Biológicos: Muito cultivo, pouca certificação
O mundo do vinho não é alheio às tendências e preocupações sociais, por isso os modernos movimentos e inquietações com a sustentabilidade e o equilíbrio do meio ambiente criaram também novas tendências na produção e consumo de vinhos. Um voo sobre os biológicos da região dos Vinhos Verdes.
Em Portugal o movimento tem ainda diminuta expressão em termos de mercado, mas os produtores sentem-no já por parte dos destinos de exportação, fundamentalmente os países do centro e do norte da Europa e Estados Unidos.
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Em Portugal o movimento tem ainda diminuta expressão em termos de mercado, mas os produtores sentem-no já por parte dos destinos de exportação, fundamentalmente os países do centro e do norte da Europa e Estados Unidos.
Biológico, biodinâmico e natural são terminologias cada vez mais comuns no meio vitícola e o facto é que é crescente a tendência para um modo de produção biológico, o que só por si não é sinónimo de vinhos biológicos. Também na adega as regras são diferentes, com vista a uma menor intervenção, ao uso de produtos enológicos com proveniência de produção biológica e uma drástica redução utilização de sulfitos, agente que é utilizado nos vinhos como antioxidante e antimicrobiano.
E é aqui que reside o principal problema, a garantia da manutenção da qualidade e saúde dos vinhos até que cheguem ao copo do consumidor. E isso é um risco que a maioria dos produtores ainda não quer correr. Em boa verdade, na maioria dos casos não pode mesmo, já que a perda de uma colheita ou de um engarrafamento pode pôr em causa a solvabilidade das explorações. Um problema que se coloca com maior acuidade na região dos Vinhos Verdes, cujas características climatéricas húmidas e proximidade da costa potenciam fortemente o surgimento das doenças da vinha. Ir com cuidado e não arriscar tudo por um ideal parece ser a posição da generalidade dos produtores.
Boa parte pratica hoje uma produção biológica, sem recurso a quaisquer herbicidas, pesticidas ou produtos de síntese, mas não arrisca colocar-se debaixo das regras da certificação, que os impede, em caso de perigo iminente de doença, de recorrer a esse tipo intervenção.
Já nas adegas, a situação é um tanto diferente, uma vez que as técnicas enológicas são fundamentais para a preservação dos aromas, limpidez e longevidade dos vinhos, cuja qualidade não é afectada. Os produtores entendem que a diferença faz-se na vinha, que os vinhos têm de se destacar pelos seus aromas e sabores mais puros, mas que tem também de ser garantida a sua estabilidade e longevidade na garrafa.
Uma prudência que explica uma região onde grande parte das vinhas é cultivada em modo de produção biológico, mas onde é ainda mínima a quantidade de produtores que arrisca submeter-se às regras da certificação biológica. Os serviços de rotulagem da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) registam uma quinzena de produtores com certificação para selos de vinho biológico.
No total, foram nove os vinhos que se apresentaram para a prova cega que realizámos nas instalações da CVRVV, mas representando apenas cinco dos produtores registados. Vinhos que bem demonstram a sua natureza frutada, um notório apuro de concentração e sabores, cujas notas de prova se registam por ordem decrescente de valorização.