ONU diz que podem ter sido cometidos crimes de guerra na Líbia

Peritos da organização mundial denunciam acções de todas as partes envolvidas no conflito e apontam especificamente o dedo a mercenários russos do grupo Wagner.

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Mohamed Auajjar apresentou primeiras conclusões das investigações independentes na Líbia SALVATORE DI NOLFI/EPA

Todas as partes envolvidas no conflito militar na Líbia cometeram delitos que podem vir a ser considerados crimes de guerra e crimes contra a humanidade, denunciaram esta segunda-feira investigadores das Nações Unidas, referindo especificamente as acções de elementos do grupo Wagner, a empresa militar privada russa.

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Todas as partes envolvidas no conflito militar na Líbia cometeram delitos que podem vir a ser considerados crimes de guerra e crimes contra a humanidade, denunciaram esta segunda-feira investigadores das Nações Unidas, referindo especificamente as acções de elementos do grupo Wagner, a empresa militar privada russa.

“As investigações indicam que diversas partes dos conflitos violaram direito internacional humanitário e, potencialmente, cometeram crimes de guerra”, informa Mohamed Auajjar, líder da missão independente da ONU Independent Fact-Finding Mission on Libya, no seu relatório para o Conselho de Direitos Humanos da organização mundial.

O relatório acusa especificamente os mercenários do grupo Wagner de terem disparado contra prisioneiros: “Existem fundamentos suficientes para se acreditar que os funcionários da Wagner possam ter cometido o crime de guerra de assassínio”.

A missão da ONU refere ainda que os mercenários russos deixaram para trás um computador com um mapa que mostra os locais onde foram instaladas minas terrestres nas imediações de edifícios civis, em áreas abandonadas por forças do Leste em fuga. A maioria dessas minas foi fabricada na Rússia e matou muitos civis que regressaram a casa, refere o relatório.

Questionado no ano passado sobre as actividades do grupo Wagner na Líbia, o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, garantiu que quaisquer cidadãos envolvidos nos combates no país do Norte de África não representam o Estado russo.

A Líbia está em guerra há cerca de uma década e em absoluto caos desde que a intervenção militar da NATO pôs fim ao regime de Muammar Kadhafi, em 2011.

O território transformou-se, nos últimos anos, num palco de confrontos entre exércitos que apoiam governos rivais, que incluem combatentes estrangeiros, mercenários e empresas de segurança privadas, e que são apoiados por diferentes países e organizações.

Rússia, Egipto e Emirados Árabes Unidos apoiam o Exército Nacional Líbio (ENL) e o marechal Khalifa Haftar, que controlam o Leste da Líbia; e a Turquia apoia o Governo de Acordo Nacional (GAN) e Fayez al-Serraj, primeiro-ministro do Governo reconhecido internacionalmente, que controla a capital, Trípoli, e outros territórios na região Ocidental.

Os principais confrontos foram, ainda assim, suspensos no final do ano passado, após uma investida fracassada das forças de Haftar contra Trípoli. As partes acordaram um cessar-fogo e um governo de unidade interino, que tem como missão guiar o país até às eleições agendadas para o mês de Dezembro.

O relatório da Independent Fact-Finding Mission on Libya socorreu-se de centenas e documentos, investigações, imagens de satélite e entrevistas com mais de 150 pessoas na Líbia, na Tunísia e em Itália.

Os seus autores denunciam práticas de tortura e outros abusos cometidos “diariamente” nas prisões líbias e identificaram um dos suspeitos por um dos abusos mais graves e chocantes no território. Trata-se de Mohammed al-Kani, um comandante que combatia pelo ENL – os investigadores dizem que cometeu suicídio em Julho – e que liderava um grupo armado que matou centenas de pessoas, enterrando-as, depois, em valas comuns na cidade de Tarhuna.