Partidos unionistas da Irlanda do Norte unem-se para rejeitar o protocolo irlandês do “Brexit”

Líderes dos quatro maiores partidos unionistas emitem comunicado inédito, pedindo ao Governo britânico que rasgue o acordo ratificado com a UE sobre o sistema regulatório pós-“Brexit”.

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Mensagens pró-unionistas nas imediações do porto de Larne CLODAGH KILCOYNE/Reuters

Os líderes dos quatro maiores partidos unionistas norte-irlandeses deixaram temporariamente de lado as suas divergências e juntaram-se para rejeitar, em uníssono, o sistema regulatório aplicável à entrada de produtos na Irlanda do Norte, vindos do restante território britânico, imposto pelo protocolo irlandês, anexo ao acordo de saída do Reino Unido da União Europeia.

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Os líderes dos quatro maiores partidos unionistas norte-irlandeses deixaram temporariamente de lado as suas divergências e juntaram-se para rejeitar, em uníssono, o sistema regulatório aplicável à entrada de produtos na Irlanda do Norte, vindos do restante território britânico, imposto pelo protocolo irlandês, anexo ao acordo de saída do Reino Unido da União Europeia.

“Nós, os líderes políticos unionistas abaixo-assinados, afirmamos a nossa oposição ao protocolo da Irlanda do Norte, aos seus mecanismos e estruturas, e reafirmamos a nossa posição inalterável de que o protocolo deve ser rejeitado e substituído por disposições que respeitem inteiramente o posicionamento da Irlanda do Norte enquanto parte constituinte e integral do Reino Unido”, lê-se no comunicado conjunto divulgado esta terça-feira.

O documento é assinado por Jeffrey Donaldson, do Partido Unionista Democrático (DUP); Doug Beattie, do Partido Unionista do Ulster (UUP); Jim Allister, da Voz Unionista Tradicional (TUV); e Billy Hutchinson, do Partido Progressista Unionista (PUP).

Os quatro líderes gravaram ainda um vídeo, no qual explicam as suas posições sobre os “danos” que o protocolo causa na economia, nos acordos de paz de 1998 e na “identidade britânica” da Irlanda do Norte.

“O unionismo está unido na oposição ao protocolo. A fronteira no Mar da Irlanda tem de acabar. Fragiliza a união e custa 850 milhões de libras por ano à Irlanda do Norte. Chegou a altura de o Governo agir”, exigiu Donaldson.

O protocolo irlandês, anexo ao acordo do “Brexit”, foi a solução encontrada por Londres e por Bruxelas para responder à opção do Governo de Boris Johnson pelo abandono do mercado único e da união aduaneira da UE, respeitando, ao mesmo tempo, os princípios do Acordo de Sexta-Feira Santa (ou Acordo de Belfast), que puseram fim a 30 anos de guerra sectária, entre unionistas e republicanos.

Para se evitar uma fronteira física na ilha irlandesa e para se manter a troca de produtos entre Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) e a República da Irlanda (Estado-membro da UE) foi então acordada a realização de controlos alfandegários aos produtos oriundos do restante território britânico com destino à Irlanda do Norte.

O impacto deste novo sistema no mercado de abastecimento do território e nas relações político-constitucionais entre Irlanda do Norte e Grã-Bretanha está a fazer regressar algumas das tensões antigas e tem merecido inúmeras críticas dos partidos unionistas, que temem que a maior proximidade económica com a vizinha República da Irlanda faça crescer os apoios internos a uma reunificação política da ilha. Exigem, por isso, o fim do protocolo.

“A eliminação do protocolo é imperativa para toda a gente que estima o nosso lugar legítimo dentro do Reino Unido e que se opõem ao objectivo ‘all-Ireland’ que o protocolo procura desenhar”, sublinha Allister.

“O Governo britânico rasgou o Act of Union e o Acordo de Belfast. Ao fazê-lo, está a diluir o nosso britanismo”, lamentou, por sua vez, Hutchinson.

O próprio Governo britânico, um dos signatários do acordo, também está determinado em renegociá-lo com a UE e tem anunciado sucessivos adiamentos na implementação dos controlos a determinados produtos, argumentando que o protocolo provoca constrangimentos comerciais e económicos que não foram previstos e que violam os seus princípios. Bruxelas rejeita, no entanto, reabrir as negociações.