Este comboio já pára em Arroios
Acabou a ladainha que os passageiros do Metro de Lisboa ouviram durante quatro anos, mais dois e meio do que era suposto. Na estação ainda decorrem acabamentos e a Praça do Chile voltará a ser estaleiro dentro de não muito tempo.
As bifanas da Parreirinha do Chile borbulham nas frigideiras encostadas às janelas e José Cardoso tenta só desviar a atenção por breves instantes. Mas na manhã desta terça-feira não está fácil, tal é o corrupio à sua volta. A estação de metro de Arroios reabriu e todos querem o seu parecer. “Isto afectou muito aqui a área. As pessoas não passavam aqui”, recorda o comerciante instalado na Praça do Chile vai para mais de meio século.
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As bifanas da Parreirinha do Chile borbulham nas frigideiras encostadas às janelas e José Cardoso tenta só desviar a atenção por breves instantes. Mas na manhã desta terça-feira não está fácil, tal é o corrupio à sua volta. A estação de metro de Arroios reabriu e todos querem o seu parecer. “Isto afectou muito aqui a área. As pessoas não passavam aqui”, recorda o comerciante instalado na Praça do Chile vai para mais de meio século.
Quem já assistiu a tantas mudanças em Lisboa atrás daquele pequeno balcão não esperava que o alargamento da estação em 40 metros causasse tanto transtorno durante quatro anos. Quatro longos anos em que a obra começou, parou por falência do primeiro empreiteiro, recomeçou e está agora nos acabamentos, já com a estação aberta e os comboios a pararem novamente.
“Nós queremos é o metro a funcionar”, alegra-se Carla Salsinha, ex-presidente da União de Associações de Comércio e Serviços de Lisboa (UACS), que explora uma loja de noivas na praça e foi uma das vozes que mais batalhou por isenções de taxas aos comerciantes da zona.
Desapareceram os grandes tapumes à superfície e surgiram dois respiradouros ovais, forrados a azulejos artísticos, assim como um elevador que conduz à estação. Lá em baixo o cais foi prolongado em cerca de 20 metros para cada lado, o que permite a paragem de comboios com seis carruagens, à semelhança do que acontece na restante rede do metro.
“A obra está pronta”, declarou João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, depois de percorrer a estação na manhã desta terça-feira. É o primeiro dia oficial de campanha eleitoral para as autárquicas, mas o governante diz que uma coisa não se relaciona com a outra. Segundo o ministro, o prazo para a conclusão da empreitada terminava na quarta-feira, 15 de Setembro, e ainda foi possível adiantar um dia.
A estação já está operacional mas ainda há trabalhos de acabamento a decorrer. E daqui a não muito tempo é a Praça do Chile que vai entrar em obras, transformando o actual cruzamento rodoviário numa rotunda. “Há 50 e tal anos isto era uma rotunda”, diz José Cardoso, que concorda com a ideia. O comerciante ainda não está preocupado com o possível impacto dessa empreitada e acredita que as duas obras não podiam ter decorrido ao mesmo tempo.
No cais, Matos Fernandes acredita que é tempo de os lisboetas regressarem aos transportes públicos. “Ainda estamos muito longe de ter o número de passageiros que tínhamos em 2019”, comenta o ministro, apontando para uma procura a rondar os 55% dos níveis pré-pandemia.
Dentro das carruagens, os passageiros já deixaram de ouvir a repetitiva mensagem “Este comboio não pára em Arroios” e nas estações está a desaparecer a cruz vermelha sobre aquele ponto da Linha Verde. Na renovada estação de Arroios reconhecem-se a estrutura e a decoração antigas, mas há novidades nas paredes. Cortina Mirabolante, um painel de azulejos com 15 metros da autoria de Nikias Skapinakis, foi encomendado pelo Metro há anos e esteve guardado até agora, exibindo-se ao público pela primeira vez. Também os azulejos de Maria Keil voltam a ver-se nos átrios e nas extensões do cais.
Esta obra teve um custo de 6,67 milhões de euros e incluiu igualmente a colocação de elevadores, fazendo de Arroios a 41ª estação do metro totalmente acessível a pessoas com mobilidade reduzida. Ficam a faltar 15.
O alargamento de Arroios começou em 2017 e devia ter terminado em 2019, mas problemas com o empreiteiro inicial levaram o metro a rescindir o contrato e a obra estacou, para desespero de comerciantes e moradores das redondezas. Recomeçaria em Janeiro de 2020 pela mão do consórcio DST/DTE/Cari/Efacec.
O Metro de Lisboa lançou-se em Abril na mais recente expansão da rede, que passa pela criação de uma linha circular unindo as linhas Verde e Amarela entre o Rato e o Cais do Sodré. O primeiro troço, do Rato à Estrela, está em obra, e o ministro do Ambiente diz que a ligação entre a Estrela e o Cais do Sodré vai arrancar ainda este ano.