encerramento do protesto, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, sublinhou isso mesmo: “A Fenprof não abdica de se fazer ouvir e de pressionar o poder para que não desista da Educação e estime os seus profissionais”, começou por dizer. “Em Portugal essa estima e respeito não existem, como bem sabem os professores e os educadores.”
Entre as principais reivindicações da Fenprof estão a recomposição da carreira, mudanças no regime de aposentação e o rejuvenescimento da profissão. Mas também melhorias nos horários e nas condições de trabalho, a redução da precariedade e mudanças nos concursos.
Mário Nogueira acusou o Governo de rejeitar “medidas que iriam conferir atractividade à profissão de professor”. Face à ausência destas, os mais velhos desejam a aposentação e os mais jovens não aderem à profissão. “O número de adolescentes que, ao concluírem o ensino secundário, procuram os cursos de formação de professores, baixou drasticamente, ficando muito aquém das necessidades”, alertou. “A falta de professores é sentida nas escolas cada vez mais cedo e, este ano, uma semana após a abertura do ano lectivo, era já um problema sobretudo nos distritos de Lisboa, Setúbal e Faro, quer em número, quer em dimensão dos horários não preenchidos.”
Nesta quarta-feira, a Fenprof entrega “pré-avisos de greve ao sobretrabalho” (ou seja, às actividades que vão além das 35 horas semanais). No dia seguinte, quinta-feira, apresenta no Ministério da Educação uma série de propostas para a resolução dos problemas que identifica.
“Hoje estamos a comemorar o Dia Mundial do Professor, uma nobre profissão que tem uma responsabilidade acrescida na sociedade”, começou por dizer António Cunha, professor de Educação Física no Agrupamento de Escolas Júlio Dantas, em Lagos, e que só conseguiu ficar efectivo numa escola ao final de 26 anos. “E estamos aqui para que a profissão de professor seja valorizada, seja reconhecida, para que o fruto do nosso trabalho seja melhor, para que a sociedade que se construa também seja melhor.”
Assim como António, foram vários os professores que se deslocaram de todos os pontos do país para prestar uma homenagem à profissão que esperam um dia ser valorizada. Patrícia Ferreira é exemplo disso: veio de Ílhavo. “Estou desempregada. Concorri e não fui colocada”, começa por contar ao PÚBLICO a professora de Português e de História e Geografia de Portugal. “Estive 22 anos — consecutivamente — ausente do meu seio familiar e este ano, por opção, optei por concorrer para escolas mais perto da minha residência. Não entrei”, lamenta. “Eu estou aqui para dar voz à minha situação e de muitos outros que estão igualmente neste cenário, porque isto é vergonhoso.”
A manifestação contou com a presença da líder partidária do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que está preocupada com o futuro da profissão em Portugal. “Vemos uma diminuição dos jovens que se predispõem a ser professores, numa altura em que vemos também como os professores em Portugal estão a chegar à altura da reforma”, afirmou. “Estamos a assistir a um problema em que há zonas do país onde já é muito difícil arranjar professores, como Lisboa e Vale do Tejo ou Algarve, porque os salários são muito curtos e o preço das casas muito altos."
Jorge Pires, da Comissão Política do PCP, marcou também presença na manifestação “em solidariedade” com os professores e com as suas reivindicações.
No seu discurso, Mário Nogueira pediu ainda um reforço do investimento público na Educação “garantindo que as verbas correspondem no mínimo a 6% do PIB”. Segundo a Pordata a despesa em Educação correspondia a 3,9% do PIB em 2020.