Taliban querem travar saída de afegãos para outros países
O grupo extremista garante que não vai perseguir opositores nem violar direitos das mulheres, e quer manter profissionais especializados no país.
Os taliban vão deixar de permitir a fuga de cidadãos afegãos do país e querem que os EUA e os países europeus deixem de encorajar a sua saída. As restrições actualmente impostas às mulheres serão “temporárias”, garantiu o porta-voz do grupo fundamentalista.
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Os taliban vão deixar de permitir a fuga de cidadãos afegãos do país e querem que os EUA e os países europeus deixem de encorajar a sua saída. As restrições actualmente impostas às mulheres serão “temporárias”, garantiu o porta-voz do grupo fundamentalista.
Entre as especulações acerca do prazo para a retirada definitiva dos militares norte-americanos do Afeganistão, os taliban organizaram esta terça-feira uma nova conferência de imprensa em que voltaram a garantir não pretender perseguir ninguém. Por isso, países como os EUA devem deixar de encorajar a saída maciça de afegãos do país, defendem.
“A fuga de afegãos não é algo que vamos permitir e não estamos contentes com isso”, afirmou o porta-voz Zabiullah Mujahid. Em particular, o grupo que há dez dias regressou ao poder no Afeganistão quer travar a saída de profissionais qualificados, como médicos ou engenheiros, que “devem trabalhar nas suas áreas de especialidade”, continuou o mesmo responsável.
“Não devem ir para outros países, para esses países ocidentais”, acrescentou Mujahid.
Desde que o grupo extremista passou a controlar Cabul, após a fuga dos principais dirigentes do Governo pró-EUA, que milhares de pessoas se têm concentrado nas imediações do aeroporto da capital afegã a partir de onde diariamente aviões militares, e alguns comerciais, têm levantado voo para retirar estrangeiros e cidadãos nacionais. Só entre segunda e terça-feira foram retiradas mais de 21 mil pessoas, de acordo com a Casa Branca, e desde a chegada dos taliban ao poder os EUA organizaram a saída de 58.700 pessoas.
Com a aproximação da data-limite estipulada para a retirada total das tropas estrangeiras do Afeganistão – 31 de Agosto – o processo de evacuação tem sido cada vez mais caótico. No entanto, para os taliban esse prazo não é negociável.
É entre os afegãos que colaboraram com as forças da NATO durante as últimas duas décadas ou que trabalharam para o Governo pró-ocidental que se instalaram os principais receios de retaliação por parte dos taliban. Mas há também quem procure fugir às violações de direitos humanos que configuram o entendimento extremista pelos taliban da sharia, a lei islâmica, que pretendem voltar a impor no Afeganistão.
Os dirigentes do grupo voltaram a garantir que não pretendem vingar-se de quem colaborou com os EUA ou com outras potências estrangeiras e apelaram aos funcionários das embaixadas em Cabul para se manterem no país. “Esquecemos tudo o que é passado”, garantiu Mujahid. Os taliban têm tentado mostrar uma face mais moderada neste regresso ao poder, sobretudo para evitar voltar a fazer do Afeganistão um pária internacional. No entanto, muitos observadores suspeitam tratar-se de uma mudança meramente superficial. Organizações como a Human Rights Watch revelaram relatos de execuções sumárias de funcionários públicos e de membros das forças de segurança ainda antes da tomada de Cabul pelos taliban e esta terça-feira a Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu a abertura de uma investigação independente.
O tratamento discriminatório das mulheres é um dos tópicos que reúne mais preocupações por parte das instituições internacionais. Durante o período em que governaram, os taliban impuseram um conjunto de restrições duríssimas sobre as afegãs, proibindo-as de estudar, trabalhar fora de casa, praticar desportos e confinando-as a uma existência totalmente dependente dos maridos ou de outro familiar masculino.
Desde que regressaram ao poder, os taliban têm afirmado que pretendem respeitar os direitos das mulheres, embora em observância da sharia. Esta terça-feira, Mujahid reiterou essa ideia, mas admitiu que as mulheres devem continuar em casa temporariamente. “As nossas forças de segurança não estão treinadas para lidar com mulheres, como falar com mulheres. Até que tenhamos toda a segurança montada pedimos às mulheres para permanecerem em casa”, afirmou o porta-voz taliban.