Eleições primárias na Argentina antecipam desastre para o “kirchnerismo”
As eleições legislativas de Novembro podem deixar a coligação governamental numa situação muito frágil. Governo de Fernández é punido pela recessão económica e pela má gestão da pandemia.
As eleições primárias na Argentina deixaram a coligação governamental que apoia o Presidente Alberto Fernández em modo de alerta perante a possibilidade de um desastre eleitoral nas legislativas de Novembro. Os problemas na gestão da pandemia, na distribuição das vacinas e a queda da economia deixam o Governo de esquerda com cada vez menos margem.
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As eleições primárias na Argentina deixaram a coligação governamental que apoia o Presidente Alberto Fernández em modo de alerta perante a possibilidade de um desastre eleitoral nas legislativas de Novembro. Os problemas na gestão da pandemia, na distribuição das vacinas e a queda da economia deixam o Governo de esquerda com cada vez menos margem.
No domingo, os argentinos foram chamados a votar numas eleições primárias abertas, simultâneas e obrigatórias (conhecidas como PASO) para escolher os candidatos às eleições legislativas intercalares de 14 de Novembro. Os resultados mostram uma queda abrupta da popularidade do “kirchnerismo” que pode antecipar um resultado dramático para o Governo daqui a dois meses.
Os candidatos da coligação governamental Frente de Todos foram derrotados em 18 dos 24 distritos do país, incluindo vários bastiões do “kirchnerismo”, tal como a província de Buenos Aires que é também o maior colégio eleitoral argentino.
Por outro lado, os candidatos da principal coligação oposicionista, Juntos pela Mudança, foram os mais votados em províncias que tradicionalmente votam à direita, como a cidade de Buenos Aires, Mendoza ou Córdoba e ganharam em outras que até agora pendiam para a esquerda. Na capital, o terceiro candidato mais votado foi o economista Javier Milei, principal nome da extrema-direita nacional e um admirador de Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Apesar de esperar algum tipo de castigo nas urnas, a realidade foi mais dura do que previam os cálculos da coligação da Frente de Todos. Nas primárias de domingo apenas se elegeram os candidatos, mas os maus resultados da coligação governamental auguram um péssimo resultado para o “kirchnerismo” daqui a dois meses se seguirem a mesma tendência. A 14 de Novembro, os argentinos vão eleger 127 deputados na Câmara de Deputados (de um total de 257) e 24 senadores, entre um total de 72.
“O partido governamental perdeu 1,2 milhões de votos em comparação com [as eleições presidenciais de] 2019, e isto deixa-os num estado que, se repetido em Novembro, deixa Alberto Fernández muito fragilizado”, disse à Reuters a consultora política Mariel Fornoni.
Na ressaca dos resultados, Fernández prometeu corrigir o curso até às legislativas na esperança de conter a sangria de votos. “Nada é mais importante do que escutar o povo; hoje, mostrou-nos que cometemos erros e vamos atender a essa exigência”, afirmou o Presidente argentino através do Twitter.
Numas eleições vistas como um referendo à actuação do Governo, a gestão da pandemia e a deterioração da economia são as grandes causas por trás do castigo dado pelos argentinos a Fernández e à sua vice-Presidente, Cristina Kirchner. O processo de vacinação ficou marcado, numa fase inicial, por problemas contratuais e polémicas sobre o alegado favorecimento na lista de pessoas com prioridade na imunização.
Mais recentemente, vieram a público imagens dos festejos do aniversário da primeira-dama, em Julho do ano passado, que reuniu várias pessoas, incluindo o próprio Presidente, em violação das regras de confinamento em vigor na altura. Foi aberta uma investigação oficial sobre a conduta de Fernández.
Para além disso, o impacto da pandemia deixou a economia argentina em mau estado, com a subida da inflação e o aumento da pobreza a pesarem na avaliação do Governo.