Campanha em balanço: a arma poderosa do PS e as trincheiras da oposição
Ao penúltimo dia de campanha eleitoral autárquica, já se faz o balanço e é possível perceber as expectativas de cada um dos partidos com assento parlamentar.
O secretário-geral do PS, António Costa, percorreu o país durante a campanha eleitoral para as autárquicas prometendo usar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o país ir “mais além”. Um argumento contestado por toda a oposição, que o criticou por estar a misturar as funções de secretário-geral do PS e de primeiro-ministro. O balanço da campanha eleitoral, partido a partido, foi feito pela Lusa.
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O secretário-geral do PS, António Costa, percorreu o país durante a campanha eleitoral para as autárquicas prometendo usar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o país ir “mais além”. Um argumento contestado por toda a oposição, que o criticou por estar a misturar as funções de secretário-geral do PS e de primeiro-ministro. O balanço da campanha eleitoral, partido a partido, foi feito pela Lusa.
PS: Bazuca, pós-pandemia e descentralização
Numa campanha quase exclusivamente composta por comícios e com poucos contactos com a população, António Costa viajou de Norte a Sul de Portugal, incluindo as ilhas, e “pintou” um país que está a “poucas semanas, senão poucos dias”, de ter a pandemia “controlada” e que precisa de começar a “olhar para o futuro”, com a “compreensão de que o futuro começa já hoje”.
Com o slogan "Garantir o Futuro no Caminho Certo”, António Costa muniu-se do PRR para prometer um país “mais próspero”, “mais dinâmico” e “mais moderno” até 2026, que terá nas autarquias, devido ao pacote de descentralização que entrará em vigor em Abril de 2022, um parceiro “absolutamente central”. “As próximas eleições não são mais umas eleições porque são as eleições onde vamos eleger as câmaras com poderes que as câmaras nunca tiveram até agora”, frisou em Aveiro, no primeiro dia de campanha.
Com duras críticas à oposição, António Costa acusou-a de “absoluta impreparação” e garantiu que, apesar de o PRR ser um “plano do país”, não é “indiferente” quem ganha as eleições do próximo dia 26. “Para que este plano tenha sucesso, nós não podemos ter os municípios entregues a quem todos os dias aparece na televisão a combater o PRR, temos que ter os municípios entregues a quem quer arregaçar as mangas e pôr rapidamente no terreno, e em execução, o PRR”, salientou António Costa em Braga, um município liderado pelo PSD e CDS desde 2013.
Durante a campanha, António Costa demarcou-se do Governo que o precedeu, liderado por Pedro Passos Coelho, que acusou de, “durante anos”, ter andado a “fazer campanha contra o Serviço Nacional de Saúde”, a “convencer a Europa de que Portugal tinha estradas a mais” e a pedir a Bruxelas que “impusesse sanções ao país” quando o seu Governo assumiu funções.
Em contraponto, o secretário-geral do PS apresentou-se como o principal responsável por se ter “virado a página da austeridade”, afirmou que travou uma “batalha muito dura” em Bruxelas para conseguir desfazer a imagem do país que tinha sido construída pelo seu predecessor, e apelou a que os eleitores continuem a “escolher o caminho certo”.
Consoante as prioridades dos concelhos onde discursava, António Costa foi prometendo verbas para áreas estratégicas do país - até 11.230 milhões para as empresas, 2.750 milhões para a habitação, mil milhões de euros para os municípios - e obras e infra-estruturas que serão financiadas através do PRR, como, por exemplo, uma nova maternidade em Coimbra ou a construção do nó de Rans do IC-35, em Penafiel.
Em Matosinhos, António Costa “aqueceu” a campanha e foi mais além: criticou o encerramento da refinaria local pela Galp e prometeu uma “lição exemplar” à empresa. “Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos”, apontou.
Numa altura em que se aproxima uma “libertação com cautela”, o secretário-geral do PS apelou a que os portugueses continuem a testemunhar a “excepcionalidade” que demonstraram durante a pandemia também em “tempos normais” e comprometeu-se a “utilizar bem, com transparência, rigor, sem a menor suspeita de corrupção” as verbas europeias.
“É todos juntos que nós conseguiremos efectivamente virar a página desta crise e, sobretudo, cumprir o dever que temos para com as próximas gerações: fazer deste país um país mais próspero, mais feliz, com mais e melhores condições de vida para todos e todas os que querem desenvolver o seu futuro aqui em Portugal”, frisou.
