Inundações na Alemanha e Bélgica tornaram-se mais prováveis devido às alterações climáticas, revela estudo

Aquecimento global fez com que a probabilidade da ocorrência de inundações fosse até nove vezes maior. Estudo da World Weather Attribution (WWA), que junta peritos de vários institutos de investigação, é o segundo que aponta de forma clara para o papel do aquecimento global nas catástrofes que se têm multiplicado neste Verão.

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Erftstadt-Blessem, Alemanha Reuters/THILO SCHMUELGEN

As alterações climáticas reforçaram a probabilidade e a intensidade da ocorrência de inundações como as que afectaram a Alemanha e a Bélgica em Julho e que causaram mais de 200 mortes e milhares de milhões de euros em estragos. A conclusão é de um estudo que envolveu mais de 30 cientistas internacionais reunidos sob a bandeira da World Weather Attribution (WWA) e que foi divulgado esta segunda-feira pela instituição que junta peritos de vários institutos de investigação no mundo.

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As alterações climáticas reforçaram a probabilidade e a intensidade da ocorrência de inundações como as que afectaram a Alemanha e a Bélgica em Julho e que causaram mais de 200 mortes e milhares de milhões de euros em estragos. A conclusão é de um estudo que envolveu mais de 30 cientistas internacionais reunidos sob a bandeira da World Weather Attribution (WWA) e que foi divulgado esta segunda-feira pela instituição que junta peritos de vários institutos de investigação no mundo.

O objectivo do grupo de cientistas da Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, França, Estados Unidos e Reino Unido foi avaliar em que medida as alterações climáticas induzidas pelo homem alteraram a probabilidade e a intensidade das chuvas fortes que causaram as inundações severas de Julho.

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Schuld, em Ahrweiler EPA/SASCHA STEINBACH

Os investigadores dizem que o aquecimento global fez com que a probabilidade dessas ocorrências fosse até nove vezes maior. “A probabilidade de tal evento ocorrer hoje, em comparação com um clima 1,2ºC mais frio, aumentou entre 1,2 e 9 no primeiro dia do evento [inundações]”, lê-se nas conclusões do estudo.

Além disso, os autores dizem que as alterações climáticas também “fizeram aumentar a quantidade das chuvas entre 3% e 19%”. O episódio “bateu largamente os recordes de precipitação historicamente registados” nas zonas afectadas.

“Os enormes custos humanos e económicos destas inundações são um lembrete gritante de que os países precisam de se preparar para eventos climáticos mais extremos e que precisamos urgentemente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para evitar que tais riscos fiquem ainda mais fora de controlo”, disse ao The Guardian Maarten van Aalst, professor da Universidade de Twente, na Holanda, e director do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

O grupo, do qual Van Aalst faz parte, usou medições meteorológicas, modelos de computador de alta resolução e métodos de pesquisa já revistos por pares e comparou a frequência da ocorrência de chuvas extremas — como as que foram responsáveis pelas inundações na Alemanha, Bélgica e Holanda — no clima “aquecido” em que hoje vivemos com a frequência esperada num planeta onde não existiram mudanças climáticas causadas pelo homem.

Os focos do estudo foram as regiões mais afectadas pelas inundações de Julho: as bacias dos rios Ahr e Erft, na Alemanha, e no vale de Meuse, na Bélgica. Mas os investigadores também prestaram atenção a uma região mais vasta, cobrindo esses dois países e os Países Baixos, afectados em menor medida.

As conclusões obtidas não deixam margem para dúvidas: “As alterações climáticas aumentaram a possibilidade, mas também a intensidade” dos acontecimentos de Julho, sublinhou, durante uma apresentação online, Frank Kreienkamp, do serviço meteorológico alemão, organismo que dirigiu o estudo.

Outra das conclusões é que a multiplicação deste tipo de eventos é uma consequência esperada do aquecimento global, uma vez que o ar mais quente é capaz de reter 7% a mais de vapor de água por cada grau Celsius que sobe nos termómetros.

O grupo disse ainda que a probabilidade de ocorrência de um episódio como o de Julho na Europa Ocidental é, em média, de uma vez a cada 400 anos. Mas se estas alterações continuarem, estes fenómenos “vão tornar-se mais frequentes”, apontaram.

Os investigadores dizem que apesar de este evento ser “raro”, consideram “importante saber como se reduz a vulnerabilidade a estes episódios e aos seus impactos” porque “ocorrerão com mais frequência no futuro”. “Infelizmente, as pessoas costumam estar preparadas… para o desastre anterior”, disse ainda Maarten van Aalst.

A Alemanha vai afectar 30 mil milhões de euros à reconstrução das zonas sinistradas e a catástrofe colocou a questão da emergência climática no centro do debate público, a poucas semanas das eleições legislativas do fim de Setembro para a sucessão da chanceler Angela Merkel.

Alterações climáticas contribuíram para outras catástrofes 

Este é o segundo estudo recente que aponta de forma clara para o papel do aquecimento global nas catástrofes que se têm multiplicado neste Verão — as inundações devastadoras na Europa Ocidental e na China, as ondas de calor extremas no noroeste da América e incêndios florestais na Rússia, Grécia, Turquia e Estados Unidos.

No início de Agosto, os cientistas do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, na sigla em Inglês) tinham alertado, num documento de grande impacto, para o aquecimento do planeta ainda mais rápido e forte do que se receava, ameaçando a humanidade de desastres “sem precedentes”. O limiar de um grau e meio Celsius (1,5ºC) – objectivo a não ultrapassar, segundo o Acordo de Paris – pode ser atingido em torno de 2030, dez anos mais cedo que estimado.

Num outro estudo, publicado no início de Julho, o WWA tinha calculado que o manto de calor que sufocou o Canadá e o oeste dos EUA no final de Junho era “quase impossível” sem as alterações climáticas.