João Leão: Impacto da pandemia na dívida pode atingir 40 mil milhões até 2022

“São mais de 30 mil milhões de euros [de impacto] até ao momento”, realçou João Leão ontem à noite, em entrevista à RTP3

Foto
LUSA/RODRIGO ANTUNES

A crise pandémica teve até agora um impacto de 30 mil milhões de euros na dívida pública portuguesa, disse ontem o ministro das Finanças, João Leão, acrescentado que poderá atingir os 40 mil milhões de euros até ao próximo ano.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A crise pandémica teve até agora um impacto de 30 mil milhões de euros na dívida pública portuguesa, disse ontem o ministro das Finanças, João Leão, acrescentado que poderá atingir os 40 mil milhões de euros até ao próximo ano.

Em entrevista à RTP3, o governante explicou que “a crise teve um impacto na dívida bastante substancial”, sobretudo na dívida do Estado, estimando que o valor atinja os “cerca de 35 mil milhões a 40 mil milhões de euros” até 2022. “[…] São mais de 30 mil milhões de euros [de impacto] até ao momento”, realçou João Leão.

De acordo com o ministro das Finanças, o sector privado também a dívida aumentou em cerca de cinco mil milhões de euros, no último ano. “No sector privado também teve um legado [da dívida]. São cerca de cinco mil milhões [de euros], quatro mil milhões de euros para as famílias de dívida adicional e mil milhões de euros nas empresas, embora nas famílias seja assimétrico. Houve famílias que acumularam muitos depósitos e […] outras tiveram de se endividar”, vincou.

À RTP3, João Leão ressalvou que em 2020 a dívida pública atingiu os 133%, o que, avaliou, “foi uma dívida muito elevada” para Portugal.

“Contamos para este ano em resultado do forte crescimento económico – quer em 2021, quer em 2022 – que a dívida pública se reduza cinco pontos [percentuais], para 128%, e mais cinco pontos [percentuais] no próximo ano, para 123% do PIB”, referiu.

Segundo o governante, a trajectória da redução da dívida “vai ser baseada na forte recuperação económica” e, ao mesmo tempo “essencial no contexto de endividamento muito elevado para dar a confiança a estabilidade e credibilidade financeira que o país precisa”.

“O que é crucial é apresentar a dívida numa trajectória de produção em virtude do forte crescimento da economia. E essa trajectória […] vai dar capacidade a nós todos, os portugueses, de olharmos para o futuro com optimismo, não olhar para o futuro com incerteza e nuvens negras”, sustentou.

No início da entrevista, João Leão reiterou que Portugal se encontra neste momento numa “fase de grande recuperação, depois de um primeiro trimestre muito difícil”, devido ao confinamento.

“Portugal foi no segundo trimestre o país que mais cresceu em toda a Europa, os tais 15,5%. Foi o trimestre em que mais cresceu desde a série histórica. É um crescimento notável do PIB em termos homólogos e que mostra que é confirmada para o terceiro trimestre com indicadores muito positivos que existem. Com indicadores económicos, nomeadamente com a evolução nas vendas no retalho, nos pagamentos com o multibanco. Mostra que já uma grande recuperação no país”, indicou.

Questionado se Portugal já está num momento de viragem económica, o ministro das Finanças reforçou que os sinais são positivos, mas que ainda depende a evolução da pandemia.

“Somos o país que mais está a avançar na [luta contra a] pandemia. Portugal é o país do mundo que mais tem primeira dose de vacinação, percentagem mais elevada, já a aproximar-se dos 85%. E isto está a permitir que o número casos esteja controlado”, disse.

Apesar de estar a “recuperar a economia de forma significativa”, João Leão alertou que ainda há “um caminho a fazer” para atingir os valores pré-pandemia.

“Contamos já no próximo ano acima do valor pré-pandemia. Estamos com uma recuperação muito robusta. Esperamos crescer entre 2021 e 2022, no seu conjunto, mais 9%, 4% este ano e 5% no próximo ano. Estamos convictos que vamos superar essas estimativas já em 2021, de tal modo que antecipámos que cheguemos a ultrapassar o nível pré-pandemia mais cedo do que o esperado, no primeiro semestre de 2022”, salientou.

Entre outros temas, o ministro das Finanças deu a conhecer algumas linhas gerais do próximo Orçamento do Estado, onde estarão previstos investimentos na ferrovia, na ajuda da integração de jovens no mercado de trabalho, na educação e no Serviço Nacional de Saúde, com, segundo o mesmo, “mais investimento público e privado”.

Também João Leão garantiu que até ao fim da legislatura as famílias irão receber 600 euros por filho, sendo que um casal com dois filhos poderá receber até 1500 euros de abono.

2021 deverá terminar sem orçamento rectificativo

Sobre o fim das moratórias, o governante indicou que o Governo “reforçou muito os apoios às empresas”, dando “mais nestes últimos oito meses do que me todo o ano passado”, adiantando que “no primeiro semestre de 2021 as falências foram inferiores a 2019”.

“A esmagadora maioria das empresas que recebeu os apoios já não está a receber apoios do Estado. As empresas [apoiadas actualmente] são muito inferiores a 50 mil”, indicou, lembrando que no pico da pandemia foram apoiadas 500 mil empresas.

De acordo com João Leão, grande parte das empresas já não está a receber ajudas e as falências “caíram” face ao período pré-pandemia, estando também a taxa de desemprego mais baixa.

“Neste momento, estamos em condições para dizer que não prevemos um orçamento rectificativo até ao fim do ano”, recordou.