Maré bioluminescente em Vila do Conde: “Foi um fenómeno incrível”
A ardência, como lhe chamam os pescadores, é um fenómeno em que, graças a temperaturas elevadas e presença de azoto na água, as algas Noctiluca scintillans se reproduzem, mostrando-se brilhantes e fluorescentes, ao serem agitadas pelo mar.
Foi durante a noite da passada sexta-feira, dia 20, que Bruno Costa observou uma maré bioluminescente na praia de Vila Chã, em Vila do Conde. “Tinha sido dado o alerta pelo CIIMAR e estive atento, para ver se conseguia registar o momento”, conta o fotógrafo ao PÚBLICO. Bruno estava a fazer uma caminhada com a família quando se apercebeu do fenómeno. “Fui a correr buscar o equipamento e consegui fotografar”.
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Foi durante a noite da passada sexta-feira, dia 20, que Bruno Costa observou uma maré bioluminescente na praia de Vila Chã, em Vila do Conde. “Tinha sido dado o alerta pelo CIIMAR e estive atento, para ver se conseguia registar o momento”, conta o fotógrafo ao PÚBLICO. Bruno estava a fazer uma caminhada com a família quando se apercebeu do fenómeno. “Fui a correr buscar o equipamento e consegui fotografar”.
Este fenómeno — que enche a água do mar de luz azul — não é novo nem fora do normal, como confirma Victor Vasconcelos, director do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e especialista neste tipo de microorganismos. Os pescadores conhecem-no há gerações e gerações e chamam-lhe ardência, por cá, ou ardentia, na Galiza. Sabem que as algas que estão na base deste cenário quase mágico atraem peixe, em busca de alimento, e têm-na, por isso, em boa conta. Nas saídas para o mar no crepúsculo da tarde, ou aos primeiros sinais da chegada da manhã, os mestres seguiam essa luz, sempre que a viam.
“As marés bioluminescentes são o que normalmente, durante o dia, chamamos de marés vermelhas”, começa por explicar. “São expulsões de populações de microalgas, chamadas Noctiluca scintillans, uns dinoflagelados, que quando estão presentes em grande quantidade dão um aspecto avermelhado à água do mar. E ao contrário de algumas marés vermelhas que ouvimos falar, esta não é tóxica”, explica Victor Vasconcelos.
“Estas algas têm a particularidade de produzirem uma reacção de bioluminescência, ou seja, uma reacção química que quando são agitadas na água emitem uma luz”, diz Victor Vasconcelos. E este é o fenómeno que Bruno conseguiu captar: “Conseguimos perceber que durante o dia a maré era vermelha e quando, à noite, estava maré vaza vem este fenómeno incrível. Estávamos a caminhar por cima das algas e era uma sensação brutal”.
“Este fenómeno acontece por haver azoto nas águas. Como qualquer alga, precisam de nutrientes e como no Norte existem muitos desses nitratos, principalmente no verão, este fenómeno acontece”, conta Victor Vasconcelos. “Se tivermos esses nutrientes e dias muito quentes temos a solução para que estas espécies se reproduzam e exista este fenómeno”. Apesar de nos países tropicais ser possível ver o mar iluminado o ano todo, “na nossa latitude é mais comum acontecer no Verão” e “são marés relativamente curtas”. Já no ano passado, Bruno tinha conseguido registar o momento no mesmo local, também por esta altura do ano.