Acabar com a Guerra da Coreia? “Ideia admirável”, diz irmã de Kim
Kim Yo-jong acolhe inesperadamente a proposta do Presidente sul-coreano de pôr um termo formal ao conflito na península, mas diz que é necessário acabar primeiro com as “políticas hostis” contra a Coreia do Norte.
Poucas horas depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Ri Thae-song, ter dito que a proposta do Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para se acabar formalmente com o conflito na península coreana era “prematura”, Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-un, veio defender publicamente que, afinal, a sugestão era uma “ideia admirável”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Poucas horas depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Ri Thae-song, ter dito que a proposta do Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para se acabar formalmente com o conflito na península coreana era “prematura”, Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-un, veio defender publicamente que, afinal, a sugestão era uma “ideia admirável”.
“A declaração para se acabar com a guerra é uma ideia interessante e admirável. Mas é necessário perceber se é o momento certo para o fazer e se há condições oportunas para discutir essa questão”, afirmou Kim Yo-jong, em declarações reproduzidas esta sexta-feira pela agência noticiosa estatal KCNA, citada pela agência Yonhap, da Coreia do Sul.
Mesmo tendo sublinhado que “não faz qualquer sentido declarar o fim da guerra” enquanto não se acabar primeiro com os “duplos padrões, com o preconceito e com as políticas hostis” contra a Coreia do Norte e com os discursos e actos que “antagonizam” as partes envolvidas, Kim revelou que Pyongyang tem “vontade” de “voltar a ter um contacto próximo com o Sul e de ter uma discussão construtiva sobre a restauração e o desenvolvimento das relações bilaterais” com Seul.
As declarações da irmã do Líder Supremo da República Popular Democrática da Coreia – vice-directora do gabinete de propaganda, membro suplente no Politburo, uma figura cada vez mais influente do regime e um dos nomes apontados à sucessão de Kim Jong-un –, são o primeiro sinal dado pela Coreia do Norte, em quase dois meses, de que há abertura para voltar a conversar com o vizinho a Sul do Paralelo 38.
A aproximação das duas Coreias em 2018 e os encontros mediáticos entre Kim Jong-un e o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, puseram a região a discutir, pela primeira vez em décadas, os planos para a desnuclearização da península e o alívio das sanções económicas impostas à Coreia do Norte. Mas as relações entre Pyongyang e Seul esfriaram em 2020 e houve mesmo um corte nas comunicações durante um ano.
A restauração do canal privilegiado de comunicação entre os dois vizinhos, em Julho, deu a entender que as partes iriam voltar a conversar sobre o programa nuclear e a crise económica norte-coreana, mas o regime de Kim deixou de responder às chamadas passados poucos dias, em protesto contra a realização de exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e EUA na região.
No final de Agosto, a ditadura dinástica de inspiração comunista e semidivina reactivou o reactor de Yongbyon – o principal meio para produzir plutónio necessário para o armamento nuclear – e já durante este mês realizou ensaios com mísseis balísticos de curto e de longo alcance.
Tecnicamente em guerra
Travada entre 1950 e 1953, a Guerra da Coreia terminou com um acordo de armistício, ao invés de um tratado de paz. Nesse sentido, Coreia do Norte e Coreia do Sul continuam tecnicamente em conflito.
Tal como já tinha feito no passado, o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, aproveitou a participação na 76.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para propor a todas as partes envolvidas no conflito que colaborem para a ratificação de uma declaração formal que ponha um ponto final à Guerra da Coreia.
“Apelo, uma vez mais, à comunidade de nações que mobilize as suas forças para a declaração do fim da guerra na península coreana. Proponho que três partes – as duas Coreias e os EUA –, ou quatro partes – as duas Coreias, os EUA e a China –, se juntem e que declarem que a guerra na península coreana acabou”, pediu o chefe de Estado da Coreia do Sul no seu discurso em Nova Iorque, na terça-feira, citado pela Reuters.
Filho de refugiados da Coreia do Norte, Moon dedicou grande parte do seu mandato a investir na normalização das relações entre os dois países. Anunciou mesmo uma “nova era de paz” quando, pela primeira vez, se encontrou pessoalmente com Kim Jong-un na zona desmilitarizada, em 2018.
Mas numa altura em que lhe restam poucos meses no cargo – as eleições presidenciais estão agendadas para Março do próximo ano e o político liberal não se poderá recandidatar – Moon Jae-in tem procurado acelerar os contactos com Pyongyang, para poder sair de cena com algo mais do que uma série de momentos simbólicos.