Reino Unido termina operação de evacuação no aeroporto de Cabul
Para trás ficaram mais de mil afegãos que não conseguiram lugar nos aviões britânicos. Comandante britânico diz que fim dos voos é uma “desolação”.
O Reino Unido deu como terminada este sábado a operação de retirada de civis e militares do Afeganistão, a três dias do final do prazo estipulado para a retirada total de forças estrangeiras do país. Muitos afegãos que cumpririam os requisitos para serem resgatados vão permanecer, correndo risco de vida.
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O Reino Unido deu como terminada este sábado a operação de retirada de civis e militares do Afeganistão, a três dias do final do prazo estipulado para a retirada total de forças estrangeiras do país. Muitos afegãos que cumpririam os requisitos para serem resgatados vão permanecer, correndo risco de vida.
Ao fim de duas semanas de voos militares diários, a Força Aérea Britânica conseguiu retirar 15 mil pessoas do Afeganistão, entre cidadãos britânicos e afegãos que colaboraram durante os 20 anos de guerra. Por terem trabalhado para as forças militares britânicas e norte-americanas que combatiam os taliban, estas pessoas são um alvo para o novo regime instalado em Cabul e, por isso, vão receber asilo no estrangeiro.
Apesar dos esforços, não foi possível transportar todas as pessoas que Londres se tinha proposto resgatar. Na sexta-feira, o ministro da Defesa, Ben Wallace, confirmou que cerca de 1100 afegãos seriam deixados para trás.
Para o chefe das Forças Armadas britânicas, o general Nick Carter, o fim dos voos a partir de Cabul representa uma “desolação”. “Estamos sempre a receber mensagens dos nossos amigos afegãos que estão muito perturbados, portanto estamos a viver isto de uma forma dolorosa”, afirmou Carter, em entrevista à BBC.
Desde que os taliban chegaram a Cabul, afastando o Governo apoiado pelos EUA mais rapidamente do que o esperado, que o aeroporto da capital se tornou no epicentro de uma crise sem precedentes. Milhares de pessoas tentam há duas semanas garantir um lugar num dos voos que todos os dias têm saído do Afeganistão, num esforço conjunto sem precedentes históricos. Segundo os EUA, mais de cem mil pessoas saíram do país em duas semanas por esta via.
No entanto, com a aproximação do prazo para a retirada militar total das forças estrangeiras do Afeganistão – fixado em 31 de Agosto – a ansiedade por parte dos afegãos disparou. Aproveitando o caos e as dificuldades em garantir a segurança do aeroporto, na quinta-feira, um ataque terrorista de elementos pertencentes ao Daesh-Khorosan, o braço do Daesh no Afeganistão, causou a morte de pelo menos 162 afegãos e de 13 militares norte-americanos.
Com o fim da operação britânica, os três últimos dias de evacuações no aeroporto de Cabul devem ficar quase em exclusivo por conta da Força Aérea norte-americana. O destino dos milhares de afegãos que não conseguiram um lugar nos aviões é uma incógnita, mas qualquer possibilidade de os resgatar terá de passar por um entendimento com os taliban.
Foi isso que ficou claro após a conversa este entre o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e a chanceler alemã Angela Merkel, em que se concluiu que “qualquer diálogo com os taliban deverá ser condicionado pela autorização de passagem para todos aqueles que desejem sair do país”.
Resgate de animais
Na corrida contra o tempo em que se transformou a operação de evacuação no aeroporto de Cabul, houve decisões polémicas como a da autorização concedida a que um avião charter saísse do Afeganistão para transportar cerca de 200 animais que estavam num abrigo animal fundado por um soldado britânico.
Enquanto esteve colocado no Afeganistão, o fuzileiro Paul Farthing fundou um abrigo para animais abandonados em Cabul. Com a tomada do poder pelos taliban, Farthing montou uma campanha para pressionar as Forças Armadas britânicas a organizar o resgate de 140 cães e 60 gatos que estavam nas instalações. A autorização acabou por ser garantida na sexta-feira, apesar das críticas do ministro da Defesa.
Os apoiantes de Farthing “ocuparam demasiado tempo dos meus comandantes principais quando deveriam estar concentrados na crise humanitária”, afirmou Wallace. Segundo a BBC, não se sabe se os funcionários que trabalhavam no abrigo também foram transportados no avião.