Portugal já está a crescer mais do que a média europeia, como afirma António Costa?
Em recente entrevista, o primeiro-ministro procurou dar vários argumentos que comprovassem a ideia de que a economia portuguesa resistiu bem à crise trazida pela pandemia e que está no bom caminho para regressar rapidamente aos níveis do passado.
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A frase
“Estamos a crescer novamente a uma média superior à do resto da Europa como aconteceu em 2017, 2018 e 2019”
António Costa, primeiro-ministro
O contexto
Na entrevista que concedeu à TVI, quando questionado sobre a resposta do Governo aos problemas sentidos pelas empresas e as famílias na frente económica, o primeiro-ministro procurou dar vários argumentos que comprovassem a ideia de que a economia portuguesa resistiu bem à crise trazida pela pandemia e está no bom caminho para regressar rapidamente aos níveis do passado. E, numa comparação com os outros países europeus, António Costa defendeu que o desempenho económico português é, nesta fase, já melhor do que a média da União Europeia (UE). “Estamos a crescer novamente a uma média superior à do resto da Europa como aconteceu em 2017, 2018 e 2019”, afirmou, referindo-se aos anos em que, antes da pandemia, o PIB português voltou a convergir com a média europeia.
Os factos
Esta afirmação do primeiro-ministro encontra a sua explicação nos resultados registados durante o segundo trimestre. A variação em cadeia do PIB nesse período foi, em Portugal, de 4,9%, um resultado significativamente mais alto do que a variação de 1,9% registada no total da União Europeia, revelam os dados publicados pelo Eurostat.
É, portanto, verdade que no segundo trimestre do ano, o último para o qual há dados disponíveis, Portugal cresceu mais do que a UE. No entanto, olhar isoladamente para este indicador pode não ser a melhor forma de perceber efectivamente de que forma é que a economia portuguesa se está a comparar com os seus parceiros europeus na resposta à crise. É, por exemplo, preciso ter em atenção que a variação do PIB mais alto de Portugal no segundo trimestre tem grande parte da sua explicação no facto de, no primeiro trimestre do ano, a economia nacional ter registado o pior desempenho entre todos os países da UE: uma contracção do PIB de 3,2%, quando no total da UE a economia apenas caiu 0,1%.
Estas diferenças de desempenho aconteceram porque Portugal, em comparação com os outros países europeus, iniciou, por causa do forte ressurgimento da pandemia no início do ano, a retoma da actividade económica mais tarde. Juntando os dados dos dois trimestres, é possível verificar que, na primeira metade deste ano, a economia portuguesa cresceu menos que a da UE.
Para o total de 2021, ainda há dúvidas sobre se a economia portuguesa, depois de ter caído mais do que a europeia em 2020 (7,6% contra 6%), irá crescer mais do que a da UE em 2021. O Banco de Portugal previa, em Junho, que Portugal conseguisse um crescimento este ano de 4,8%, superando os 4,6% estimados então para a zona euro. Já a Comissão Europeia, mais pessimista para Portugal, projectou em Julho um crescimento de apenas 3,9% para a economia portuguesa este ano, contra 4,8% da UE.
A dificuldade de Portugal conseguir, nesta fase, desempenhos económicos superiores à média europeia, revelando uma maior lentidão no regresso aos níveis pré-crise, não constitui aliás uma surpresa, uma vez que a economia nacional é uma das que, na Europa, tem um maior peso do sector do turismo, um dos mais severamente afectados pela pandemia.
O resumo
Olhando apenas para os dados do segundo trimestre deste ano, os últimos divulgados, Portugal está efectivamente a crescer mais do que a média da União Europeia, tal como afirmou António Costa. É no entanto ter em conta que esse resultado se deve em grande parte ao facto de, ao contrário das outras economias europeias, a portuguesa ter recuado nos primeiros três meses do ano.