Morreu Mikis Theodorakis, compositor e revolucionário grego

Responsável por bandas sonoras de filmes como Zorba, o Grego, Serpico ou Z - A Orgia do Poder, foi também um lutador pela democracia no seu país, tendo sido preso e torturado e a sua música banida. Tinha 96 anos.

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Mikis Theodorakis tinha 96 anos SIMELA PANTZARTZI/epa

Mikis Theodorakis, que morreu esta quinta-feira aos 96 anos, em Atenas, não era só um dos maiores compositores gregos. Foi também um revolucionário alinhado com os comunistas que lutou pela democracia no seu país, tendo sido preso e torturado e visto a sua música banida na Grécia, onde a polícia chegou a deter pessoas apenas por ouvirem os seus temas. Segundo o site oficial do músico, que é citado pelo The New York Times, morreu de paragem cardiorrespiratória.

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Mikis Theodorakis, que morreu esta quinta-feira aos 96 anos, em Atenas, não era só um dos maiores compositores gregos. Foi também um revolucionário alinhado com os comunistas que lutou pela democracia no seu país, tendo sido preso e torturado e visto a sua música banida na Grécia, onde a polícia chegou a deter pessoas apenas por ouvirem os seus temas. Segundo o site oficial do músico, que é citado pelo The New York Times, morreu de paragem cardiorrespiratória.

Como compositor, ganhou fama mundial pelas bandas sonoras que compôs para filmes como Zorba, o Grego, de Michael Cacoyannis (1964), em que deu música à dança que ficou famosa no mundo inteiro, Z – A Orgia do Poder, de Costa-Gavras (1969), ou Serpico, de Sidney Lumet (1973). Compôs também A Balada de Mauthausen, sobre o poeta grego Iakovos Kambanellis, que sobreviveu ao Holocausto. Musicou vários poetas gregos e escreveu sinfonias, óperas e música para ballet, além de ter composto mais de mil canções.

Através da sua visibilidade mundial, fez campanha para angariar apoios para pôr fim ao regime repressivo da junta dos coronéis que dominou o seu país natal de 1967 a 1974. Deu mais de mil concertos nessa altura – em 1974 esteve no cartaz da Fête de l'Humanité, entre nomes como Leonard Cohen, The Kinks ou José Afonso. Depois de ter sido obrigado a refugiar-se numa montanha, onde permaneceu durante três anos com a mulher e os dois filhos, exilou-se em França em 1970, tendo regressado em 1974 à Grécia como um herói nacional.

Paralelamente à música, teve uma carreira política activa. Foi deputado do Partido Comunista da Grécia, e posteriormente, depois de se desvincular, foi ministro de um governo de coligação entre conservadores, socialistas e esquerdistas, tendo voltado mais tarde ao campo socialista. Ao longo dos anos, foi muito expressivo na sua oposição à política externa dos Estados Unidos e nomeadamente à invasão do Iraque, tendo-se manifestado também contra as políticas de austeridade e a ocupação da Palestina.

Nascido na ilha de Quios, no mar Egeu, em 1925, começou a compor aos 13 anos e deu o primeiro concerto aos 17. A sua militância política iniciou-se logo na Segunda Guerra Mundial, altura em que se juntou à resistência contra a ocupação nazi. Depois, como comunista e opositor do regime em vigor no pós-guerra, foi preso várias vezes, tendo sido torturado e até enterrado vivo. Estudou em Atenas e Paris e conquistou atenção internacional com as suas pesquisas no campo da música erudita, que foi juntando à tradição folclórica grega, usando o bouzouki nas suas composições.