Fact-check: o contributo dos jovens para a abstenção
Para os jovens, a política precisa de cidadãos que sirvam a causa pública e a sua população e não que se sirvam a si próprios; precisa de governantes locais que promovam o diálogo intergeracional e não o conflito entre gerações; que dê os recursos para que a geração jovem possa viver melhor nos respectivos concelhos e que apoie as suas causas.
“Os jovens de hoje não querem saber de eleições.” Esta é uma afirmação recorrente, embora imprecisa e falsa. Em Janeiro passado, a geração jovem mostrou estar interessada e comprometida, ao invés de desligada e apática como muitos ousam caracterizar.
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“Os jovens de hoje não querem saber de eleições.” Esta é uma afirmação recorrente, embora imprecisa e falsa. Em Janeiro passado, a geração jovem mostrou estar interessada e comprometida, ao invés de desligada e apática como muitos ousam caracterizar.
Um inquérito promovido pela FAP revelou que a esmagadora maioria dos estudantes da Academia do Porto pretendia participar nas eleições presidenciais, o que se veio a confirmar, dado que os jovens votaram tanto ou mais do que a população em geral. Por isso, não posso aceitar que a geração jovem seja sistematicamente o bode expiatório da falta de participação em eleições. Paralelamente, o mesmo se dizia sobre a vacinação em curso. A resposta dos jovens foi cabal!
A geração jovem está indignada pela falta de oportunidades e de direitos – o direito à habitação, ao emprego digno, o direito de sonhar e de concretizar as aspirações legítimas de quem quer ser feliz em Portugal e na Europa.
É certo que a nossa geração vive melhor em muitos aspectos que a geração anterior, não fosse o progresso social o desejo para as gerações que vierem a suceder a nossa. Mas não podemos fechar os olhos aos jovens precários, que investiram na sua formação superior e cuja sociedade continua confortável em vê-los a recibos verdes. Jovens que não se conseguem emancipar, nem vislumbram essa realidade antes dos 30 anos, sem conseguir constituir família por falta de suporte a vários níveis.
As eleições autárquicas que se aproximam são o acto eleitoral mais participado do país. As últimas semanas foram marcadas pela auscultação da massa jovem, com medidas desenhadas para a população jovem e com a promoção de jovens a candidatos. Temos assistido a promessas e compromissos para o sector da juventude nos vários manifestos eleitorais, debates e comícios: o problema crónico da habitação acessível e o emprego jovem ganham finalmente a real dimensão e gravidade que temos vindo a reivindicar.
Mas não basta. Nós, jovens, não queremos simplesmente ser auscultados para que depois das eleições se opte por colocar as políticas de juventude na gaveta!
Os jovens reconhecem que é preciso deslocarem-se às urnas, seja para a eleição do Presidente da República, do presidente da câmara municipal ou da junta de freguesia. Votar é preservar a democracia e a liberdade de expressão com a qual já nascemos e cujo direito não abdicamos.
Mas, enquanto jovem, também reconheço que o maior envolvimento dos meus pares nestas eleições será determinado pelas agendas de juventude e soluções que os candidatos aos municípios e freguesias escolheram apresentar e que têm de conseguir mudar o dia-a-dia dos jovens, mas também pela imagem, confiança e credibilidade que transmitem.
Para os jovens, a política precisa de cidadãos que sirvam a causa pública e a sua população e não que se sirvam a si próprios; precisa de governantes locais que promovam o diálogo intergeracional e não o conflito entre gerações, reconhecendo que todos são precisos, e last but not least, que dê os recursos para que a geração jovem possa viver melhor nos respectivos concelhos e que apoie as suas causas, desde logo com a promoção real dos jovens nos espaços de decisão.
Aos futuros eleitos, deixo uma mensagem clara e objectiva. Não se esqueçam de nós a partir de 27 de Setembro. Não entrem no mesmo ciclo vicioso que nos tem conduzido até aqui. Assumam com efectividade e perseverança a vossa obrigação, contribuam para uma melhoria significativa das condições de vida dos jovens, para que daqui a quatro anos possamos falar noutros desafios que se colocam porque os actuais estão a ser resolvidos. Assim, como referiu Oscar Niemeyer, estarão a construir “hoje, o passado de amanhã”.
Porque nós, jovens, faremos como sempre a nossa parte, daremos como sempre o nosso melhor contributo!