O pesadelo de querer voltar ao Reino Unido e não poder
Os testes à covid-19 disponíveis são cada vez menos. Aliás, as alternativas mais baratas, a 20 libras (cerca de 23 euros) cada uma, já se esgotaram há muito. A juntar a isto, já são muitos os laboratórios incapazes de entregar e recolher os testes atempadamente, pedindo aos utentes que se desloquem aos mesmos.
A primeira benesse depois deste merecido regresso a casa: em vez de termos de fazer dois testes à chegada ao Reino Unido, agora só temos de fazer um teste, mais precisamente até ao segundo dia após o voo. A segunda benesse: os testes estão “relativamente” mais baratos, mais precisamente na casa das 68 libras (cerca de 79 euros).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A primeira benesse depois deste merecido regresso a casa: em vez de termos de fazer dois testes à chegada ao Reino Unido, agora só temos de fazer um teste, mais precisamente até ao segundo dia após o voo. A segunda benesse: os testes estão “relativamente” mais baratos, mais precisamente na casa das 68 libras (cerca de 79 euros).
Mas porque sem teste não há regresso, aqui vamos nós para o primeiro passo, o de escolher um laboratório que nos possibilite a realização do teste presencial. A opção, óbvia, é a do mesmo laboratório aquando da partida, pela localização próxima de casa.
Podendo fazer o teste logo nas primeiras 24 horas, as quais coincidem com o último dia de férias, procuramos avidamente por uma vaga, mas não há hora nem vaga disponível. Só no dia a seguir, o mesmo da data limite, quando já estamos de volta à escola.
Plano B: procurar outros laboratórios nos arredores. Mas apesar da oferta, que é muita, nenhum pertence à lista aprovada pelo Governo britânico.
Plano C, e não nos podem acusar de não tentar: encontrar um laboratório que envie os testes para casa. A 247Traveltest envia os kits de modo a que a entrega coincida com o dia de chegada, pelo que aqui vamos nós preencher os formulários de três páginas para cada um entre dados pessoais, número de passaporte, contacto telefónico e electrónico, número do voo, hora de chegada, morada sem esquecer o país de partida, o motivo da estadia e por quanto tempo e se outros países houve no percurso de regresso e porquê.
Chegado o momento de pagar, nada, o site não permite o uso de cartão ou PayPal. Tento outra vez no computador e depois no telemóvel, mas nada, o site não funciona e estamos de volta à estaca zero.
Porque não nos passa pela cabeça não estar em casa aquando da entrega dos kits de teste, procuramos outras empresas e outros laboratórios. Infelizmente, a informação disponível online peca por defeito. O Boots é o exemplo clássico, o qual apesar da rede de lojas a nível nacional está mais preocupado em cobrar pelos testes sem por isso informar sobre o modo de entrega. Quanto a testes presenciais num qualquer Boots ao virar da esquina, nem pensar, não é possível e não existem.
Felizmente o alfabeto é longo e o plano D inclui uma visita às clínicas no centro de Londres. Mas como o preço de dois testes equivale quase ao de um bilhete de avião, a busca por uma alternativa continua.
Desistimos momentaneamente da encomenda de um teste e regressamos à casa de partida e à possibilidade de um teste presencial na data limite. Mas se há 30 minutos ainda havia vagas para o fim do dia, agora nem no fim do dia, só dali a três dias e muito depois do fim do prazo.
Conclusão: os testes disponíveis são cada vez menos. Aliás, as alternativas mais baratas, a 20 libras (cerca de 23 euros) cada uma, já se esgotaram há muito.
A juntar a isto, já são muitos os laboratórios incapazes de entregar e recolher os testes atempadamente, pedindo aos utentes que se desloquem aos mesmos. E não fosse o facto de certos laboratórios estarem sediados em Newcastle e talvez pudéssemos considerar esta opção.
Resultado prático: como sem teste marcado não podemos viajar, optámos por uma empresa semelhante ao Boots, ergo não sabemos nem quando nem como os kits serão entregues, muito provavelmente não estaremos em casa para os receber mas entretanto já podemos voar e regressar.
De igual modo, não é certo conseguirmos fazer o teste ao segundo dia, dada a elevada procura e os presentes atrasos. Mas a culpa não é nossa e a verdade foi a de termos procurado corresponder às expectativas de uma sociedade que se quer manter sã e segura.
Tal não é, no entanto, a filosofia por detrás deste sistema de empresas e parceiras público-privadas elaborado não no sentido da saúde pública mas do lucro e onde em breve quem procurar voltar ao Reino Unido terá de desembolsar centenas de libras por um teste apenas. Enquanto assim for, as pessoas estarão não apenas em segundo plano mas sujeitas a não poderem regressar ao Reino Unido por falta de testes ou incapacidade de pagar os mesmos.
Quanto a nós, depois de duas horas de tentativas goradas, à uma da manhã e entre dois computadores e outros tantos telemóveis, conseguimos as nossas marcações. Nada nos garante que todos possamos fazer o mesmo e quanto a futuras viagens o futuro o dirá. Ou nós.