Primeiro “duelo a três” na Alemanha acaba com vantagem para Scholz
Debate em formato inédito juntou o democrata-cristão Armin Laschet, a ecologista Annalena Baerbock e o social-democrata Olaf Scholz. Nova sondagem dá 25% ao SPD e 20% à CDU.
O “duelo a três” entre os candidatos à chancelaria na Alemanha começou com um conservador Armin Laschet ao ataque, o social-democrata Olaf Scholz em pleno “Scholz-o-mat” (Scholz-autómato, como é chamado pelo seu estilo) e Annalena-Baerbock dos Verdes a sublinhar várias vezes que é ela quem representa a mudança. O debate foi marcado por uma estranha ausência de perguntas sobre política europeia, embora tenha sido dado destaque à política externa com perguntas sobre o Afeganistão.
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O “duelo a três” entre os candidatos à chancelaria na Alemanha começou com um conservador Armin Laschet ao ataque, o social-democrata Olaf Scholz em pleno “Scholz-o-mat” (Scholz-autómato, como é chamado pelo seu estilo) e Annalena-Baerbock dos Verdes a sublinhar várias vezes que é ela quem representa a mudança. O debate foi marcado por uma estranha ausência de perguntas sobre política europeia, embora tenha sido dado destaque à política externa com perguntas sobre o Afeganistão.
Este foi o primeiro debate com este formato, já que por regra só a CDU/CSU e o SPD têm candidatos a chanceler e até agora os debates foram sempre entre apenas dois candidatos, os chamados duelos. Mas com a CDU/CSU e o SPD a registarem valores abaixo dos 25% nas sondagens (ambos arriscam que este resultado seja entre os piores do pós-guerra), e os Verdes com alguma força, são umas eleições particulares, das quais deverá sair uma coligação nunca antes feita a nível nacional, muito provavelmente com três partidos.
Laschet não pareceu conseguir afirmar-se o suficiente para travar a subida do SPD do seu principal rival, o social-democrata Olaf Scholz, ministro das Finanças. Esta segunda-feira, foi publicada uma sondagem do Instituto Insa para o Bild que dá a maior vantagem ao SPD, com 25%, sobre a CDU/CSU, 20%, um valor de que não há memória em sondagens. Os Verdes surgem com 16,5%, os liberais com 13,5%, os nacionalistas da AfD com 11%, e Die Linke (A Esquerda) com 7% (o mínimo para entrar no Parlamento alemão são 5%).
Houve momentos claramente embaraçosos, como quando os moderadores pediram aos candidatos que explicassem porque é que os rivais não têm capacidade para ocupar o cargo de chancelaria (nenhum quis ir por este caminho) e sobretudo quando, ao contrário, pediram para dizer palavras simpáticas sobre os opositores (Laschet não conseguiu dizer mais do que resumir o currículo de Scholz).
A discussão sobre possíveis parceiros de coligação era uma das mais relevantes, mas muitas vezes os potenciais chanceleres guardam as suas opções para si, e foi mais uma vez o que aconteceu. Scholz foi especialmente pressionado sobre uma potencial coligação à esquerda (Vermelho-Vermelho-Verde), que inclui Die Linke (A Esquerda) e Verdes, uma coligação que ora tem ora não tem uma maioria nas sondagens. Se acontecesse, seria a primeira vez que a esquerda radical entraria num governo nacional na Alemanha (já não é novidade nos governos dos estados federados, com um ministro presidente de esquerda na Turíngia).
Scholz disse que o sentido de votação do partido em relação ao Afeganistão tornava muito difícil que houvesse uma coligação com Die Linke (Scholz representa além disso a ala mais centrista do SPD, pelo que mais facilmente poderia preferir outra constelação), mas Laschet desafiou-o a excluir totalmente a coligação, com Scholz a manter que era uma questão de princípios e que uma coligação dependeria de estes serem seguidos (“com convicção”, juntou a seguir), enquanto Baerbock foi mais firme a excluir uma coligação com A Esquerda.
Laschet respondeu a uma pergunta sobre se preferiria uma coligação com os liberais dizendo que é esta a coligação que ele chefia no seu estado federado, a Renânia do Norte-Vestefália, com bons resultados, mas que sabe que não é a opção com mais hipóteses (das consideradas realistas, é mesmo a que tem menos hipóteses de maioria). Uma coligação destas teria de juntar outro partido: o SPD ou os Verdes, tornando-se assim em algo muito diferente.
Annalena Baerbock teve de relembrar várias vezes que é o seu partido que representa a mudança numas eleições em que os outros dois concorrentes são de partidos que estão juntos numa coligação no poder nos últimos dois mandatos de Angela Merkel (e estiveram ainda no seu primeiro). Como Laschet se lançou ao ataque, deixou Scholz na posição de se apresentar a si mesmo como o herdeiro da chanceler, como tem feito (tem cartazes a dizer “Er kann Kanzlerin”, ou seja, “ele em capacidade para ser chanceler”, usando a palavra chanceler no feminino. Algo que é estranho sendo Laschet o candidato do partido de Merkel.
Na questão das alterações climáticas, houve um certo tom na moderação a insistir na imagem do partido como “o partido da proibição” e apresentando questões sobre política contra alterações climáticas como questões de custo, ignorando os custos de manter o curso actual, como sublinhou no Twitter Wolfgang Lucht, do Instituto Potsdam para a Investigação dos Impactos Climáticos.
Sondagens feitas a seguir ao debate mostraram que Olaf Scholz foi visto como o vencedor por 36% dos inquiridos, 30% consideraram que Annalena Baerbock venceu, e só 25% que foi Laschet o vencedor. Os três candidatos a chanceler ainda vão debater mais duas vezes antes das eleições de 26 de Setembro.