Melo contesta sucesso eleitoral do CDS e faz pré-anúncio de candidatura à liderança
Ex-vice-presidente diz que o “partido está débil” e acusa direcção de fugir à realidade.
Cinco dias depois das eleições autárquicas, o ex-vice-presidente do CDS Nuno Melo veio tentar contrariar a visão de sucesso nas eleições autárquicas projectada pela direcção de Francisco Rodrigues dos Santos, apontando que o partido “perdeu votos” e que ficou atrás do Chega e da Iniciativa Liberal nas grandes cidades. “Quando o partido se encontra débil, o risco é grande nos combates legislativos”, escreveu na rede social Facebook, revelando que “dentro de dias” dará a conhecer publicamente a sua decisão sobre a candidatura à liderança do partido.
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Cinco dias depois das eleições autárquicas, o ex-vice-presidente do CDS Nuno Melo veio tentar contrariar a visão de sucesso nas eleições autárquicas projectada pela direcção de Francisco Rodrigues dos Santos, apontando que o partido “perdeu votos” e que ficou atrás do Chega e da Iniciativa Liberal nas grandes cidades. “Quando o partido se encontra débil, o risco é grande nos combates legislativos”, escreveu na rede social Facebook, revelando que “dentro de dias” dará a conhecer publicamente a sua decisão sobre a candidatura à liderança do partido.
Foi uma espécie de pré-anúncio de que é candidato à liderança do partido. O eurodeputado tinha, antes das autárquicas, revelado que iria levar uma moção de estratégia global ao próximo congresso e que – como agora reiterou - isso não dependeria do resultado das eleições do passado domingo mas sim “do estado geral do partido”.
Na análise mais fina que faz aos resultados, considerou que o CDS teve fragilidades. “Preocupa-me, no que se refere a candidaturas próprias do CDS, que o partido tenha reduzido a sua representatividade de 134 mil votos em 2017 para apenas 74 mil agora. Preocupa-me que nas coligações lideradas pelo CDS o número de votos tenha baixado de cerca de 80 mil para cerca de 19 mil”, escreveu, referindo ainda que “somadas” as listas do CDS e as coligações que o partido lidera, “a percentagem de votos tenha caído de 4,1% para 1,9%.
Nas contas de Nuno Melo, há ainda a preocupação com a concorrência no seu espaço ideológico: “Preocupa-me que nas grandes cidades onde o CDS concorreu, as nossas votações estejam infelizmente abaixo do Chega e quase a par da IL”.
Sem nunca referir o nome do actual líder, o ex-vice-presidente de Paulo Portas e Assunção Cristas deixa um recado: “Fazer de conta que os factos não são os que os números revelam, não só não resolve os nossos problemas estratégicos estruturais, como evita que os superemos com coragem”. Assumindo que partilha “a alegria nos casos justificados”, Nuno Melo apontou que “o CDS também deve saber interpretar todo o quadro do processo autárquico, sem ilusões e com racionalidade (...) mas igualmente em relação aos aspectos preocupantes, para que possamos estar à altura dos desafios futuros”.
O eurodeputado coloca em cima da mesa uma perspectiva mais exigente. “Uma das principais prioridades do CDS no futuro, deveria passar pela capacidade de inverter um processo que não só levou muitos antigos militantes e dirigentes do CDS a aceitar ser candidatos nas listas do Chega e da IL e através deles a levarem o Chega e também a IL, onde concorreram directamente com o CDS, a uma posição eleitoral mais expressiva que o nosso partido”, considerou.
Francisco Rodrigues dos Santos tem reclamado vitória eleitoral nas autárquicas. Numa entrevista ao Expresso, esta sexta-feira, diz mesmo que o resultado é “um tremendo sucesso”, refutando as críticas que a oposição interna lhe tem lançado esta semana sobre os resultados. “Nas autárquicas crescemos: tivemos mais autarcas eleitos do que há quatro anos, o que desmonta a teoria de que o partido está a desaparecer”, disse, contestando a ideia de que o partido, quando concorreu sozinho, sofreu derrotas: “O CDS candidatou-se em listas próprias ou lideradas por si em 99 concelhos. Nestes concelhos teve mais votos e autarcas do que o BE, o PAN, o Chega, ou o IL em todo o país”.
Na mesma entrevista, o líder do CDS admite estar disponível para uma coligação pré-eleitoral com o PSD. “O meu objectivo é colocar novamente o CDS a governar e a derrubar o PS. A política de coligações pré-eleitorais pelo PSD não foi inaugurada por mim, mas por Freitas do Amaral, seguido por Paulo Portas. É um caminho em aberto para o futuro e que não excluo. A dois anos das eleições, não o posso dizer peremptoriamente...”, afirmou.
O líder do CDS marcou uma conferência de imprensa para esta sexta-feira sobre os resultados eleitorais. O partido prepara-se para uma luta interna até ao congresso.