“Não há mais migrantes no campo” entre a fronteira dos EUA e México

Segundo as autoridades dos EUA, oito mil imigrantes voltaram voluntariamente para o México e mais de 12.400 poderão defender os seus pedidos de asilo nos tribunais. Os casos de cinco mil pessoas estão a ser avaliados.

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Vários migrantes ficaram num abrigo depois de terem estado no campo improvisado junto à fronteira com os EUA na cidade mexicana de Ciudad Acuña DANIEL BECERRIL/Reuters

Os milhares de imigrantes, a maioria haitianos, que se reuniram num campo improvisado entre Ciudad Acuña, no México, e a cidade fronteiriça Del Rio, no Texas, deixaram o local. Tinham chegado a ser 15 mil pessoas em busca de asilo nos Estados Unidos. A Administração de Joe Biden, debaixo de fogo devido à resposta à crise que se instalou junto à fronteira, anunciou uma investigação às condições e tratamento das pessoas que ali aguardavam.

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Os milhares de imigrantes, a maioria haitianos, que se reuniram num campo improvisado entre Ciudad Acuña, no México, e a cidade fronteiriça Del Rio, no Texas, deixaram o local. Tinham chegado a ser 15 mil pessoas em busca de asilo nos Estados Unidos. A Administração de Joe Biden, debaixo de fogo devido à resposta à crise que se instalou junto à fronteira, anunciou uma investigação às condições e tratamento das pessoas que ali aguardavam.

“Não há mais migrantes no campo sob a ponte internacional de Del Rio”, confirmou Alejandro Mayorkas, secretário do Departamento de Segurança Interna dos EUA numa conferência de imprensa.

Segundo Mayorkas, cerca de duas mil pessoas foram deportadas para o Haiti em 17 voos. Oito mil voltaram voluntariamente ao México e mais de 12 mil que deixaram o local poderão defender o seu pedido de asilo perante os juízes de imigração dos EUA. Os casos de cinco mil migrantes estão a ser avaliados para determinar se serão deportados.

“Se alguma excepção se aplicar, não vão voltar para o Haiti, entrarão no processo de imigração. Alguns estão detidos, outros estão em situações alternativas à detenção”, continuou.

Milhares de haitianos têm atravessado a América Central e o México em direcção aos EUA em busca de melhores condições de vida. O fluxo migratório seguiu-se a um terramoto devastador e às semanas de tumulto político, depois do assassínio do Presidente haitiano, Jovenel Moïse, num país já marcado pela violência de gangues.

À crise política, económica e humanitária soma-se a insegurança alimentar grave que afecta 4,3 milhões de pessoas, segundo um relatório divulgado na sexta-feira pelo organismo nacional para a segurança alimentar do Haiti. Mais: 1,3 milhões de pessoas vivem uma situação de emergência alimentar e cerca de três milhões encontram-se num estado de crise.

Só nas últimas duas semanas, quase 30 mil migrantes reuniram-se na ponte de Del Rio, notou o Departamento de Segurança Interna dos EUA. A resposta das autoridades fronteiriças ao fluxo de pessoas, contudo, gerou uma indignação geral, levando até à demissão do enviado especial dos EUA para o Haiti. As fotos que circularam mostravam guardas fronteiriços montados a cavalo a expulsar os migrantes que tentavam atravessar a fronteira, agarrando as suas roupas e chicoteando-os com as rédeas.

“Haverá consequências”

Depois de uma semana de silêncio, o Presidente norte-americano, Joe Biden, falou na sexta-feira sobre a “horrível” crise migratória. “Ver as pessoas a serem tratadas daquela maneira, com os cavalos quase a passar-lhes por cima. Foi revoltante”, disse, acrescentando que “uma investigação está a ser levada a cabo e haverá consequências”.

“Claro que sou responsável, sou o Presidente”, garantiu. E numa tentativa de descrever o que sucedeu na fronteira norte-americana e mexicana, Biden disse que a palavra vergonha não é suficiente, “vai para além da vergonha”. “É perigoso” e “envia a mensagem errada ao mundo e ao nosso país”, porque “não é quem somos”, continuou.

Já o secretário da câmara municipal de Ciudad Acuña, Felipe Basulto, garantiu que as pessoas nos centros de acolhimento da cidade não serão presas nem expulsas, acrescentando que podem andar pela cidade “com toda a confiança”. As autoridades mexicanas vão tentar tratar dos processos de pedido de estatuto de imigrantes, acrescentou, enquanto estiverem nos abrigos, geridos pelo instituto nacional de migração, “para poder oferecer-lhes uma alternativa de permanecerem legalmente” no país.

A declaração foi feita horas depois de o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, ter afirmado não querer que o país se torne num “campo de migrantes”.

Porém, apesar de o campo ter ficado vazio, alguns haitianos continuaram a chegar à cidade mexicana de Monterrey. “Se encontrar trabalho aqui, para suportar a minha família, não tenho problemas em ficar”, disse à AFP Joseph Yorel. Cerca de dois mil haitianos já se reuniram na cidade, segundo a contagem do número de abrigos temporários.