Que futuro para a aviação?

É preciso garantir que o crescimento da indústria aeronáutica não é feito (ainda mais) às custas de danos ambientais irreparáveis, mas sim de métodos e procedimentos que permitam às futuras gerações um acesso ainda maior à aviação de uma forma altamente eficiente.

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Tão inegável como o impacto humano nas alterações climáticas, bem como a necessidade de acção imediata para as mitigar, é o papel que a indústria da aviação teve, tem e continuará a ter para a sociedade mundial. E, se por um lado, sabemos que o nosso modo de vida enquanto espécie é comprovadamente insustentável, por outro torna-se chave perceber quais as alterações comportamentais que devemos priorizar, tendo presente o bem comum global como objectivo final. E é nesse preciso ponto que há vários tópicos que devem ser tidos em conta.

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Tão inegável como o impacto humano nas alterações climáticas, bem como a necessidade de acção imediata para as mitigar, é o papel que a indústria da aviação teve, tem e continuará a ter para a sociedade mundial. E, se por um lado, sabemos que o nosso modo de vida enquanto espécie é comprovadamente insustentável, por outro torna-se chave perceber quais as alterações comportamentais que devemos priorizar, tendo presente o bem comum global como objectivo final. E é nesse preciso ponto que há vários tópicos que devem ser tidos em conta.

A indústria aeronáutica é das mais fascinantes que conheço. Ao constante desafiar das leis da natureza por colocar o ser humano no ar, fora do seu habitat natural, acresce uma muito enraizada mentalidade de exigência e constante adaptação dos seus profissionais, altamente escrutinados e treinados, indo desde pilotos a técnicos de manutenção, passando por todos aqueles que contribuem para que, diariamente, um sem número de passageiros possam tornar curtas distâncias que, outrora, seriam inimagináveis de cobrir. E esta difusão da indústria foi um dos grandes catalisadores para o exponencial desenvolvimento social, económico, tecnológico e científico que a espécie humana experienciou desde o início do século XX. Afinal, os efeitos facilitadores para trocas comerciais são evidentes e é indiscutível que a maior acessibilidade do mercado para toda a sociedade contribuiu decisivamente para o aumento do peso da experiência internacional no percurso pessoal de cada um.

Adquirir bens directamente do outro lado do mundo, num piscar de olhos, tornou-se prática comum e, de repente, por exemplo, tornou-se mais barato, para um residente em Lisboa, ir passar um fim-de-semana a Roma do que a Bragança, sendo raros os casos de jovens universitários que, seja por Erasmus, intercâmbios ou programas de voluntariado, não tenham no seu currículo uma ou mais experiências fora de portas de média duração. Do mesmo modo, tornou-se cada vez mais fácil realizar observações científicas em qualquer parte do mundo, podendo até testemunhar os efeitos das alterações climáticas em zonas previamente inalcançáveis, ou combinar matérias-primas de todo o globo para o desenvolvimento de uma nova patente tecnológica. Em tudo isto, o peso e relevo da aviação é irrefutável.

Também exponencial tem vindo a ser o peso da acção humana nas alterações climáticas. O mais recente relatório do IPCC é claro nesse aspecto e deixa ainda a nota que limitar o aquecimento global do planeta aos 1,5ºC tornou-se praticamente inalcançável, explanando também as consequências de tal facto (fenómenos climáticos cada vez mais extremados e frequentes). O peso da aviação é, também ele aqui, irrefutável.

No que emissões de dióxido de carbono de origem humana diz respeito, a indústria aeronáutica pode ser vista como responsável de forma directa em cerca de 2 a 3%, numa tendência crescente naturalmente interrompida pela abrupta queda no número global de voos comerciais, efeito da pandemia que ainda se faz sentir. A própria IATA (International Air Transport Association), uma das organizações que tutela a aviação comercial, reconhece este facto, tendo anunciado, em 2009, algumas metas para o mitigar. Destas, destaca-se o melhoramento em 1,5% de eficiência no consumo de combustível, o definir de um tecto para as emissões globais de CO2 relacionadas com a indústria e uma redução total de 50% em 2050, tendo por base os valores de 2005. E o efeito desta postura tem sido notório.

O desenvolvimento de motores significativamente mais eficientes como os do A330-neo da francesa Airbus ou os do Dreamliner da americana Boeing, que reduzem o consumo de combustível em cerca de 25% e 20% respectivamente, deixa bem visível a necessidade das principais fabricantes de aeronaves em ser competitivas nesse aspecto. Mais a Norte, no Alasca, a companhia local Ravn Alaska já anunciou que irá adquirir 50 aviões eléctricos à fabricante californiana Airflow, mal estes estejam prontos para venda, num sinal claro de que o futuro da aviação pode muito bem passar por uma renovação na forma como se produz energia para alimentar os motores que colocam, e mantêm, os aviões no ar.

Mas é preciso (muito) mais. É preciso garantir que a eficiência de combustível é vista como prioritária e até aumentar o valor percentual de redução de consumo de combustível. É preciso investir em investigação científica que permita que mais companhias sigam o exemplo da Ravn Alaska, ao mesmo tempo que se garante que o uso e produção de baterias eléctricas é altamente eficiente e constitui, de facto, um enorme upgrade em termos ambientais e não mais um caso de greenwashing institucional.

É preciso garantir que o crescimento da indústria aeronáutica não é feito (ainda mais) às custas de danos ambientais irreparáveis, mas sim de métodos e procedimentos que permitam às futuras gerações um acesso ainda maior à aviação de uma forma altamente eficiente. As possibilidades estão à vista. É uma questão de vontade.