Os cães sabem se agimos com intenção ou por acidente? Um estudo diz que sim
Dependendo se os humanos não lhes deram uma recompensa por acidente ou deliberadamente, os animais de companhia comportaram-se de forma diferente, avaliaram investigadores na Alemanha. É o primeiro passo para provar que os cães conseguem reconhecer intenção na acção.
Uma equipa de investigadores na Alemanha trabalhou com 51 cães para tentar responder a uma pergunta: saberão eles distinguir quando fazemos algo intencionalmente ou por acidente?
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Uma equipa de investigadores na Alemanha trabalhou com 51 cães para tentar responder a uma pergunta: saberão eles distinguir quando fazemos algo intencionalmente ou por acidente?
A resposta é mais importante do que poderá parecer: a capacidade de reconhecer intenção nas acções humanas “teria sido imensamente valiosa para a história comum dos cães com humanos”, lê-se no estudo publicado online na revista Scientific Reports, da Nature Research.
Para testar isto, os investigadores do Instituto Max Planck usaram uma divisória de vidro — igual às que começamos a ver desde o início da pandemia — para separar os investigadores dos cães. Na primeira fase, os animais de companhia foram habituados a receber comida de estranhos através de uma abertura.
Depois, a investigadora começou a guardar a comida em frente aos olhos suplicantes dos cães. Algumas das vezes, fingia que deixava cair a guloseima ao chão, acidentalmente. Outras, ficava com ela na mão e pousava a comida ao seu lado, deliberadamente.
Todos os cães podiam simplesmente contornar a divisória e comer a guloseima que tinha ficado do lado da investigadora. O que a equipa acredita é que a velocidade com que o faziam, com mais ou menos hesitação, parece depender do porquê dos seres humanos lhes terem negado a comida, por acidente ou deliberadamente.
Isto porque os cães se aproximaram mais rapidamente quando os investigadores falharam em alimentá-los “por acidente”. Pelo contrário, esperaram mais tempo, ou nem sequer tentaram contornar a divisória, nas vezes em que os investigadores pousaram a comida de propósito.
Os resultados parecem apresentar “provas iniciais importantes de que os cães podem ter pelo menos um dos elementos da Teoria da Mente, a capacidade de reconhecer intenção na acção”, escrevem os investigadores.
No entanto, o estudo é conservador em relação às próprias descobertas. É preciso investigação futura para perceber se as diferentes reacções dos cães reflectem a capacidade de ler intenções humanas, algo que já foi provado com chimpanzés e cavalos, ou se são apenas um comportamento baseado em associações previamente aprendidas, escrevem. Num outro estudo, o Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, já tinha descoberto que os cães são espertos a conseguir aquilo que querem: comem alimentos proibidos com mais frequência se os humanos não os conseguirem ver.