Alfarrabistas online: livros baratos, mas sem o convite à viagem que cada livraria nos faz
Os preços são módicos e dependem, claro, da procura e do reconhecimento da obra, mas também do bom estado de cada livro. Funciona de forma simples, sem percalços, e nas minhas experiências de compra, por ora, sem a decepção de receber gato por lebre, ou um embrulho cheio de nada.
Nomeiam-se a si próprios alfarrabistas. Vendem alfarrábios online: livros usados, livros novos, muitos já saídos da circulação comercial e livros antigos. É fácil encontrá-los. Estão nas redes sociais, sobretudo no Instagram.
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Nomeiam-se a si próprios alfarrabistas. Vendem alfarrábios online: livros usados, livros novos, muitos já saídos da circulação comercial e livros antigos. É fácil encontrá-los. Estão nas redes sociais, sobretudo no Instagram.
Nos usados, há livros de vários formatos, de mesa e de bolso, sobre tudo um pouco e para todos os gostos: de filosofia, história, antropologia, didácticos, de bricolagem, culinária, auto-ajuda, infantis, policiais, de poemas, contos, romances e peças de teatro. Obras de autores galardoados com o Nobel da Literatura, como as de Rudyard Kipling, Thomas Mann, William Faulkner, Ernest Hemingway, Albert Camus ou José Saramago, ou com o Prémio Camões, como as de Miguel Torga, Vergílio Ferreira ou António Lobo Antunes, outras obras de autores incontornáveis, como as de William Shakespeare, Fiódor Dostoiévski, Franz Kafka, Raul Brandão, Vitorino Nemésio ou dos poetas Fernando Pessoa, Natália Correia, Ruy Belo ou Nuno Júdice.
Os preços são módicos e dependem, claro, da procura e do reconhecimento da obra, mas também do bom estado de cada livro. Folhas empalidecidas pelo tempo, uma assinatura rabiscada na primeira página, um sublinhado algures ou uma dobra num canto a marcar uma leitura interrompida são marcas que quase sempre valem desconto maior. É possível encontrar, por exemplo, a crueza das histórias das Crónicas do Mal de Amor, da misteriosa Elena Ferrante, por 12 euros, a distopia de uma sociedade sem direitos e de quase todos os prazeres proibidos às mulheres de A História de Uma Serva, de Margaret Atwood, por oito euros, sonhar com mundos mágicos, como os da Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, por cinco euros, ou com as eternas aventuras de Fogg e Passepartout na sua Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne, por três euros. Pelo mesmo preço, no ano em que se celebraram os seus 100 anos de vida, é possível ler ou reler O Paradigma Perdido: A Natureza Humana, do filósofo, sociólogo e “humanista planetário” Edgar Morin.
O processo de compra é descomplicado, por MB Way ou transferência bancária. A encomenda pode ser entregue em mão, se a zona de residência de comprador e vendedor ficar próxima, mas em regra é expedida por correio para uma morada que convier. É assim que funciona, de forma simples, sem percalços, e nas minhas experiências de compra, por ora, sem a decepção de receber gato por lebre, ou um embrulho cheio de nada.
Neste artigo do jornal inglês The Guardian, sobre as impressões olfactivas dos leitores e a sua explicação pelos contributos da ciência e da química, recordam-se memórias diversas sobre o cheiro dos livros, como as dos biscoitos acabados de torrar de Alberto Manguel, o adocicado da baunilha ou do chocolate, o acre do sal e da pimenta, o deleitoso cheiro a chuva. Juntaria aqui outros bálsamos: o do cheiro a papel novo, o de passear pelos corredores devagarinho, o de perder o olhar em cada estante, descobrir os títulos, tocar a capa, percorrer folhas ao acaso. A compra online de livros usados é uma alternativa. Não serve para todos, não substitui estas alegrias, nem as “de um convite à viagem” que cada livraria nos faz, renovado em cada volta e que, quase como se tivesse sido temperado com mel, nos sabe sempre tão bem.