O (longo) caminho para nos aproximarmos da Dieta Planetária
A Dieta Mediterrânica tem sido considerada um padrão alimentar saudável e sustentável, com características que são menos ambiciosas comparativamente com a Dieta Planetária.
Nas últimas semanas têm sido diversas as notícias e artigos de opinião relacionados com os dados apresentados no relatório do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) relativamente às alterações climáticas. O mesmo conclui que “em qualquer cenário projectado o planeta deve aquecer 1,5ºC até 2040”.
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Nas últimas semanas têm sido diversas as notícias e artigos de opinião relacionados com os dados apresentados no relatório do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) relativamente às alterações climáticas. O mesmo conclui que “em qualquer cenário projectado o planeta deve aquecer 1,5ºC até 2040”.
Já em 2019, diversos especialistas procuraram chamar a atenção da população para o impacto dos sistemas alimentares no planeta. Reunindo a preocupação de várias entidades internacionais — The World Bank, Centre for Food Policy, International Atomic Energy Agency, WHO, UNICEF, entre outras —, foi criada uma comissão que identificou um problema referido como a Sindemia Global (The Global Syndemic), ou seja uma sinergia de epidemias — obesidade, subnutrição e alterações climáticas, fenómenos que co-ocorrem no tempo e no espaço, interagem uns com os outros para produzirem os seus efeitos e partilham dos mesmos determinantes sociais.
Esta comissão que reúne especialistas em diferentes áreas — saúde, agricultura, ciências políticas, sustentabilidade ambiental, definiu objectivos específicos baseados na evidência científica, com o propósito último de garantir alimentação em qualidade e quantidade para todos, permitido ir de encontro aos objectivos do desenvolvimento sustentável.
Esta comissão manifesta a necessidade de mudar os sistemas alimentares, propondo a Planetary Healthy Diet (Dieta da Saúde Planetária), que implica uma alteração profunda nos hábitos alimentares actuais de grande parte da população. As alterações necessárias têm um impacto profundo no ambiente, em termos de consumo de recursos naturais e emissão de gases com efeito de estufa, mas também repercussões na saúde, diminuindo as doenças associadas à alimentação, nomeadamente obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras.
A tabela abaixo apresenta, para um consumo diário de 2500 kcal, a quantidade recomendada, por esta comissão, dos diversos grupos de alimentos. Com base nos dados de consumo médio actual em Portugal (IAN-AF15/16) acrescentamos a percentagem de variação necessária para cada grupo de alimentos.
A Dieta Mediterrânica tem sido considerada um padrão alimentar saudável e sustentável, com características que são menos ambiciosas comparativamente com a Dieta Planetária. Estando os hábitos alimentares atuais da população portuguesa muito afastados do Padrão Alimentar Mediterrânico, o caminho para nos aproximarmos da Dieta Planetária, passará necessariamente por uma etapa prévia em que será essencial uma maior adesão à Dieta Mediterrânica.
Esta aproximação pressupõe um repensar da forma como encaramos a nossa alimentação, removendo o foco sobre os produtos de origem animal, passando a criar os pratos em torno dos produtos de origem vegetal, em particular os hortícolas, os cereais integrais e as leguminosas. A exemplo dos nossos avós, que, por força da escassez se alimentavam de forma frugal, temos de recuperar esses saberes, recuperando tradições, aproveitando o que a natureza oferece ao longo do ano em abundância (hortícolas, cereais, leguminosas e frutas) e reservando uma atitude mais parca para os produtos de origem animal.
Nas imagens abaixo apresenta-se um exemplo de um prato que representa o consumo actual versus o consumo recomendado, onde ficam evidentes as alterações antes mencionadas, acrescidas de um cálculo aproximado do impacto em termos de emissão de CO2 associado a cada um dos pratos.