Prémio Vilalva para reabilitação da Igreja de São José dos Carpinteiros, “um projecto que foi mais subtrair do que adicionar”
Prémio da Gulbenkian na área da requalificação e divulgação do património distinguiu intervenção do Atelier RA Rebelo de Andrade Studio. Menção Honrosa para José Adrião, Arquitectos.
Foi preciso, entre outras coisas, demolir um piso acrescentado no século XX, pôr a descoberto um pátio e criar um jardim noutro, mas a Igreja de São José dos Carpinteiros e o edifício adjacente da Casa dos Vinte e Quatro estão integralmente reabilitados de acordo com um projecto traçado pelo Atelier RA Rebelo de Andrade Studio, que acaba de ser distinguido com o Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva.
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Foi preciso, entre outras coisas, demolir um piso acrescentado no século XX, pôr a descoberto um pátio e criar um jardim noutro, mas a Igreja de São José dos Carpinteiros e o edifício adjacente da Casa dos Vinte e Quatro estão integralmente reabilitados de acordo com um projecto traçado pelo Atelier RA Rebelo de Andrade Studio, que acaba de ser distinguido com o Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva.
“Pela primeira vez na minha vida de arquitecto fiz um projecto que foi mais subtrair do que adicionar”, diz Luís Rebelo de Andrade. “Depois de muito estudarmos a história do edifício, de avaliarmos bem o seu estado de conservação e aquilo que era urgente fazer acabámos por optar por uma estratégia que reduziu muito a área construída do imóvel, mas que o aproximou mais do original [do pós-terramoto]”, explica este arquitecto, feliz com o Prémio Gulbenkian de Património, sobretudo porque ele reconhece o trabalho de uma equipa vasta e com múltiplas valências composta por arquitectos, engenheiros, arqueólogos e conservadores-restauradores de azulejo, talha, escultura e pintura mural.
Foi precisamente a “pluridisciplinaridade e elevado nível de qualificação da equipa” um dos aspectos que o júri do prémio, nesta edição composto por António Lamas (presidente), Raquel Henriques da Silva, Gonçalo Byrne, Santiago Macias e Rui Vieira Nery, destacou na apreciação do projecto do atelier Rebelo de Andrade. A forma como a reabilitação da igreja e da Casa dos Vinte e Quatro foi capaz de devolver o monumento à comunidade – a igreja continua aberta ao culto – e a maneira como escolheu fazê-lo, com uma exposição dedicada ao arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020), que morava no bairro, também mereceram o apreço do júri.
“A igreja estava já muito degradada, mas a comunidade continuava a usá-la. O Gonçalo Ribeiro Telles ia lá à missa e o padre costumava esperá-lo à porta da sacristia e, quando ele e a mulher estavam a chegar, punha o gira-discos a tocar”, conta Luís Rebelo de Andrade, falando do monumento que reabilitou entre 2018 e 2020 como um “património vivo” no centro da cidade de Lisboa.
A igreja, com entrada pela Rua de S. José, e as casas da irmandade, acessíveis a partir da Rua da Fé, continuam a funcionar como um dos centros simbólicos do bairro, acrescenta o arquitecto. “A igreja é historicamente muito relevante, mas também é muito importante para a memória do bairro, das pessoas que ali vivem ou assistem à missa. Dá muito gozo vê-las entrar com prazer naquele espaço, sentir que é outra vez seu e que não foi desvirtuado, mas valorizado.”
A igreja data do século XVII e conserva ainda os arcos da capela-mor e das capelas laterais, embora tenha sido em parte reconstruída pós-terramoto. A intervenção agora premiada, que obrigou a trabalhos arqueológicos mais demorados do que o inicialmente previsto depois de ali se terem descoberto quase 200 ossadas, passou também por trabalhos de conservação e restauro nas pinturas dos tectos (séculos XVIII e XIX), no azulejo (século XVIII) e na talha.
Criado em 2007, no valor de 50 mil euros e com periodicidade anual, o Prémio Vilalva destina-se a projectos na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português, imóvel ou móvel.
Na presente edição a Gulbenkian distinguiu ainda com uma menção honrosa o atelier de José Adrião pela sua intervenção no edifício no gaveto da Rua dos Douradores com a Rua de Santa Justa, outro projecto no centro da cidade de Lisboa.
O júri quis com esta menção honrosa destacar “a coerência e sensibilidade do projecto, destinado a habitação”, e o “trabalho de recuperação (sem restauro) de pinturas a fresco nas paredes”. José Adrião tinha já recebido o Prémio Vilalva em 2012.
A cerimónia de entrega do prémio está marcada para esta terça-feira, 21 de Setembro, às 17h, na Igreja de São José dos Carpinteiros/Casa dos Vinte e Quatro, em Lisboa.