Primeiro capítulo de Último Olhar, o novo romance de Miguel Sousa Tavares

Chega nesta quinta-feira às livrarias o novo romance de Miguel Sousa Tavares, o autor de Equador, que acaba, por sua vez, de ser reeditado. Último Olhar é publicado pela Porto Editora e foi escrito entre Março de 2020 e Maio de 2021, em tempo de confinamento e de pandemia.

Foto
Miguel Sousa Tavares Miguel Nogueira

Pablo consultou o seu relógio de pulso, quase tão velho quanto ele: cinco da tarde. Cinco em ponto da tarde. «Ou mais ou menos, o Federico já não se vai importar», pensou para consigo. Numa altura destas, quem é que se lembra de olhar para o relógio? Mas deviam ser mais ou menos cinco em ponto da tarde quando a coluna de dez ambulâncias e um minibus, saída duas horas antes do lar de terceira idade Vale Encantado, em Alcalá del Rio, entrou na cidade de La Línea de la Concepción, na província de Cádis. Trazia a bordo um carregamento de morte: 28 velhos infectados com o vírus da covid-19, o veneno da China, que varria a Europa e trazia a Espanha agonizante de pavor. Cinco da tarde, 16 de Maio de 2020.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Pablo consultou o seu relógio de pulso, quase tão velho quanto ele: cinco da tarde. Cinco em ponto da tarde. «Ou mais ou menos, o Federico já não se vai importar», pensou para consigo. Numa altura destas, quem é que se lembra de olhar para o relógio? Mas deviam ser mais ou menos cinco em ponto da tarde quando a coluna de dez ambulâncias e um minibus, saída duas horas antes do lar de terceira idade Vale Encantado, em Alcalá del Rio, entrou na cidade de La Línea de la Concepción, na província de Cádis. Trazia a bordo um carregamento de morte: 28 velhos infectados com o vírus da covid-19, o veneno da China, que varria a Europa e trazia a Espanha agonizante de pavor. Cinco da tarde, 16 de Maio de 2020.