Fernando Medina: “Irei estar, vou falar e deixo a surpresa para o congresso”

O presidente da Câmara de Lisboa avisa que não dará qualquer pelouro a Carlos Moedas, mesmo em caso de precisar de outro partido para ter maioria na autarquia.

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Fernando Medina é, de novo, o candidato do PS a Lisboa LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, vai estar presente no congresso do PS, que se realiza no próximo fim-de-semana, em Portimão, e ao contrário de Pedro Nuno Santos, que este ano não discursará nem sequer apresentará uma moção, já disse que pretende falar aos delegados.

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Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, vai estar presente no congresso do PS, que se realiza no próximo fim-de-semana, em Portimão, e ao contrário de Pedro Nuno Santos, que este ano não discursará nem sequer apresentará uma moção, já disse que pretende falar aos delegados.

“Irei estar, vou falar e deixo a surpresa para o congresso”, anunciou Fernando Medina em entrevista publicada nesta quarta-feira pelo Observador. O autarca que sucedeu a António Costa em Lisboa aproveita para repetir que tem esperança que o seu antecessor concorra à liderança do PS em 2023, decisão que o primeiro-ministro se tem recusado a tomar por antecipação. “Espero que António Costa seja candidato em 2023. Ficarei muito satisfeito com isso”, respondeu Medina quando questionado sobre uma eventual recandidatura do líder do PS.

O prometido silêncio de Pedro Nuno Santos, que no congresso anterior se assumiu como futuro candidato à sucessão no PS, o autarca lisboeta disse que “é um congresso aberto”, em que “vai intervir quem quiser intervir” e acrescentou que este conclave não é a última oportunidade para ouvir o ministro das Infra-Estruturas. “É uma opção dele. Ele não saiu do PS. Está a colocar a questão como se o congresso fosse a derradeira hipótese de ouvir Pedro Nuno Santos.”

Fernando Medina insiste na ideia de que, se for eleito, cumprirá o mandato até ao fim, reforçando a ideia de que não será candidato a primeiro-ministro antes de 2025 (as próximas eleições estão previstas para 2023 e 2027). “Se merecer de novo a confiança dos lisboetas para ser presidente da Câmara de Lisboa, exercerei o mandato até ao fim. Não há nenhuma circunstância política que me faça não exercer o mandato até ao fim, tirando qualquer circunstância de saúde pessoal que me impeça e que espero que não aconteça”, repetiu.

Na parte da entrevista mais dedicada às autárquicas, Medina deixa claro que não pretende ter Carlos Moedas na sua equipa em circunstância alguma. Quando os jornalistas lhe perguntam se seria capaz de atribuir um pelouro a Carlos Moedas, a resposta é curta e directa: “É uma pergunta de resposta fácil: não tem nenhuma justificação a atribuição e pelouro ao PSD, mais a mais com o estilo de campanha e a forma como se tem posicionado no debate político da cidade, que acho bastante lamentável.”

Um parêntesis na questão do estilo da campanha — que ocupa grande parte desta entrevista, como já ocupara a do PÚBLICO, em Junho — para citar outra resposta sobre alianças. “Não há nenhuma conversa com PCP e BE para coligações pós-eleitorais”, assegurou o presidente da Câmara de Lisboa, que a seguir defendeu que primeiro há que “fazer a fase da campanha” e depois é que se vê, “o que a noite das eleições reserva e a correlação de forças”.

Voltando ao estilo da campanha, foi aí que Medina gastou boa parte do seu discurso. Tudo começou com uma pergunta sobre os kits oferecidos nos centros de vacinação — que dão fruta, bolachas e água. “A autarquia escolheu uma empresa por um ajuste directo de 425 mil euros, usando uma prerrogativa especial que existe durante a pandemia. Esta empresa tem nos órgãos sociais um antigo vereador do PS. Não vê aqui um problema?”, quis saber o Observador. Depois de dizer que não vê, Medina passou ao ataque. “Essa história mostra o quão negativa e tóxica se está a tornar a nossa vida pública, em que temos uma campanha feita de casos, de casinhos, de insinuações, de tentativas de manchar o nome e a honorabilidade das pessoas na praça pública.”

Medina chegou mesmo a dizer que “os jornalistas chegam a todo o lado”. E corrigiu: “Aliás, chegam quando não lhes é entregue a informação pronta a servir, depois de uma aturada investigação de adversários políticos muito preocupados com a transparência na vida pública.”

Sem nomear qualquer adversário, o socialista queixou-se na entrevista do facto de a vida pública estar hoje “muito contaminada por uma lógica de degradação, de insinuação e de tentativa de diminuir a honorabilidade de todos” os que trabalham para a causa pública. “E eu rejeito frontalmente isso. Isso é insuportável e muito desgastante, principalmente para aqueles que são honestos e prezam a sua honra”, disse. E insistiu: “O problema é que estamos a cair num tempo em que a vida pública está contaminada por um domínio de insinuação e de suspeita e de tentativa de calúnia que só tem duas consequências. Primeiro, diminui o nível de confiança dos cidadãos nas instituições, nos políticos e naqueles que estão na vida pública. E tem um segundo efeito, que é afastar as pessoas da vida pública.”

Noutro campeonato, o dos festejos do Sporting, o autarca reconheceu que as coisas não correram bem, embora descarte responsabilidades camarárias. “Claro que não. Essa é uma evidência. Disse isso no dia a seguir. E fui claro em dizer onde é que eu achava que não tinha corrido bem. E o sítio onde começou a correr mal é um sítio sobre o qual a câmara não tinha nenhuma responsabilidade para intervir.” Para Medina, só devia ter havido festejos organizados.