A ecoansiedade é real — e, por cá, já há psicólogos a pensar sobre ela

Negação, medo e pânico são algumas das respostas emocionais a tragédias ambientais. Os psicólogos consideram a ecoansiedade “uma reacção adequada, porque corresponde a uma ameaça real”. E estão dedicados à questão.

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Mika Baumeister/Unsplash

Há quem lide com as alterações climáticas negando ou menorizando o problema, mas quem faz delas forma de vida, por profissão ou por activismo, pode sofrer de ecoansiedade — e já há em Portugal profissionais dedicados à questão.

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Há quem lide com as alterações climáticas negando ou menorizando o problema, mas quem faz delas forma de vida, por profissão ou por activismo, pode sofrer de ecoansiedade — e já há em Portugal profissionais dedicados à questão.

“Crianças nascidas hoje enfrentam alterações climáticas cataclísmicas”, “Efeitos do aquecimento global podem perdurar séculos ou milénios”, “Temperaturas subirão na Europa a ritmo superior à média mundial”, “Relatório avisa que tempo para salvar o planeta está a esgotar-se” são algumas das notícias publicadas pela Lusa no último mês.

Também as projecções da Climate Central apontam um cenário preocupante sobre o impacto da subida do nível das águas do mar a partir de 2030. Olhando para o território português, saltam à vista estuários do Tejo e do Mondego, mas a zona mais vulnerável é a de Aveiro. Mais acima, zonas como Esmoriz, Espinho, Matosinhos, incluindo o porto de Leixões, Ofir e Viana do Castelo também inspiram cuidados.

Notícias como esta podem gerar vários tipos de respostas emocionais, que vão desde a negação ao medo e ao pânico, mas o ideal é transformar as respostas negativas em impulsos para a acção, explicou à Lusa a psicóloga Teresa Pereira,

Em entrevista à agência Lusa, o hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar afiançou que, “em breve, será necessário retirar pessoas da orla costeira do Norte”. O especialista afirma que o maior problema da costa portuguesa é a falta de areia, fruto do défice sedimentar causado, em grande parte, pelas barragens que impedem que os sedimentos cheguem à costa.

Essa é uma posição com que o engenheiro Carlos Coelho, da Universidade de Aveiro, e a geógrafa Ana Monteiro, da Universidade do Porto, concordam, mas acrescentam que o aumento da gravidade das tempestades é um factor importante nos riscos que a costa portuguesa enfrenta.

Todos estes dados preocupam, e há quem seja mais afectado pela informação, como “os jovens, activistas climáticos, eventualmente cientistas climáticos”, explica à Lusa Teresa Pereira, psicóloga na plataforma Ecopsi. A especialista está, neste momento, a fazer um doutoramento em Psicologia e Alterações Climáticas, na Universidade do Minho, em que estuda o impacto das questões ambientais na saúde mental de jovens entre os 16 e os 24 anos.

O projecto junta “um grupo de profissionais que se inspiraram no trabalho já desenvolvido pela Climate Psychology Aliance, de Inglaterra, e que estão a trabalhar ao nível da promoção da saúde mental e bem-estar psicológico em cenário de crise climática”.

Actua em Portugal há cerca de um ano, e tem sido procurado, “sobretudo, por activistas climáticos, que são as pessoas mais expostas e que lidam mais directamente com a questão”.

A ecoansiedade já se faz sentir no país, e traz um desafio aos psicólogos, que a consideram “uma reacção adequada, porque corresponde a uma ameaça real e, portanto, é diferente da ansiedade psicológica, em que a resposta está aumentada e é desproporcional face ao risco”.

“No dia-a-dia, com relativa facilidade conseguimos dar conforto e encorajamento a uma pessoa que passa por um processo de ansiedade, é fácil dar segurança a um problema de menor dimensão. As alterações climáticas são um problema imenso, e torna-se mais difícil dar segurança e sentido de controlo às pessoas. Pode realmente levar a sentimentos de desesperança, inacção, que tornam bastante difícil a capacidade da pessoa para lidar com o problema”, explica.

A psicóloga ressalva que a ecoansiedade “não é um diagnóstico clínico, porque, se falarmos nisso, estamos a, de certa forma, estigmatizar a população e a desresponsabilizar a sociedade sobre um fenómeno real e uma responsabilidade de todos”. Ainda assim, destaca que “por não ser um diagnóstico, não quer dizer que não seja importante e real, e a ser vivenciado pelas pessoas”.

Os mecanismos para lidar com este problema passam por “tentar mobilizar sentimentos positivos que ajudem a lidar com o problema, a esperança no futuro, resiliência, algum empoderamento da pessoa, e que se consegue fazer por promoção da acção”.

“Uma coisa que se faz muito é incentivar as pessoas a agir. Seja no colectivo ou no activismo da vida diária, incorporar na vida algumas acções que possam contribuir para se sentir mais envolvida com o tema. Também é muito importante o autocuidado: gerir a exposição à informação, como ela é integrada”.

É ainda aconselhada “a conexão com a natureza e com grupos — não só procurar pessoas com as mesmas preocupações, mas também no sentido de procurar algum conforto emocional e partilha das emoções”, conclui.