Cravinho espera que experiência no Afeganistão aumente ambição da UE na Defesa
O ministro da Defesa afirmou que o sucedido no Afeganistão evidencia a dependência dos Estados-membros da UE relativamente aos Estados Unidos.
O ministro da Defesa disse esperar que a recente experiência no Afeganistão leve a União Europeia (UE) a adoptar uma estratégia mais ambiciosa, considerando fundamental reforçar “muito significativamente” a capacidade de comando e controlo.
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O ministro da Defesa disse esperar que a recente experiência no Afeganistão leve a União Europeia (UE) a adoptar uma estratégia mais ambiciosa, considerando fundamental reforçar “muito significativamente” a capacidade de comando e controlo.
Em declarações à Lusa à chegada a uma reunião informal de ministros da Defesa, na localidade eslovena de Kranj, João Gomes Cravinho considerou que esta é “uma reunião muito relevante neste momento que estamos a viver”, imediatamente a seguir à operação de retirada apressada das forças e cidadãos internacionais do Afeganistão, após a abrupta tomada de poder pelos taliban.
“As reuniões de ministros da Defesa da UE têm uma cadência rotineira porque há sempre muita matéria para discutir, mas é evidente que nestas circunstâncias excepcionais, em que tivemos a experiência que acabámos de ter no Afeganistão, é um momento muito pertinente para reflectirmos sobre o futuro da identidade europeia de defesa”, começou por observar.
O ministro da Defesa manifestou-se convicto de que o sucedido no Afeganistão, onde ficou mais uma vez evidente a dependência dos Estados-membros da UE relativamente aos Estados Unidos, “vai reflectir-se também no trabalho de elaboração da Bússola Estratégica que está em curso”, o documento que visa a definição de orientações e de objectivos da União na área da Segurança e Defesa, que deverá ser finalizado até final do ano com vista à sua adopção em 2022.
“Eu creio que o impacto que [o ocorrido no Afeganistão] terá é que haverá um reconhecimento de que esse documento terá de ser muito ambicioso. Realista, mas ambicioso”, disse.
Sobre a proposta concreta de criação de uma força de intervenção rápida da UE, potencialmente de 5.000 militares, capaz de actuar em situações como aquela vivida recentemente no aeroporto de Cabul, João Gomes Cravinho comentou que “a questão é mais complicada do que isso”, defendendo que a discussão não deve girar tanto em torno de uma proposta concreta, pois há várias vias de alcançar aquilo que considera essencial: o reforço das capacidades de Defesa da União.
“Eu penso que o que é fundamental é que a Bússola Estratégica tenha um reflexo forte em termos do capítulo dedicado às capacidades. Se é exactamente isso [força de intervenção rápida], se é uma coisa diferente... Uma coisa é certa: a capacidade de comando e controlo tem de ser muito significativamente reforçada”, disse. Já quanto às capacidades específicas que serão empregues, o ministro considerou haver “muitas modalidades possíveis”.
“Penso que não nos devemos concentrar demasiado numa proposta quando o grande objectivo é reforçar a nossa capacidade. Pode ser por essa via, pode ser por outras”, declarou. Qualquer que seja a via, admitiu que é difícil encontrar unanimidade entre os 27 em matérias delicadas como esta, considerando que “essa problemática de como avançar se nem todos estão de acordo vai ter de ser colocada em cima da mesa”.
Outro ponto na agenda da reunião informal desta quinta-feira dos ministros da Defesa, que será seguida de um encontro informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros, é o Sahel, tendo João Gomes Cravinho dito à Lusa que este “tema forte” deve ser discutido também à luz do sucedido no Afeganistão.
“Temos de reflectir sobre as lições do Afeganistão para o Sahel. O Sahel é uma região que representa um interesse vital para a UE, e não podemos permitir que se desenvolvam no Sahel dinâmicas parecidas com aquelas que se desenvolveram no Afeganistão”, argumentou.
A situação no Afeganistão centra esta quinta-feira as atenções nas reuniões informais de ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da União Europeia na Eslovénia, numa “rentrée” comunitária marcada pela abrupta tomada de Cabul pelos taliban em Agosto. À chegada à reunião de ministros da Defesa, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, disse também esperar que a experiência do Afeganistão funcione como um “catalisador”.
“Penso que é claro que a necessidade de mais “Defesa Europeia” nunca foi tão evidente como hoje, após os acontecimentos no Afeganistão [...]. A Bússola Estratégica é um trabalho em curso. Dentro de alguns meses, penso que seremos capazes de apresentar o relatório do nosso trabalho, mas por vezes há acontecimentos que catalisam a história. Alguma coisa acontece e “empurra” a história, provoca um avanço. Penso que os acontecimentos deste verão no Afeganistão são um destes casos”, declarou.
Embora espere muito empenho dos 27 em resultados concretos, Borrell advertiu que os mesmos não surgirão nesta reunião, até porque a mesma é informal, pelo que não podem ser adoptadas decisões, mas manifestou-se esperançado de que até Novembro, “o mais tardar”, esteja concluído o projecto final da Bússola Estratégica, com vista à sua adopção em 2022.