Ghosting: um fantasma mais real do que parece
Se há coisas com as quais lido mal, ao ponto de não conseguir lidar, é com ghosting. Um dia estamos a tentar seduzir, com joguinhos e borboletas por todo o lado, no outro deixamos de nos falar, fingimos que não nos conhecemos quando nos vemos na rua e é como se nada se tivesse passado: puff!
Conhecer alguém, gostar de alguém, relacionar-se com alguém. A necessidade de ligação é uma das mais básicas do ser humano, tão natural como respirar. Começa ainda na barriga da nossa mãe e nunca mais acaba até a vida acabar. Ao longo das nossas vidas temos vários tipos de relações, da família aos amigos, dos amantes aos conhecidos, e todas as outras no meio. Umas mais intensas, outras mais leves, umas mais longas, outras mais curtas, mas sempre com um denominador comum: o desejo de nos conectarmos e sermos aceites pelo outro.
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Conhecer alguém, gostar de alguém, relacionar-se com alguém. A necessidade de ligação é uma das mais básicas do ser humano, tão natural como respirar. Começa ainda na barriga da nossa mãe e nunca mais acaba até a vida acabar. Ao longo das nossas vidas temos vários tipos de relações, da família aos amigos, dos amantes aos conhecidos, e todas as outras no meio. Umas mais intensas, outras mais leves, umas mais longas, outras mais curtas, mas sempre com um denominador comum: o desejo de nos conectarmos e sermos aceites pelo outro.
Como tudo na vida, as relações começam, desenvolvem-se e acabam. Hoje vou falar-vos do momento final, onde geralmente não se vive feliz para sempre, pelo menos não os dois. Ora, se terminar algo dói, dói ainda mais quando não se sabe porque terminou ou, pior ainda, quando um dos elementos simplesmente deixa de comunicar ou responder ao outro.
Falamos do fenómeno cada vez mais comum mas não por isso mais simples de digerir, o ghosting. Ghosting é a prática de terminar uma relação com alguém de repente e sem explicação, simplesmente deixando de responder, seja por mensagem, telefone ou mesmo ignorando presencialmente. Pode ser uma relação amorosa, uma amizade, ou algo meramente físico, como cada vez é mais comum em tempos de romance moderno, onde conhecemos pessoas fora dos nossos ciclos habituais, tornando o corte mais simples mas não necessariamente menos doloroso.
Talvez conheçamos pessoas a mais, talvez nos importemos de menos, não sei. A verdade é que ser rejeitado dói imenso e deixa mazelas que a própria Psicologia estuda, que vão de sabotagem pessoal, a baixa auto-estima, passando por ansiedade social, medo de nos voltarmos a relacionar com os outros, etc.
Se há coisas com as quais lido mal, ao ponto de não conseguir lidar, é com ghosting. Um dia estamos a tentar seduzir, com joguinhos e borboletas por todo o lado, no outro deixamos de nos falar, fingimos que não nos conhecemos quando nos vemos na rua e é como se nada se tivesse passado: puff! É forte, é duro, é feio. De um lado e do outro.
Se vos disser que já fui ghosted, isso faz de mim uma falhada? Se vos disser que já deixei de responder a pessoas, isso faz de mim uma cabra insensível?
Segundo estudos e fofocas, existem diferentes graus de ghosting, mas não necessariamente diferentes graus de dor. No romance moderno, em que as pessoas estão à distância de um swipe mas mais emocionalmente distantes do que nunca, é mais fácil desaparecer ou deixar de responder do que falar e enfrentar o outro, mesmo quando não há nada para enfrentar.
Se pensarmos bem, relações dão trabalho, mesmo as que não queríamos que dessem, como algo casual. A verdade é que não é bem assim porque o ser humano não é bem assim, casual. Pelo contrário. Somos seres complexos cheios de emoções e, pior ainda, pensamos e racionalizamos tudo e nada, criando realidades muito peculiares nas nossas cabeças.
Aparentemente inofensivo, este gesto pouco empático pode doer mais do que parece. Como dissemos em cima, somos feitos para nos relacionarmos com os outros e um corte abrupto, sem razão aparente, é algo com o qual não sabemos lidar, mesmo que consigamos racionalizar.
As reacções ao ghosting vão da tristeza, passando pela raiva e dor, mas podem ir mais longe, criando confusão mental e até pensamentos de culpabilização: “E se eu tivesse feito isto, e se não tivesse dito aquilo”. A verdade é que, por muito que quiséssemos, nós não estamos na cabeça dos outros, pelo que só podemos controlar as nossas acções, não a da alminha fantasmagórica.
Então, como dar a volta? Dando tempo ao tempo e seguindo em frente. A culpa e vergonha podem persistir mas uma coisa é certa:o problema é do ghost, não de quem foi ghosted. E, se a tendência natural será pôr a fortaleza ainda mais forte e não deixar mais ninguém entrar, aí está o duplo erro. Rejeitamo-nos duplamente ao fecharmo-nos ainda mais, ficando mais tristes. E sozinhos.
Por isso, sendo ghosted ou não, foca-te nas pessoas que gostam de ti, que te vêem como és, que te deixam brilhar, e não nas que te fazem sentir pequenino, esconder do mundo e até desaparecer. Não desapareças. Para isso bastam os fantasmas.