Medina e Moore sagram-se campeões mundiais de surf

Emoção, lágrimas, e até um tubarão na final masculina. Mas já lá vamos. Para Gabriel Medina, este foi o 3.º título mundial. Para a havaiana Carissa Moore, foi a 5.ª vez consecutiva que conquistou o troféu. E tudo numa final em estreia.

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Foi um dia histórico em Trestles, na Califórnia. Pela primeira vez na história no campeonato mundial de surf, ficou decidido em apenas um dia quem levava para casa o tão desejado prémio. As WSL Finals, cujo período de espera tinha começado no passado dia 9, decorreram esta quarta-feira. Com um formato totalmente diferente, neste único dia de competição estavam em prova os 5 melhores classificados dos rankings masculino e feminino. A prova começava com uma bateria que colocava frente a frente o 5.º e o 4.º classificado; o vencedor enfrentaria o 3.º; quem vencesse teria pela frente o 2.º e aí sim, na final, à melhor de 3 baterias, a disputa seria com o líder do ranking.

No masculino, foi Filipe Toledo quem chegou à derradeira disputa com Gabriel Medina. E não foi preciso realizar a terceira bateria para que fosse encontrado o campeão mundial, já que Medina venceu as duas primeiras e é assim tricampeão mundial, igualando os feitos de surfistas como Tom Curren, Andy Irons e Mick Fanning.

Habituado a surfar sob pressão, ninguém melhor do que Medina para lidar com um formato como estes. Medina bateu o compatriota Filipinho com uma pontuação de 16,30 pontos (em 20 possíveis) contra 15,70 na primeira bateria, e de 17,53 contra 16,36 no segundo heat, que foi interrompido quando faltavam cerca de 18 minutos para o fim. Já Medina ia na frente, com uma vantagem considerável, quando soam as buzinas e os dois brasileiros são imediatamente recolhidos para o jetski. Havia sido avistado um tubarão e, de acordo com as regras de segurança da WSL, procedeu-se à interrupção da final. A prova acabou por ser retomada minutos depois, e o resultado não mudou mais.

“Este era o meu maior objectivo no surf”, disse Medina. “Não é todos os dias que realizas o teu sonho. Este é um dia especial para mim, é um dia que vou lembrar para sempre e sobre o qual falarei com os meus filhos. Este ano foi muito intenso e desafiador mentalmente, tive que trabalhar muito, ter paciência e deixar o meu surf falar. Tive de surfar muito para ganhar este título!” disse Medina.

Com um total de 16 vitórias no Championship Tour (CT), o brasileiro chegou este ano à final nas três primeiras etapas e ganhou logo uma vantagem significativa sobre os restantes atletas. Desde que ganhou o primeiro título mundial em 2014, Medina terminou sempre nos 5 primeiros lugares do ranking, além do título mundial conquistado em 2018. 

Traçando o resto do dia, no que toca à competição masculina, o “rookie” do ano, Morgan Cibilic foi o primeiro a entrar na água com o 4.º classificado do ranking Conner Coffin. O australiano não levou a melhor e a experiência de Coffin avançaram para a segunda bateria, desta feita contra Filipe Toledo, que sacou da cartola os seus famosos aéreos. Com uma pontuação combinada de 16,57 (em 20 possíveis), Toledo avançou para a terceira bateria, onde enfrentou o também brasileiro, campeão olímpico e campeão da WSL 2019, Ítalo Ferreira. Toledo estava no seu dia, pelo menos até às baterias da final. Bateu Ítalo, mas contra Medina, a história mudou de figura e ainda não foi desta que o surfista de 26 anos de Ubatuba se estreou como campeão mundial.

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No feminino, a também favorita Carissa Moore bateu Tatiana Weston-Webb por 2-1. Foi preciso realizar as três baterias já que depois de a brasileira vencer a primeira bateria por 15,20 pontos contra 14,06, a havaiana deu a volta ao resultado, com 17,26 contra 15,60 na segunda. Na derradeira bateria, Moore levou a melhor: somou 16,60 contra 14,20 pontos.

“Foi um ano longo e um dia muito longo”, disse Moore. “Hoje não começou como eu esperava, tive que lutar mais, então foi um pouco mais saboroso vencer. Estava prestes a ter um colapso após a primeira bateria. Eu dei o meu melhor, surfei com o coração e deu certo. Não poderia pedir mais nada!”, concluiu a atleta medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Um ano de ouro para Moore que vence assim o título pela 5.ª vez consecutiva.

A havaiana terminou em terceiro ou melhor em todos os eventos do CT desde o Margaret River Pro 2019. Este ano marca a décima temporada consecutiva em que Moore venceu mais de 20 baterias, sendo a mais longa sequência na história da WSL.  Com mais títulos do que Moore só mesmo o 11 vezes campeão do mundo Kelly Slater e a ex-surfista Layne Beachley e Stephanie Gilmore, que conquistaram ambas o título por sete vezes.

No feminino, a primeira bateria do dia contou exactamente com Gilmore, que teve pela frente a francesa Johanne Defay, por quem foi derrotada. Na segunda bateria, coube à australiana Sally Fitzgibbons eliminar Defay. Na terceira bateria do dia, entrava então em acção Tatiana Weston-Webb, que levou a melhor contra Fitzgibbons e encontrou assim na final Carissa Moore. Não venceu, mas terminou a temporada como a número 2 do mundo

Chega assim ao fim mais um ano de CT, numa época em que o único surfista português entre a elite do surf, Frederico Morais, terminou em 10.º lugar, o melhor resultado de sempre de um atleta luso.