Votar em caras ou em ideias?
Importante será que cada um procure ir mais além que a superfície, procure conhecer um pouco melhor as propostas e os programas em cima da mesa, o que de facto estes “rostos” defendem, e não só.
A campanha eleitoral para as próximas eleições autárquicas encontra-se na recta final. Se para uns já é claro em quem vão votar, para outros, talvez ainda “muito verdes” no acto de votar ou simplesmente indecisos, a escolha não se apresenta assim tão clara. No entanto, mais ou menos convictos, é interessante colocar a seguinte questão a nós próprios: Será que votamos em programas eleitorais, ideias e propostas? Ou em pessoas, caras, personalidades que “seduzem” a nossa intenção de voto?
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A campanha eleitoral para as próximas eleições autárquicas encontra-se na recta final. Se para uns já é claro em quem vão votar, para outros, talvez ainda “muito verdes” no acto de votar ou simplesmente indecisos, a escolha não se apresenta assim tão clara. No entanto, mais ou menos convictos, é interessante colocar a seguinte questão a nós próprios: Será que votamos em programas eleitorais, ideias e propostas? Ou em pessoas, caras, personalidades que “seduzem” a nossa intenção de voto?
O tema surgiu de uma conversa entre mim — recentemente maior de idade, um desses “muitíssimo verdes no acto de votar” —, e um amigo não tão “verde”. Falámos exactamente das eleições, e eu, talvez na minha ingenuidade, defendi que um voto responsável e consciente deveria partir, principalmente, da análise de propostas e ideias, não da empatia com a cara que aparecesse nos cartazes. Se para o poder legislativo esta análise tem de ter um peso muito significativo no voto de cada um, para o poder local, as autarquias, a “coisa” já muda de figura, como defendia o meu amigo.
É necessário, antes de mais, ter em conta alguns aspectos importantes em relação ao que influencia a decisão dos eleitores. Segundo estudos efectuados em 1940, nos EUA, pelo sociólogo norte-americano Paul Lazarsfeld, o grupo social a que um cidadão pertence afecta directamente o seu comportamento eleitoral. Lazarsfeld chegou à conclusão de que zona de residência, religião e estatuto socioeconómico bastam para enquadrar uma pessoa num dado grupo social e consequentemente explicar a escolha feita pela mesma em dia de eleições. Outro aspecto a salientar do estudo do sociólogo norte-americano é o facto de as campanhas eleitorais não virem, normalmente, mudar as ideias ao eleitor, pelo contrário, acabam por, quase sempre, reforçar a sua predisposição política, a sua escolha prévia. Além disso, ao longo da campanha, os eleitores vão aproximando a sua escolha daquilo que é o candidato consensual entre o seu grupo social, havendo aqui uma clara demonstração de sentido de pertença e desejo de aceitação.
A campanha eleitoral não deixa de ser uma campanha de marketing e, curiosamente, aquilo que mais figura em cartazes, sites e perfis de redes sociais, não são ideias e propostas, mas, sim, aquilo que mais apela ao subconsciente, o rosto do candidato, slogans, frases marcantes e fortes, até palavras de ordem. São estes os elementos que cativam as pessoas à primeira vista. Embora haja muita gente que procure ler os programas eleitorais e as suas propostas, a ênfase, em especial nas eleições autárquicas, está no perfil do candidato, a sua personalidade, o carácter (ou a falta dele), a proximidade e relação que tem com a população, a capacidade que este tem de (por meios lícitos ou menos lícitos) dinamizar e trazer progresso ao local a que se candidata, pondo-se muitas vezes cores partidárias de lado. Aqui é novamente importante recordar, e isto especialmente em meios mais rurais, a importância que a opinião geral, a opinião mais consensual dentro da comunidade, tem no comportamento eleitoral.
De qualquer modo, esta questão, votar em caras ou em ideias, revela-se de grande importância, em especial no tempo em que vivemos, no qual a desinformação, as fake news, os grupos radicais e figuras populistas, cada vez mais fazem parte do nosso quotidiano.
É natural que procuremos líderes, personalidades fortes, carácter e que se queira ouvir frases marcantes e palavras de ordem. No entanto, é também muito importante que agora nestas autárquicas e nas eleições vindouras não nos foquemos apenas nisso. Importante será que cada um procure ir mais além que a superfície, procure conhecer um pouco melhor as propostas e os programas em cima da mesa, o que de facto estes “rostos” defendem, e não só, também as propostas que os candidatos em questão realmente levaram por diante no passado. Tudo isto de forma a que o voto seja mais consciente e informado. Por meu lado, vou também tentar não cair na tentação de caras e palavras chamativas, procurando não me amarrar à minha predisposição política, e assim levarei por diante esta minha “campanha” por um voto mais informado e consciente. Veremos se serei bem-sucedido…