Declarações do ministro Manuel Heitor “são profundamente desrespeitosas”, afirmam médicos de família

Ministro do Ensino Superior questiona duração da formação dos médicos de família. A associação já pediu uma audição à ministra da Saúde para perceber qual a intenção do Governo. PSD deu entrada a um pedido para ouvir no parlamento várias entidades.

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Rui Gaudencio

Para a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) as palavras do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobre a formação em medicina geral e familiar “são profundamente desrespeitosas”. A associação já pediu uma audição à ministra da Saúde para perceber qual a intenção do Governo. O PSD, que também criticou as afirmações de Manuel Heitor, deu entrada a um pedido para ouvir no parlamento várias entidades.

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Para a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) as palavras do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobre a formação em medicina geral e familiar “são profundamente desrespeitosas”. A associação já pediu uma audição à ministra da Saúde para perceber qual a intenção do Governo. O PSD, que também criticou as afirmações de Manuel Heitor, deu entrada a um pedido para ouvir no parlamento várias entidades.

Em causa está a entrevista que o ministro do Ensino Superior deu ao Diário de Notícias, na qual disse que “para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais”. Em comunicado, a APMGF disse ter sido surpreendida por estas declarações, que classificou como “profundamente desrespeitosas para com os médicos de família portugueses”.

A associação lembra o trabalho desenvolvido nos últimos anos de consolidação da especialidade de medicina geral e familiar (MGF), que implica uma formação de quatro anos. Uma “garantia para o nosso país de médicos de família com elevadas competências técnicas e clínicas e grande resolutividade”, afirmam os representantes dos médicos de família, lembrando a “enorme procura” que os clínicos portugueses têm por parte de mercados estrangeiros.

“A Medicina Geral e Familiar deve ser respeitada enquanto especialidade médica autónoma, com aptidões e conhecimentos próprios, com uma abordagem generalista que não a torna menos complexa e exigente do que qualquer outra especialidade médica, antes pelo contrário. A APMGF refuta, por completo, a ideia de que a MGF não necessita de uma formação tão exigente como outras especialidades médicas, como parece alegar o ministro Manuel Heitor”, lê-se no comunicado.

Na mesma nota, a APMGF pede ao Governo, “face às desconcertantes palavras do ministro Manuel Heitor”, que clarifique as suas intenções relacionadas com a formação desta especialidade e afirma que “não pactuará com qualquer tentativa de abreviar e aligeirar a formação dos médicos de família portugueses”. Acrescenta ainda que “solicitou uma audiência urgente com a ministra da Saúde, para discutir as implicações das ideias sugeridas pelo seu colega de executivo”.

Também o PSD criticou o discurso do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, falando em declarações “totalmente incompreensíveis”, e entregou esta quinta-feira, no parlamento, um pedido para a audição de várias entidades na comissão de saúde. Entre as quais o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos.

No requerimento, que a Lusa cita, os deputados afirmam que “para o PSD, a especialidade de medicina geral e familiar deve ser valorizada e a qualidade do seu ensino reforçada, ao invés de se adoptarem soluções de enganador facilitismo, que poderão, ao invés, contribuir para a degradação das condições de formação dos profissionais médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, consequentemente, piorar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde”.