Para ajudar a única escola de cães-guia no país, Bárbara vai pedalar às escuras
O objectivo da campanha de crowfunding Pedalar com Sentido é angariar 6500 euros para a Escola de Cães-Guia para Cegos, em Mortágua. Bárbara Pereira, que cegou há quatro anos, vai pedalar numa bicicleta tandem com o marido Ricardo, rumo a Santiago de Compostela.
Pedalar com Sentido é o nome da campanha de crowfunding de Bárbara Pereira pela qual, juntamente com o marido Ricardo, vai percorrer o Caminho Português da Costa, numa bicicleta tandem. O objectivo é angariar 6500 euros em donativos, destinados à única Escola de Cães-Guia para Cegos no país, localizada em Mortágua.
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Pedalar com Sentido é o nome da campanha de crowfunding de Bárbara Pereira pela qual, juntamente com o marido Ricardo, vai percorrer o Caminho Português da Costa, numa bicicleta tandem. O objectivo é angariar 6500 euros em donativos, destinados à única Escola de Cães-Guia para Cegos no país, localizada em Mortágua.
Bárbara Pereira é uma administrativa natural da Maia com 40 anos que ficou completamente cega há cerca de quatro anos. Sabendo que só existe uma escola de treino para cães-guia em todo o país que, independentemente dos custos, entrega os cães de forma gratuita, a administrativa decidiu criar uma campanha de angariação de fundos, onde as suas pedaladas revertem para esta escola.
A própria Bárbara está em lista de espera para ter um cão-guia há três anos e meio – tempo médio que o processo demora. Numa tentativa de marcar a diferença, a ideia surgiu em Maio: “Metade do orçamento anual da escola advém de donativos e a outra metade é assegurada pela segurança social e, como cega, achei que devia ajudar”, explica ao PÚBLICO.
Segundo a mentora da campanha, o valor estimado para a educação de um cão-guia é de 18 mil euros. Com receio de não atingir este valor, decidiu colocar a sua meta em 6500 euros – valor que assegura um ano de educação de um cão-guia na escola. “Apesar de só haver uma escola em Portugal e ser tão caro, faz uma diferença enorme na vida das pessoas”, diz.
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A escolha do Caminho Português da Costa prendeu-se com o facto de “parecer ser o percurso mais fácil, com menos subidas do que os outros caminhos de Santiago de Compostela”, menciona a administrativa. Quanto ao meio, Bárbara optou pela bicicleta tandem porque assim o marido pode ir na frente e guiar o trajecto, mas faz questão de salientar que “as pessoas pensam que só quem vai à frente é que pedala, mas quem vai atrás também tem que dar à perna”.
O arranque para Santiago de Compostela vai acontecer a 13 de Outubro, às 7h, e Bárbara prevê que o percurso dure cinco dias, dependendo de como a pedalada com o marido correr. “Queremos chegar lá bem, aprender sobre a história da peregrinação e conhecer as localidades pelas quais vamos passar”, conta.
Até ao dia 22 de Setembro, a página da campanha Pedalar com Sentido já contava com mais de mil euros em donativos (1117 euros) e tinha um total de 49 apoiantes. O crowfunding está disponível até 28 de Outubro e “quem quiser dá o que puder”, apela Bárbara.
Há vários métodos de pagamento para fazer as contribuições e aqueles que doem 10 ou 25 euros têm direito a recompensas: o primeiro valor traz de oferta um voucher para o arraial comemorativo do dia do cão-guia, realizado na escola de Mortágua; o segundo montante oferece aos apoiantes uma t-shirt da Escola de Cães-Guia para Cegos. Para além disto, Bárbara está ainda a contactar empresas que, através da lei do mecenato, também possam contribuir com donativos.
Bárbara nasceu com miopia e estigmatismo e fez a sua vida normal até aos 24 anos. Em 2004 teve o seu primeiro descolamento de retina, no olho esquerdo. Pouco depois, foi operada para colar a retina e teve a sua visão de volta neste olho. Ainda assim, o procedimento pouco durou e a retina voltou a descolar, o que fez com que Bárbara perdesse a visão no olho esquerdo.
Até 2017, Bárbara viveu o seu dia-a-dia apenas com a visão do olho direito, mas um dia começou “a ver flashes” – um sintoma comum daqueles que sofrem desta patologia. Foi operada ao segundo olho, mas a retina nunca permaneceu colada, resultando numa perda total de visão. “Foi das noites mais complicadas da minha vida porque não me tinha mentalizado nem preparado para esta deficiência”, expõe.
Actualmente, Bárbara está desempregada e a tirar formações em massagens, ao mesmo tempo que aproveita para dar a cara a mais duas iniciativas relacionadas com a sua condição: o podcast Além do Horizonte e o projecto de corrida guiada Sexto Sentido. O primeiro é uma conversa informal que quer quebrar e desmistificar a deficiência visual e o segundo é uma corrida guiada, destinada a pessoas cegas ou com baixa visão.
Texto editado por Ana Fernandes