PSD: Baixar as expectativas e fazer oposição
A campanha do presidente do PSD centrou-se nos ataques a António Costa, para quem pediu “um castigo” eleitoral pelas promessas “de rajada”, mas a incerteza sobre o futuro político de Rui Rio “pairou” como tema de fundo.
Uma constante no discurso do presidente do PSD foram os ataques a António Costa, que acusou de confundir os papéis de primeiro-ministro e de secretário-geral, e de distribuir “sem critério” em cada concelho que parou “os milhões” do PRR. Rio até “transformou” a bazuca - que dispara tiro a tiro - numa metralhadora que distribui as promessas de rajada, e apelou a que os eleitores “castiguem esta forma de fazer política” e dêem um “aviso à navegação”, ao Governo e ao PS nas autárquicas de domingo.
Sem jantares comício e com poucos discursos do púlpito ou do carro-palco da caravana, a campanha decorreu num ritmo pouco intenso. A falta de pessoas nas ruas do Interior deu o mote para Rio começar a campanha com críticas aos atrasos na descentralização - “o PS não quer mudar nada” - e para introduzir o primeiro grande tema do seu discurso: o projecto-lei do PSD para transferir o Tribunal Constitucional de Lisboa para Coimbra, que acabou por ser aprovado na generalidade, mas com dúvidas se terá consequências na versão final.
A meio da campanha, o líder do PSD introduziu o tema de apoios sociais como o subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção - apelando a uma fiscalização “mais exigente” para que não sejam dados “a quem não quer trabalhar” -, mas recusou que este discurso pudesse ser comparado ao do Chega.
Nos últimos dias, Rio foi aproveitando temas da actualidade, como as palavras de Costa sobre a refinaria da Galp em Matosinhos ou a notícia de que o Governo se prepara para negociar com BE e PCP o englobamento obrigatório de rendimentos do IRS, para continuar nas críticas ao Governo.
Mas, durante toda a campanha, o tema da liderança do PSD esteve sempre omnipresente e Rio foi sendo questionado pelos jornalistas quer sobre o seu futuro, quer sobre os potenciais adversários internos. Se sobre outros candidatos disse pouco - apenas reforçou um apelo da Comissão Permanente para que não se aproveitasse a campanha para “guerras internas” ou “projecções pessoais” - foi dizendo mais sobre como pretende analisar os resultados autárquicos no próximo domingo.
“Só tenho uma meta na minha cabeça naquilo que me possa fazer não ficar. É fazer igual ou pior ou muito pouquinho melhor”, afirmou, em entrevista à Rádio Renascença, clarificando que não irá demitir-se em qualquer caso, mas analisar se tem ou não condições para se recandidatar às eleições directas previstas para Janeiro.
Na terça-feira, ainda sem abrir o jogo, Rio desdramatizou essa análise, dizendo que no domingo não haverá “nenhum terramoto” no PSD, mas admitindo que não gosta “de desiludir” quem lhe vai pedindo para ficar, quer nas ruas durante a campanha, quer em mails e SMS que diz receber. “Assumi e continuo a assumir até ao último dia que fiz o melhor que sei e posso”, disse.
Para a recta final da campanha, Rio guardou uma presença ao lado do candidato a Lisboa, Carlos Moedas, num almoço em que disse ter um feeling de vitória na capital, depois de ter estado uma manhã e uma tarde com Vladimiro Feliz, que foi seu vice-presidente quando liderou a Câmara do Porto, e agora se candidata contra Rui Moreira.
O encerramento de campanha de Rio é tudo menos tradicional, com o presidente do PSD a passar os últimos dois dias nos Açores, em São Miguel.
Se as contas se fazem no domingo, e na caravana se fala em três ou quatro dezenas de câmaras que tanto podem cair para o PSD como para o PS ou independentes, o objectivo foi sempre claro ao longo da campanha: encurtar a distância de 63 câmaras que separa os sociais-democratas e socialistas desde 2017, o pior resultado do partido em autárquicas e que ditou a saída do anterior líder, Pedro Passos Coelho.
BE: “Muita humildade e muita determinação"
Para mudar a “política velha” autárquica e contra maiorias absolutas socialistas, Catarina Martins fez campanha para provar que o BE pode assumir responsabilidades, mas com humildade nos objectivos eleitorais e a esperança de entrar em executivos pela primeira vez. As eleições autárquicas são, tradicionalmente, as mais desafiantes para o BE, com pouca implementação em câmaras - actualmente com 12 vereadores em 11 concelhos - e apenas com uma presidência de um município, Salvaterra de Magos, nas mais de duas décadas de história do partido.
Catarina Martins chegou a esta campanha para transmitir a mensagem que o “Bloco de Esquerda já provou que muda a política autárquica” e, por isso, quer ter “mais força” nas eleições de domingo. “Muita humildade e muita determinação” é a resposta pronta quando se pede à líder do BE que estabeleça uma meta para a noite eleitoral.
Ao longo da campanha, o BE fixou o objectivo de manter, entre outros, um lugar na vereação em Lisboa ou em Almada e de conseguir a estreia no Porto, onde aliás termina a volta ao país que conta já com mais de três mil quilómetros percorridos em período oficial.
As conquistas e mudanças “para a vida concreta das pessoas” que reclama terem sido conseguidas em Lisboa - resultado do pelouro que o BE assumiu por acordo pós-eleitoral com Fernando Medina em 2017 - foram usadas, diversas vezes, como exemplo daquilo que o partido alcança quando elege vereadores para as câmaras.
Quando a caravana foi para a estrada, já Catarina Martins tinha mostrado disponibilidade para reeditar este acordo com o PS e continuar, assim, a “mudança de paradigma” da cidade, mas foi a meio da campanha, num comício do Largo de São Carlos, no coração da capital, que se ouviu o maior “tiro” às maiorias absolutas socialistas.
“Agora, se nos perguntarem o que queremos fazer nos próximos quatro anos, respondemos que queremos fazer o que ainda não foi feito, porque os últimos quatro anos mostraram que é onde acaba a maioria absoluta do PS que começa a mudança na cidade da Lisboa”, avisou então.
Já em 2017, o BE tinha travado esta batalha contra o poder maioritário dos socialistas - um objectivo cujo falhanço foi admitido na noite eleitoral -, mas em vésperas de nova cruzada negocial sobre o próximo Orçamento do Estado, esta aposta ganha especial relevo.
Apesar desta proximidade orçamental, Catarina Martins quis deixar este tema sempre mais ao longe e apenas foi respondendo aos jornalistas sobre a falta de vontade do PS em negociar questões concretas ou os avisos para a intenção do BE discutir orçamento e legislação laboral em paralelo.
Catarina Martins ficou sempre mais livre nos seus discursos para as propostas para acabar com a “política velha” das autarquias e a promessa de uma política nova pela mão do BE com transportes, habitação e alterações climáticas no centro, bem como os apelos ao voto.
Algumas das críticas mais ferozes ficaram para “pesos pesados” como Luís Fazenda, José Manuel Pureza e Fernando Rosas, este último que até rebaptizou o PS como “partido da bazuca”, uma crítica reiterada pelo BE ao primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, por usar o Programa de Recuperação e Resiliência como arma eleitoral autárquica.
A lógica de campanha seguiu o desenho habitual do BE: a primeira semana mais dedicada a visitas para debater temas concretos e apresentar propostas para as autarquias, enquanto na derradeira semana voltaram as arruadas, os mercados e as feiras. No contacto com a população, Catarina Martins mantém recepções calorosas e reconhecimento popular - até os abraços voltaram depois do interregno pandémico - e houve mesmo desejos expressos de quem espera que “vá para o Governo”.
A questão é que estas eleições são autárquicas e não legislativas, partindo o BE com um desempenho modesto nas últimas eleições que agora tenta defender - apesar de concorrer a menos 12 câmaras do que em 2017 - e depois de umas presidenciais com um mau resultado e o voto contra no último orçamento.
CDU: Defender os “bastiões” e recuperar a jóia da coroa
A campanha autárquica da CDU esteve centrada nos “bastiões” comunistas e nos municípios onde o PCP aposta em reconquistar câmaras perdidas para o PS em 2017, numa jornada marcada por constantes críticas ao PS e ao Governo.
Há quatro anos, a CDU perdeu nove câmaras para o PS. Resistiram 24 municípios, entre eles nove bastiões: Avis (Portalegre), Montemor-o-Novo, Mora e Arraiolos (Évora), Serpa (Beja), Santiago do Cacém, Palmela, Seixal e Moita (Setúbal). A principal aposta foi na manutenção destes concelhos na esfera da CDU e foi nos bastiões que Jerónimo de Sousa desferiu as críticas mais duras contra o PS, o Governo socialista e o primeiro-ministro, António Costa.
A CDU começou o período oficial de campanha em Moura, antigo bastião, perdido em 2017 para o PS e que a coligação pretende recuperar, este ano com um adversário complementar em André Ventura, presidente do Chega e candidato à assembleia municipal.
No entanto, o dirigente comunista não desviou as atenções do adversário principal e criticou a utilização do PRR como “uma cenoura” para ludibriar os eleitores e transferir competências que são da responsabilidade do Estado.
O PRR foi tópico recorrente durante a campanha e no bastião de Santiago do Cacém o secretário-geral chegou a exigir ao primeiro-ministro decoro na utilização dos fundos comunitários como propaganda eleitoral.
Neste município que é presidido pela CDU desde 1976, o membro do Comité Central comunista também fez pairar uma suspeita sobre candidatos do PS que desempenham cargos públicos e que poderão estar a utilizar a “bazuca europeia” para fazer promessas ao eleitorado.
O diagrama da campanha autárquica foi quase sempre o mesmo. Não houve arruadas e o contacto com a população foi reduzido. Jerónimo apareceu nas sessões públicas e comícios e discursou sempre depois do candidato ao município em questão, ou como descreveu Gertrudes Pardão, mandatária da candidatura a Benavente, o secretário-geral foi a “cerejinha em cima do bolo”.
Quando estava a “jogar em casa”, como aconteceu, em Benavente (Santarém), Moita (Setúbal) ou Mora (Évora), Jerónimo enalteceu a obra da CDU e a falta de programa dos adversários para a substituir. Por isso, só pediu a continuidade daquilo que, na opinião do dirigente do PCP, vai no bom caminho e só não está melhor por culpa do Governo.
Já nos municípios presididos pelos socialistas, o dirigente comunista “carregou sobre o PS” a partir de freguesias onde a CDU resiste, como, por exemplo, Carnide (concelho de Lisboa) ou Vialonga (Vila Franca de Xira), e apontou o caminho para a convergência entre o PCP e o PS.
O primeiro-ministro, sustentou Jerónimo, não pode “carpir mágoas” pelos trabalhadores abrangidos por despedimentos colectivos, enquanto o Governo “não toca” no “bife do lombo dos interesses do capital”. Por isso, se o executivo “passar das palavras aos actos” talvez seja possível “emendar a mão”.
A excepção à regra foi Almada, uma das “jóias da coroa” da CDU que foi conquistada em 2017 pelo PS e onde a coligação apostou Maria das Dores Meira, autarca de Setúbal, para fazer frente a Inês de Medeiros. Aqui os papéis inverteram-se e foi a candidata a criticar António Costa por trazer “às costas o saco do dinheiro a que chamaram “bazuca europeia” e que vai esmolando por onde passa no apoio aos seus candidatos”.
A campanha esteve maioritariamente concentrada no distrito de Setúbal e no Alentejo, onde a presença da CDU é mais forte e onde a disputa é com o PS pela presidência dos municípios.
No Norte os objectivos são menores: recuperar (Guimarães) ou preservar (Porto) vereadores, por isso, bastou reservar um dia da campanha. A passagem por Viana do Castelo, Braga, Porto, Gondomar e Guimarães foi “tão bonita” que Jerónimo ficou rouco, mas considerou que “valeu a pena”.
A batalha nestas autárquicas era com o PS e a promessa foi cumprida. Mas vencer a guerra só “reforçando a CDU”, disse Jerónimo de Sousa, “milho a milho”, porque cada voto conta. “Há um bom ambiente em torno da CDU, confirmei isso andando por este país fora, mas só os bons ambientes não chegam para ganhar eleições”, sustentou.
CDS-PP: Um mês na estrada para segurar o partido
As arruadas preencheram a agenda do líder do CDS-PP, que estabeleceu como meta eleger mais autarcas e melhorar o resultado de há quatro anos, numa campanha autárquica em que foi três vezes a Oliveira do Hospital, onde é candidato.
Francisco Rodrigues dos Santos arrancou a volta pelo país no final de Agosto, um mês antes das eleições autárquicas. A campanha oficial começou nos Açores, num dos municípios que o CDS lidera, Velas, onde esteve dois dias, e deslocou-se mais dois à Madeira, para ir a outro dos concelhos centristas, Santana.
Das seis câmaras municipais governadas pelos democratas-cristãos, quatro das quais no continente e três delas no distrito Aveiro, o presidente do CDS deslocou-se também a Vale de Cambra, não tendo marcado presença em Albergaria-a-Velha, Oliveira do Bairro e Ponte de Lima durante as duas semanas que antecederam a eleição de domingo.
E esteve perto de São João da Madeira, onde o deputado e seu opositor no último congresso, João Almeida, é candidato à presidência da câmara. No entanto, este não foi um dos municípios contemplados com a presença do líder e Francisco Rodrigues dos Santos indicou nem ter sido convidado a lá ir.
Quanto às iniciativas para as quais os jornalistas são convocados - uma vez que cumpre outra agenda sem comunicação social - foram maioritariamente arruadas, num só dia foram cinco, mas com pouca adesão. Rodrigues dos Santos justificou esta escolha com o seu estilo, lembrando que quando foi eleito disse que faria das ruas o seu escritório e que gosta “de estar em contacto com os portugueses” e “falar olhos nos olhos com eles”.
“Cada caso é um caso, cada terra é uma terra, e estamos num período excepcional, como toda a gente compreenderá, que é a covid. [...] Mas o que realmente decide o sucesso das candidaturas não é o número de pessoas que nos acompanha nas ruas, são os votos que temos em urnas”, defendeu no final da primeira semana de campanha.
Nos contactos com as pessoas com que se deparava, o líder ia entregando canetas e pedindo “força” para o partido crescer em número de votos e de autarcas no domingo.
O presidente do CDS-PP disse mesmo ter “a certeza absoluta” de que o partido vai crescer nas autárquicas e recusou colocar “outros cenários” em cima da mesa, mas apontou que vai fazer “uma ponderação” quanto à sua liderança caso isso não aconteça.
Apesar de mais de metade das candidaturas serem em coligação, e maioritariamente com o PSD, os líderes dos dois partidos só se encontraram uma vez no período oficial de campanha, para um almoço na quarta-feira em Lisboa, ao lado do candidato Carlos Moedas. Já esta quinta-feira está com o presidente da Câmara do Porto, e recandidato, Rui Moreira, para uma visita a um centro de saúde.
Francisco Rodrigues dos Santos é cabeça de lista à Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital, e por isso fez questão de se deslocar lá três vezes, a primeira das quais para uma arruada na freguesia de Nogueira do Cravo, terra natal dos seus avós e dos seus pais. E é precisamente nesse município do distrito de Coimbra que vai encerrar a campanha do líder do CDS, com um comício na sexta-feira.
A componente familiar do presidente do partido entrou também na campanha, tendo feito campanha com a sogra, Rosa Guerra, que é candidata à Câmara do Bombarral, e ao lado do pai e do avô, que o esperaram em Oliveira do Hospital.
Nesta campanha entraram também, mas longe do líder, o antigo presidente Paulo Portas e o eurodeputado Nuno Melo, que pode desafiar a liderança.
Durante as declarações aos jornalistas, o líder do CDS comentou também assuntos nacionais, muitas vezes com críticas ao PS, tendo sido também questionado sobre assuntos internos do partido, nomeadamente a sua continuidade na liderança.
PAN: Combater estigmas e recusar “mais do mesmo"
Entre críticas a António Costa pelo uso da “bazuca” europeia como “bandeira eleitoral”, a campanha autárquica do PAN procurou convencer os eleitores a não votar “mais do mesmo”, insistindo nas causas ambientais, da protecção social e animal.
Inês Sousa Real estreou-se na volta autárquica como porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza - depois de ter sido eleita pelo partido em Junho - e arrancou a “caravana” na capital do país, onde confessou estar com “boas perspectivas” de conquistar pela primeira vez vereadores em concelhos como Aveiro, Cascais, Porto, Lisboa e Almada.
Com o “pontapé” de saída dado, o grosso da campanha do PAN consistiu em acções junto da população ou visitas a instituições ou associações ligadas a causas ambientais e aos direitos dos animais mas também sociais, humanitárias ou de saúde.
Um dos momentos mais tensos do percurso da líder do PAN foi no Montijo, em Setúbal, concelho com tradição taurina, onde Inês Sousa Real foi recebida com assobios por dezenas de aficionados, mas a porta-voz reafirmou a convicção de que o bem-estar animal é incompatível com a continuidade das touradas.
Houve também espaço para jantares de campanha e acções como limpezas de praia, visitas a canis municipais, ou passeios de barco pelo rio Tejo - a faltar ficou mesmo só o “surf”, com a escassez de ondas a obrigar a uma mudança de planos.
A mobilidade suave como preocupação ambiental foi um dos temas da campanha, sobre o qual Inês Sousa Real chegou a sugerir, nas arribas do Caminho da Aguda, a criação de uma ciclovia que ligue Sintra a Lisboa e seja “uma alternativa” à frequentemente congestionada via rápida IC19.
Apelando a que os autarcas pensem em “alternativas que permitam conjugar as diferentes formas de mobilidade”, Inês Sousa Real lembrou que haverá financiamento para tal no quadro do Plano de Recuperação e Resiliência e comprometeu-se a apresentar “soluções para que o PRR seja bem aproveitado em prol das necessidades da população e do combate a alterações climáticas”.
O PRR foi entrando aos poucos na campanha do PAN e em Oeiras, a 17 de Setembro, Inês Sousa Real deixa o primeiro alerta: este plano não pode ser “arma política para capturar ou ganhar autarquias”, recomendando ao Governo que mantenha “cuidado e equidistância” em relação àquele instrumento durante a campanha eleitoral.
Quanto às declarações de António Costa sobre a Galp, que prometeu uma “lição exemplar” à empresa, outro dos temas “quentes” da campanha, Inês Sousa Real apontou que o encerramento da refinaria em Matosinhos deve salvaguardar as questões laborais e ambientais.
Em Santarém, Inês Sousa Real deixou o repto de que “votar útil não é votar mais do mesmo”, lamentando discursos populistas que não contribuem para “combater a grave crise socioeconómica que o país está a atravessar”.
Entre as preocupações demonstradas pela líder estiveram também temas como a erradicação de habitações precárias para “combater estigmas”, o acolhimento dos refugiados, a criação de mais espaços verdes, a saúde materna ou até o desmantelamento de centros de vacinação contra a covid-19, algo que considerou “imprudente”.
Há quatro anos, o PAN conseguiu representação em mais de duas dezenas de concelhos, tendo conseguido eleger 27 deputados municipais e seis em assembleias de freguesia.
IL e Chega, a estreia autárquica
Os líderes da Iniciativa Liberal (IL) e do Chega estrearam-se em campanha autárquica em iniciativas como “arruadas” e comícios, elegendo o Governo e o PS como alvo preferencial das críticas.
A concorrer pela primeira vez numas eleições autárquicas, os dois partidos que há dois anos elegeram os primeiros deputados para a Assembleia da República fizeram a sua estreia com candidaturas próprias: os liberais em 43 municípios, além de outros sete em coligação, e o Chega, mais ambicioso, em 220.
A campanha do líder liberal, João Cotrim Figueiredo, arrancou em Vila Nova de Gaia, mas à distância e, como nos últimos dois anos de pandemia, por videoconferência. Foi aí que a Iniciativa Liberal se apresentou às eleições autárquicas como “a alternativa ao poder socialista”.
O tom do seu discurso de campanha também estava definido e onde quer que parasse, à medida que ia subindo o país, de Lisboa a Matosinhos, trazia na bagagem as críticas ao Governo e ao PS.
Fosse pela gestão da pandemia da covid-19 e o desconfinamento tardio, a participação de ministros em campanha às autárquicas, ou o uso da “bazuca” europeia nos discursos do secretário-geral do PS, António Costa, não faltaram motivos ao presidente da IL.
A participar pela primeira vez numas autárquicas, Cotrim de Figueiredo procurou passar a mensagem de que um “voto útil” é a opção pelo liberalismo e defendeu que são os seus candidatos quem fará a melhor oposição.
Já o presidente do Chega, que se apresenta também à corrida para a Assembleia Municipal de Moura, tem expectativas mais altas e, para André Ventura, o objectivo é que, no domingo, o partido seja a terceira força política.
O líder do Chega centrou muitas vezes a sua campanha no actual executivo e questões como o Programa de Recuperação e Resiliência e os ministros em campanha também motivaram críticas da extrema-direita, bem como as declarações recentes de António Costa sobre o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos.
No entanto, André Ventura não visou só os socialistas e, ao longo da semana, o PSD também foi criticado em mais do que uma ocasião, com a acusação de que os sociais-democratas estão iguais ao PS. Recusa, por isso, de acordos “com este PSD”.
Desde o início do período de campanha oficial, que termina na sexta-feira, os presidentes da Iniciativa Liberal e do Chega já passaram por várias zonas do país, com Cotrim de Figueiredo a concentrar as suas iniciativas sobretudo nos distritos de Lisboa e do Porto.
André Ventura, que não saiu do modelo habitual das “arruadas” e comícios, dividiu o seu tempo entre o Norte, por um lado, e o Algarve e Alentejo por outro, onde esteve nos últimos quatro dias.