Costa frustrado com derrota em Lisboa: “Isso é indiscutível”
Depois de perderem Lisboa e Coimbra, os socialistas focaram-se em reclamar a vitória nacional. Mas o secretário-geral socialista não escondeu a tristeza por ver o partido perder aquela que já foi a sua autarquia.
No Largo do Rato, o silêncio imperou durante toda a noite eleitoral. À chegada das primeiras projecções à boca das urnas – uma hora mais tarde do que o habitual – não se ouviram festejos na sede do PS. A confirmação da derrota da noite viria só já depois das 2h, quando Fernando Medina anunciou que já tinha felicitado Carlos Moedas pela vitória na câmara de Lisboa.
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No Largo do Rato, o silêncio imperou durante toda a noite eleitoral. À chegada das primeiras projecções à boca das urnas – uma hora mais tarde do que o habitual – não se ouviram festejos na sede do PS. A confirmação da derrota da noite viria só já depois das 2h, quando Fernando Medina anunciou que já tinha felicitado Carlos Moedas pela vitória na câmara de Lisboa.
Mas a autarquia da capital não seria a única surpresa da noite para o PS. Da boca de António Costa, porém, só se ouviriam as palavras “derrota inesperada”, já no Pátio da Galé, onde Medina se despedia da presidência da capital. “Se sinto frustração, claro que sim, é evidente que sim, isso é indiscutível”, admitiu durante a madrugada.
Na sede socialista, António Costa falou aos jornalistas, acompanhado apenas pelo secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, e pelo presidente do partido, Carlos César, que assistiam às reacções do líder socialista a partir da primeira fila. Com um mapa do território continental no ecrã ao lado do palco, o primeiro-ministro esforçou-se nas contas para apresentar o partido como vitorioso, desviando os resultados das câmaras para os resultados globais do PS, repetindo que foi a segunda vez que um partido ganhou “três vezes consecutivas” umas eleições autárquicas.
O primeiro-ministro defendeu que isso indicava que os portugueses “renovaram a sua confiança no PS, atribuindo-lhe uma vitória eleitoral”. "Estamos num ponto de viragem na gestão da pandemia [da covid-19]. Temos de concentrar todas as nossas forças no essencial: Relançar a economia, apostar na criação de mais e melhor emprego e prosseguir a agenda estratégica de responder aos desafios das alterações climáticas e da demografia”, referiu, relançando a discussão em torno do OE 2022 e do Plano de Recuperação e Resiliência.
Mais do que um derrotado, Costa apresentou o PS como vítima das “múltiplas coligações contra o PS”. "Pelo mero efeito matemático, se estas coligações tivessem existido há quatro anos, o PS teria tido menos dez câmaras em 2017. O PS praticamente manteve, mas os nossos adversários juntaram-se e tiveram mais voto”, argumentou.
Só depois de muita insistência dos jornalistas é que António Costa reconheceria que “uma eventual derrota em Lisboa é uma derrota que penaliza qualquer partido”. “Tenho muito orgulho de, em 2007, ter reconquistado [a capital] para o PS e seria uma tristeza particular se o PS não a mantiver”, diria, antes de reconhecer a vitória de Carlos Moedas.
Ainda assim, Costa teve dificuldades em reconhecer a vitória da direita, preferindo entregar os louros à CDU (até porque o OE 2022 está à porta). “Nos números que vi até agora não vi um grande reforço em relação à votação que o CDS e o PSD tiveram nas últimas eleições, o que vi foi o reforço muito significativo da CDU, por exemplo aqui em Lisboa. Os votos que foram transferidos do PS destinaram-se a reforçar a CDU. Se é esta a alternativa com que o Presidente da República sonha, não sei”, declarou, afastando um cenário de “alternativa forte" à direita.
Quanto à influência que estes resultados podem ter no OE 2022, Costa disse que nem o PCP nem o PS confundem o processo orçamental e diz não acreditar em “perturbações das negociações calendarizadas”.
Já depois de se encontrar com Fernando Medina, que tinha sido apontado como um possível sucessor de António Costa na liderança do partido, o primeiro-ministro afirmou que a sucessão do PS “não está na ordem do dia”.
No Rato, a surpresa e o silêncio
À hora da primeira reacção socialista, pelas 21h, José Luís Carneiro tinha ainda esperança que os resultados dessem ao PS “a quinta vitória consecutiva” na liderança de Lisboa, o que não se confirmaria, mas o guião para a noite já estava definido: o PS decidiu focar-se na vitória nacional para camuflar as perdas da noite.
Horas antes, e numa curta declaração sem direito a perguntas, Maria da Luz Rosinha, secretária nacional autárquica do PS, também tinha repetido o tom optimista do secretário-geral adjunto, insistindo que “o PS continua a ser o maior partido autárquico de Portugal”.
Além de Lisboa, o PS perdeu outras 32 câmaras, entre elas: Elvas, Mealhada, Coimbra, Funchal, Golegã, Viana do Alentejo e Pedrógão Grande. O mesmo aconteceu no Cartaxo, uma autarquia tradicionalmente socialista, que nos próximos quatro anos será presidida pelo PSD.
No total, os socialistas perderam 25 autarquias para o PSD (tendo tirado 13 autarquias aos sociais-democratas, incluindo Espinho, Freixo de Espada à Cinta e Penela). Com a CDU também houve trocas. O PS tirou sete autarquias à CDU (incluindo Loures, Alpiarça, Alvito e Mora) e perdeu duas. Os socialistas ganharam ainda duas câmaras aos independentes, mas perderam seis.
Apesar das derrotas, o PS insistiu que estava “tranquilo” e destacou que manteve a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses e a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE).