Jornalismo político e kremlinologia

A “fonte”, o recado e a intenção pelo mestre dos cenários e da utilização dos jornalistas: Marcelo Rebelo de Sousa

O jornalismo político português dificilmente se consegue livrar dos seus defeitos genéticos em democracia e, por isso, é pouco informativo e pouco analítico, muito opinativo e pouco rigoroso. Explico-me, repetindo o que já escrevi há muitos anos, o jornalismo português veio de 48 anos de censura, o que é um lastro perverso, que afectou mais de uma geração de jornalistas e os seus leitores. O único jornalismo que sobreviveu à censura, deixando de lado os propagandistas e funcionários da ditadura, era um jornalismo de esforço, de militância, e vontade de exercer a sua  profissão nas piores condições e com todos os riscos. Era também neste contexto um jornalismo de oposição, que usava os interstícios da censura para levar aos portugueses informação sobre o seu país tal como ele era – pobre, desigual, reprimido, envolvido numa guerra injusta e sem fim, isolado internacionalmente, com uma governação mesquinha, interesseira assente na violência e na mentira. No Diário de Lisboa, no Diário Popular, na Capital, no Expresso, na Vida Mundial, nalguns jornais locais, e, num ou noutro caso muito isolado, na rádio e quase nada na televisão, de vez em quando lá havia informação. 

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O jornalismo político português dificilmente se consegue livrar dos seus defeitos genéticos em democracia e, por isso, é pouco informativo e pouco analítico, muito opinativo e pouco rigoroso. Explico-me, repetindo o que já escrevi há muitos anos, o jornalismo português veio de 48 anos de censura, o que é um lastro perverso, que afectou mais de uma geração de jornalistas e os seus leitores. O único jornalismo que sobreviveu à censura, deixando de lado os propagandistas e funcionários da ditadura, era um jornalismo de esforço, de militância, e vontade de exercer a sua  profissão nas piores condições e com todos os riscos. Era também neste contexto um jornalismo de oposição, que usava os interstícios da censura para levar aos portugueses informação sobre o seu país tal como ele era – pobre, desigual, reprimido, envolvido numa guerra injusta e sem fim, isolado internacionalmente, com uma governação mesquinha, interesseira assente na violência e na mentira. No Diário de Lisboa, no Diário Popular, na Capital, no Expresso, na Vida Mundial, nalguns jornais locais, e, num ou noutro caso muito isolado, na rádio e quase nada na televisão, de vez em quando lá havia informação.