Alterações climáticas: quantos anos cabem numa década?
No 10.º aniversário do P3, estendemos o Megafone a dez vozes para falarem de dez causas. O que mudou numa década? Como será a próxima? Ricardo António, doutorando em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, olha para os próximos dez anos no que diz respeito ao ambiente.
Dos 4500 milhões de anos de existência do nosso planeta, apenas cerca de 400 mil anos compreendem a presença da espécie humana: o nosso “parente evolutivo” Neandertal começou a habitar a Terra há 400 mil anos, seguindo-se o Homo sapiens moderno entre 200 a 300 mil.
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Dos 4500 milhões de anos de existência do nosso planeta, apenas cerca de 400 mil anos compreendem a presença da espécie humana: o nosso “parente evolutivo” Neandertal começou a habitar a Terra há 400 mil anos, seguindo-se o Homo sapiens moderno entre 200 a 300 mil.
Nesta perspectiva somos um pequeno nada na linha de tempo do planeta azul que já assistiu a cinco extinções em massa. Não será ficção dizer que estamos actualmente a cozinhar todos os ingredientes que levarão à mesa da Humanidade aquela que será a sexta. A grande diferença face às cinco anteriores é o factor humano e o facto de este ser o principal responsável pelas alterações climáticas e os catastróficos efeitos que daí advêm, que podem levar a que sejamos a primeira espécie a construir a estrada da sua extinção.
Nos últimos 100 anos lançámos dióxido de carbono para a atmosfera a um ritmo mais rápido do que em todo o tempo anterior em que o ser humano esteve na Terra. Como David Wallace-Wells escreve no livro A Terra Inabitável, infligimos tantos danos ao destino do planeta e à sua capacidade em sustentar a vida desde que Al Gore publicou o seu primeiro livro sobre o clima como em todos os séculos e milénios anteriores que marcaram a nossa existência enquanto espécie.
Perante este contexto em que já ultrapassámos a linha vermelha de 400 partes por milhão de concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre, onde a meta de um aquecimento global máximo de 2ºC, estabelecida em 2016 no Acordo de Paris, surge cada vez mais como cenário mínimo, será mais útil olhar para o que podemos fazer nos próximos dez anos para mudar de rumo do que realizar um balanço da década que passou.
Se efeitos ambientais previsíveis já se fazem sentir e a ansiedade climática é uma realidade, os efeitos sociais ainda não são verdadeiramente compreendidos por todos. A título de exemplo, pensemos que a crise provocada pela guerra civil na Síria lançou para a Europa cerca de um milhão de refugiados. As Nações Unidas estimam que em 2050 sejam cerca de 200 milhões os refugiados do clima, oriundos da Ásia, África, América Latina e demais destinos onde a subida da água do mar, as temperaturas e fenómenos climáticos extremos tenham um efeito devastador sobre as populações mais frágeis e com menores possibilidades de adaptação e sobrevivência.
Foquemo-nos nos números que Bill Gates apresenta como mais relevantes para o destino do planeta no livro Como evitar um desastre climático. O primeiro é 51 mil milhões, relativo ao total de toneladas de gases com efeito de estufa que anualmente são lançados para a atmosfera. O segundo é 0 (zero), relativo ao valor de emissões que teremos de atingir.
Muitos são os factores que vão ditar o sucesso ou insucesso dessa empreitada nos próximos dez anos. Coragem e determinação de governantes e líderes de empresas, a genialidade e capacidade de inovação da comunidade científica e académica, o compromisso e mudança de hábitos e atitudes de cada um de nós, entre tantos outros que combinados vão ditar a nossa sorte. Todos têm algo em comum: dependem do factor humano.
É com esta premissa que devemos olhar para a próxima década, na certeza de que os jovens que nos últimos dez anos se indignaram e exigiram mudanças serão os líderes deste movimento transformador. As suas lutas terão vários palcos e formas de expressão. Um deles será, sem dúvida, as redes sociais, onde a capacidade destes novos guerreiros do planeta para influenciar, inspirar e capacitar se faz sentir de forma cada vez mais sólida, com dados em vez de opiniões infundadas e uma linguagem capaz de chegar aos corações e mentes de muitos.
Também em Portugal temos vários exemplos destes guerreiros pela mudança. Parte do que podemos fazer é estar atentos a eles, seguir o seu exemplo e ser parte da solução para que em dez anos façamos regredir o nosso impacto em pelo menos 100 anos.
Alguns das nossas “guerreiras” e “guerreiros” a seguir: