Especialistas defendem teste genético nas mulheres com cancro de mama até aos 45 anos

Sociedade Portuguesa de Oncologia defende que as mulheres com cancro da mama e com menos de 45 anos devem realizar um teste genético para adaptar terapias e também para definir eventuais medidas de vigilância de outros membros da família.

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Rui Gaudêncio

A Sociedade Portuguesa de Oncologia defendeu esta sexta-feira que todas as mulheres com cancro da mama em idade igual ou inferior a 45 anos devem ser referenciadas para o teste genético para definir opções terapêuticas mais adequadas e alertar os familiares. No arranque no mês de Outubro, que é de sensibilização para o cancro da mama, a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) lembra que “as mulheres que são portadoras destas alterações hereditárias, das mutações [genéticas] BRCA, têm um risco muito aumentado de ter cancro da mama”.

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A Sociedade Portuguesa de Oncologia defendeu esta sexta-feira que todas as mulheres com cancro da mama em idade igual ou inferior a 45 anos devem ser referenciadas para o teste genético para definir opções terapêuticas mais adequadas e alertar os familiares. No arranque no mês de Outubro, que é de sensibilização para o cancro da mama, a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) lembra que “as mulheres que são portadoras destas alterações hereditárias, das mutações [genéticas] BRCA, têm um risco muito aumentado de ter cancro da mama”.

“Com o evoluir do conhecimento percebemos que havia alguns subtipos de cancro da mama que se associavam mais a este teste genético, que havia outras causas que poderiam ser identificadas, além da história familiar, e que [esta identificação] seria importante não só para a doente, para fazer a sua vigilância e as cirurgias profilácticas, mas também para aos seus descendentes, que poderiam ser testados e, sendo ainda saudáveis, poderiam prevenir a doença oncológica”, explicou Noémia Afonso.

Segundo a especialista, a realização do teste genético permite não só definir terapêuticas mais adequadas para o doente, assim como dá a possibilidade de alertar os familiares para a importância de fazerem o teste e conhecerem o seu risco, que não é apenas restrito ao cancro da mama, pois a presença de mutações genéticas BRCA aumenta também o risco de cancro do ovário, pâncreas e próstata (nos homens).

O alerta surge no âmbito da campanha “saBeR mais ContA”, que envolve a as associações Careca Power e Evita, a Europacolon e as sociedades portugueses de Genética Humana, Ginecologia, Senologia e de Oncologia, com o apoio da AstraZeneca. A presidente da SPO sublinha igualmente que, para alguns tipos de cancro e algumas situações, as mulheres devem ser testadas após 45 anos, nomeadamente no cancro da mama triplo negativo. “Recomenda-se o teste pelo menos até aos 60 anos”, afirma.

Noémia Afonso considera ainda que, uma vez que esta alteração genética pode ter uma implicação terapêutica, os testes podem também ser pedidos pelo médico assistente, designadamente o oncologista.

“Podemos criar aqui um meio e treinar pessoas para que este teste genético seja pedido, especificamente para os BRCA pela indicação terapêutica, no fundo para não estarmos a aguardar uma referência para outra consulta e mais um pedido de teste, tentando passar aqui um pequeno passo que pode ser importante no diagnóstico e que pode ter implicação na terapêutica imediata”, afirmou.

A especialista exemplificou ainda: “Imaginemos uma mulher que tem um cancro da mama e vai ser operada e fazer a sua quimioterapia. Se fizer um teste genético em tempo útil, rapidamente pode optar, em vez de ser operada apenas a uma mama, ser às duas mamas e assim diminui o risco de cancro”.

“Igualmente, se mulher tiver já uma doença avançada e fizer o seu teste rapidamente pode ter uma arma terapêutica mais adequada”, acrescentou. Noémia Afonso sublinha, contudo, que “se se confirmar a presença da mutação, a doente deve ser obviamente orientada para uma consulta de aconselhamento genético, para vigilância de outras neoplasias, como o risco de cancro de pâncreas, ovários, melanoma, nela e nos seus familiares”.

Quanto aos homens, em quem o cancro de mama é raro, a presidente da SPO lembra que nos portadores destas mutações genéticas BRCA “o risco de cancro da mama aumenta” e defende que “todos devem ser testados, independentemente da história familiar e da idade”.

Segundo explicou, os homens filhos de mães que tiveram cancro de mama e acabaram por ser testados, sendo-lhes detetada mutações BRCA 1 ou 2, têm uma probabilidade muito aumentada de vir a desenvolver cancro de mama. “Se na generalidade dos homens o risco é de 0,1 por cento, nos portadores de mutações BRCA 2 esta ultrapassa os 10%, chegando nalguns casos a 12%”, disse.

Segundo dados divulgados no âmbito da campanha “saBeR mais ContA”, as mulheres portadoras de mutação no gene BRCA 1 têm uma probabilidade de desenvolver cancro da mama de 65% a 80%. Já as portadoras de mutação no gene BRCA 2 têm uma probabilidade de 50% a 75%. As mulheres sem esta mutação têm uma probabilidade de 11%.

Quanto aos homens, os portadores de mutação no gene BRCA 1 têm uma probabilidade de 3% de desenvolver cancro da mama, enquanto os portadores de mutação BRCA 2 têm uma probabilidade de até 12%. Os homens sem estas mutações têm uma probabilidade de 0,1%.

No ano passado foram diagnosticados 7041 novos casos de cancro da mama.