110 Histórias, 110 Objectos: o nível óptico de Brito Limpo
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.
No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No episódio n.º 10 do podcast, conhecemos o nível óptico criado em meados do século XIX por Brito Limpo, que pode ser visitado no Museu de Engenharia Civil do IST.
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No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No episódio n.º 10 do podcast, conhecemos o nível óptico criado em meados do século XIX por Brito Limpo, que pode ser visitado no Museu de Engenharia Civil do IST.
“Este é talvez o exemplar de nível óptico mais brilhante que nós utilizámos e foi feito por um português. É absolutamente notável”, descreve Ana Paula Falcão, responsável pela unidade curricular de Topografia no IST.
Este instrumento inovador e revolucionário – “ainda hoje em alguns dos estudos há referências ao nível Brito Limpo, que conseguia precisões superiores às daqueles que já eram considerados os grandes instrumentos da época” – foi idealizado e concebido por Francisco António de Brito Limpo (1829-1891), que dedicou a sua carreira ao exército mas também ao serviço da Comissão de Produção de Cartografia em Portugal.
Construído peça a peça de forma artesanal, este instrumento conheceu seis exemplares que serviram de referência na área durante 30 anos, até ter sido ultrapassado pelos desenvolvimentos tecnológicos da área da óptica e ao início do fabrico em série. Terão sido construídos nas oficinas do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, que mais tarde veio dar origem ao IST, alguns anos antes de serem motivo para a medalha que Brito Limpo recebeu na Exposição Universal de Paris, em 1867, entre outras distinções.
Esta “pérola do ponto de vista dos instrumentos da topografia e da geodesia” contribuiu para a resolução do “problema da determinação dos níveis ortométricos” – por outras palavras, ajudou a manter a horizontalidade do instrumento para garantir leituras mais rigorosas. A professora auxiliar no departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Geo-recursos, Ana Paula Falcão, dá-nos o contexto: no século XIX, Portugal pretendia criar um referencial altimétrico que fosse único para o país todo. A partir da instalação de um marégrafo (um equipamento mecânico regista as marés) em Cascais, em 1882, determinou-se um zero para a altimetria e usou-se esse registo como referencial para determinar as altitudes dos diversos pontos do país. Essa determinação dos desníveis é feita através de uma operação chamada nivelamento geométrico. E é aí que entra o nível óptico.
Como se mede? São colocadas miras – umas réguas graduadas colocadas na vertical – no extremo de um lanço, onde temos um ponto com a cota conhecida e outro com a cota que queremos conhecer. O nível óptico deve, por isso, trabalhar unicamente no plano horizontal para efectuar as leituras para essas miras. A diferença das leituras dá-nos o desnível entre as duas miras. Mas qual era então o problema? “Para assegurar o plano horizontal nós utilizamos níveis que tinham que fazer leituras atrás e à frente. Os que existiam naquela altura implicavam uma rotação de 180 graus e quando o nível roda 180 graus muitas vezes a bolha desalinha e deixamos de estar a trabalhar no plano horizontal”.
Ora, o que Brito Limpo fez foi incorporar duas lunetas em vez de uma, para podermos fazer leituras em simultâneo para as miras que estão colocadas no início e no fim dos lanços. E ainda “uma particularidade absolutamente deliciosa”: criou a possibilidade de as duas lunetas rodarem segundo o eixo horizontal de 180 graus: a luneta de cima passa para baixo e vice-versa. “Em vez de termos duas leituras, passámos a ter quatro leituras e resolvemos desta forma alguma falta de horizontalidade que poderia acontecer com a rotação do nível óptico”, explica.
Para além de ser uma “peça de museu que não dever sair da nossa memória”, o nível de Brito Limpo ajuda a reforçar a importância dos trabalhos de geodesia e cartografia. “Não há projectos, não há construção, se não houver uma cartografia de apoio. Há muitas vezes um esquecimento da cartografia e dos seus instrumentos”, conclui Ana Paula Falcão.
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.
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