Jamie, o miúdo que queria ser drag queen
Everybody’s Talking About Jamie é o primeiro filme Jonathan Butterell, uma adaptação do musical homónimo do West End desenvolvido e encenado pelo realizador. Estreou-se esta sexta-feira na Amazon Prime Video.
Em 2011, um documentário televisivo da BBC Three, Jamie: Drag Queen at 16 dava a conhecer ao Reino Unido a história de Jamie Campbell, um miúdo de 16 anos de Durham, no nordeste de Inglaterra, que queria ir ao baile de finalistas da sua escola em drag. Jonathan Butterell, encenador e coreógrafo a trabalhar nos palcos londrinos há mais de 25 anos, viu o programa na altura. “Tocou-me o coração”, explica, a falar via Zoom ao PÚBLICO. Juntou-se a Dan Gillespie Sells, que escreveu a música, e a Tom MacRae, que escreveu o libreto e as letras, e desenvolveram o musical Everybody's Talking About Jamie, que passou pelos palcos de Sheffield e do West End londrino e deu um filme.
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Em 2011, um documentário televisivo da BBC Three, Jamie: Drag Queen at 16 dava a conhecer ao Reino Unido a história de Jamie Campbell, um miúdo de 16 anos de Durham, no nordeste de Inglaterra, que queria ir ao baile de finalistas da sua escola em drag. Jonathan Butterell, encenador e coreógrafo a trabalhar nos palcos londrinos há mais de 25 anos, viu o programa na altura. “Tocou-me o coração”, explica, a falar via Zoom ao PÚBLICO. Juntou-se a Dan Gillespie Sells, que escreveu a música, e a Tom MacRae, que escreveu o libreto e as letras, e desenvolveram o musical Everybody's Talking About Jamie, que passou pelos palcos de Sheffield e do West End londrino e deu um filme.
Graças à pandemia, o resultado, rodado há mais de dois anos, estreou-se esta sexta-feira na Amazon Prime Video. No elenco, Max Harwood como protagonista, no seu primeiro papel em cinema, a também estreante Lauren Patel, como a colega de escola e amiga de Jamie que é gozada por ser muçulmana, Sarah Lancashire, como mãe de Jamie, a cómica Sharon Horgan, como sua professora, e o tesouro da representação britânica que é Richard E. Grant, aqui, invariavelmente bem no papel do dono de uma loja de drag mais velho, uma espécie de mentor de Jamie.
É a história familiar e inspiradora inglesa, de alguém que não se integra e consegue levar a sua avante, neste caso, um rapaz que é alvo de bullying na escola e tem o sonho de ser drag queen, contra a vontade do pai, os colegas e a professora. As canções são uma desculpa para imaginar mundos mais fabulosos do que aqueles que tem à sua frente. Harwood, que tinha estudado teatro musical na faculdade, conta que abandonou os estudos para fazer o papel, e que trabalhou com o próprio Jamie Campbell para fazer a personagem. É a primeira vez que tem o papel: não foi ele que foi Jamie nos palcos, nem em Sheffield nem em Londres.
“A viagem começou com o Jamie, que escreveu a documentaristas a dizer que se queria assumir como drag queen no baile de finalistas”, explica Butterell, que, tal como o protagonista, é estreante na realização de filmes. Já desde o início que Butterell tinha transposto a história de Jamie para a cidade de Sheffield onde o próprio cresceu, a ver musicais na televisão aos cinco anos, como Serenata à Chuva e Um Americano em Paris. “É uma comunidade de classe trabalhadora que eu conhecia bem”, diz.
O realizador confessa que, apesar de ter crescido com o cinema, longe dos grandes centros artísticos do seu país, não tencionava fazer um filme, mas foi abordado numa das primeiras apresentações do espectáculo. “Trabalhámos o palco e o filme lado-a-lado quase desde o início. São meios muito diferentes”, conta. “O que o cinema pode fazer é dar-te uma ideia de escala que o teatro não tem. No teatro, a escala está na relação entre o público e o palco e a imaginação do público preenche muitas lacunas. O cinema pode mostrar aquele mundo todo em toda a sua beleza, aproximar-se das caras e da profundeza da alma de alguém”, menciona.
Na cabeça, tinha filmes como Os Dois Indomáveis, de Ken Loach. “É muito diferente, mas passa-se na mesma comunidade. O coração do filme é semelhante, um miúdo a tentar encontrar alegria”, comenta. Ou All That Jazz - O Espectáculo Vai Começar, de Bob Fosse. “É o poder da imaginação, um mundo teatral e uma expansão”, diz. Para “algum do tom e a cor”, pensou também em Os Chapéus-de-Chuva de Cherburgo.