Coreia do Norte propõe reactivar canal directo com a Coreia do Sul
Líder norte-coreano tenta criar divisões entre a Coreia do Sul e o EUA, aproveitando o desejo do Presidente sul-coreano de deixar um legado positivo após a sua saída do poder, em Maio de 2020.
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, abriu a porta a um reatamento das comunicações directas com a Coreia do Sul a partir de Outubro, e acusou os Estados Unidos de fazerem propostas de conversações sem mudarem a sua “política hostil” em relação ao país.
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O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, abriu a porta a um reatamento das comunicações directas com a Coreia do Sul a partir de Outubro, e acusou os Estados Unidos de fazerem propostas de conversações sem mudarem a sua “política hostil” em relação ao país.
As declarações de Kim, citadas pela agência de notícias KCNA, foram feitas perante a Assembleia Popular Suprema, que se reuniu para um segundo dia de discussões sobre a agenda política, económica e social do Governo norte-coreano.
Na segunda-feira, a Coreia do Norte testou um míssil hipersónico que era desconhecido até agora, juntando-se ao pequeno leque de países que está a desenvolver a tecnologia — os EUA, a Rússia e a China. Especialistas na Coreia do Sul acreditam que a fase de desenvolvimento na Coreia do Norte está ainda a dar os primeiros passos, a julgar pela velocidade registada no teste: cerca de 3000 quilómetros por hora, ou metade do que se espera de um míssil hipersónico.
Jogada dupla
O corte e o reatamento de relações com a Coreia do Sul é um hábito de décadas na Coreia do Norte, tal como o endurecimento das ameaças quando os norte-americanos e os sul-coreanos realizam exercícios militares nas águas da península.
Desta vez, Kim Jong-un mostrou-se disponível para reatar o diálogo directo com o vizinho do sul já a partir de sexta-feira, apesar de ter criticado a Coreia do Sul pela sua “ilusão” de que pode “ameaçar” a Coreia do Norte.
Pyongyang cortou as conversações directas com Seul no início de Agosto — poucos dias depois de as ter retomado ao fim de um ano — em protesto contra os exercícios militares conjuntos da Coreia do Sul e dos EUA.
A decisão de voltar a reatar o diálogo tem como objectivo “cumprir as expectativas e o desejo de toda a nação coreana” no sentido de uma paz duradoura, disse Kim.
“Não temos nenhum motivo para provocar a Coreia do Sul, nem nenhuma intenção de o fazer”, disse o líder norte-coreano, segundo a agência KCNA.
O Ministério da Unificação sul-coreano, responsável pelas relações entre os dois países, registou com agrado a intenção da Coreia do Norte, mas não fez comentários sobre as outras declarações de Kim Jong-un.
O líder norte-coreano endureceu o tom em relação a Washington, acusando o Presidente dos EUA, Joe Biden, de “empregar novos métodos ardilosos” para ameaçar a Coreia do Norte ao mesmo tempo que propõe negociações.
“Os EUA falam de ‘compromisso diplomático’ e de ‘diálogo sem pré-condições’, mas isso não é mais do que um truque mesquinho para enganar a comunidade internacional e para esconder as suas acções hostis”, disse Kim.
A Administração Biden disse que tomou a iniciativa de propor a Pyongyang o fim do impasse nas conversações sobre o programa nuclear norte-coreano em troca do alívio das sanções norte-americanas. Mas também criticou a Coreia do Norte pelos mais recentes lançamentos de mísseis, que descreveu como “ameaças”.
Reunião do Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança da ONU vai reunir-se à porta fechada, esta quinta-feira, para discutir o recente teste da Coreia do Norte com um míssil hipersónico, a pedido dos EUA, Reino Unido e França.
Os especialistas em política norte-coreana dizem que a estratégia de Kim tem como objectivo obter o reconhecimento internacional como potência nuclear, ao mesmo tempo que tenta causar divisões entre os EUA e a Coreia do Sul aproveitando-se do desejo do Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, de deixar um legado positivo nas relações inter-coreanas após a sua saída presidência, em Maio de 2022.
“O Norte parece estar nervoso com o facto de a nova Administração Biden ainda não ter feito uma proposta concreta para retomar as negociações”, disse Yang Moon-jin, professor na Universidade de Estudos Norte-coreanos, em Seul.
Ouvido pela agência Reuters, Yang disse que a Coreia do Norte pretende dar sinais positivos à Coreia do Sul na esperança de que o Presidente sul-coreano pressione os EUA a mudarem de posição.
No seu discurso perante o parlamento norte-coreano, Kim Jong-un não se referiu directamente ao míssil hipersónico, mas disse que o país está a desenvolver “armas ultra-modernas capazes de conter forças hostis”.
O líder norte-coreano disse também que se o Presidente sul-coreano quiser declarar o fim formal da guerra de 1950-1953 — tal como foi sugerido por Moon Jae-in na Assembleia Geral da ONU —, então terá de “cessar a sua atitude hostil e dúplice” em relação ao Norte.
Num outro desenvolvimento, a agência KCNA avança que a irmã de Kim jong-un, Kim Yo-jong, foi nomeada para a Comissão de Assuntos do Estado, um órgão do Governo criado em 2016 e presidido pelo próprio líder norte-coreano.
Kim Yo-jong, de 32 anos, tem subido rapidamente nas estruturas de poder desde que o seu irmão assumiu a liderança do país, em 2011, e é responsável por uma parte importante da diplomacia norte-coreana.