Taliban começam a tomar as primeiras decisões contra as mulheres

Na província de Ghazni, as mulheres deixaram de poder ser locutoras de rádio. Na província de Herat, acabaram as aulas mistas nas universidades. As mulheres só podem ir a aulas de “professoras virtuosas” e “varões anciãos”. Von der Leyen diz que UE não vai dar um cêntimo a um regime que nega direitos às mulheres.

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MOHAMMAD JAVADZADEH HANDOUT/EPA

As novas autoridades taliban proibiram as mulheres de trabalhar como locutoras e em qualquer outro cargo nas rádios da província de Ghazni, no sudeste do Afeganistão. As emissoras vão também deixar de poder transmitir música, diz a agência de notícias afegã Pajhwok.

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As novas autoridades taliban proibiram as mulheres de trabalhar como locutoras e em qualquer outro cargo nas rádios da província de Ghazni, no sudeste do Afeganistão. As emissoras vão também deixar de poder transmitir música, diz a agência de notícias afegã Pajhwok.

Num sinal de que os taliban começam a recuperar as regras do anterior emirado islâmico que impuseram no Afeganistão, entre 1996 e 2001, e ao contrário do que vêm dizendo os seus líderes, foi emitido, este sábado, um edital religioso para a província de Herat, cuja capital homónima é a terceira cidade do país. O objectivo do edital é suspender a educação conjunta para homens e mulheres nas universidades e nos institutos provinciais.

O responsável do Departamento de Educação do Emirado Islâmico do Afeganistão, o mullah Farid, justificou a decisão com o argumento de que a educação mista é a raiz dos males da sociedade.

Os taliban só admitem que as jovens afegãs da província prossigam estudos com “professoras virtuosas” e “varões anciãos”.

Segundo os professores de Herat, este edital irá privar na prática milhares de mulheres de terem acesso ao ensino superior porque não existem infra-estruturas suficientes para dividir as turmas por género.

Nem um cêntimo da UE para os taliban

Entretanto, a presidente da Comissão Europeia avisou as novas autoridades afegãs, este sábado, que a União Europeia não está disposta a ajudar financeiramente o Afeganistão se este escolher discriminar as mulheres.

“Não se pode dar um euro que seja de ajuda humanitária a regimes que negam às suas mulheres os seus direitos e liberdades e o acesso ao trabalho e aos estudos”, disse Ursula von der Leyen, à margem da visita a um centro de acolhimento para funcionários afegãos das instituições da UE, juntamente com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

“Os milhões de euros de fundos europeus para ajuda ao desenvolvimento estão condicionados ao respeito pelos direitos humanos, das minorias e das mulheres e meninas”, afirmou a presidente da Comissão Europeia.

Von der Leyen também garantiu que Bruxelas não reconheceu politicamente o novo regime afegão. “Não há conversações políticas com os taliban, não há reconhecimento dos taliban, mas temos, claro, contactos operacionais com os taliban, o que é algo completamente diferente”, disse, esclarecendo que as conversações visaram garantir o livre-trânsito das pessoas para o aeroporto de Cabul.

“Podemos ouvir os taliban, mas vamos avaliá-los pelos seus actos; a situação é muito pouco clara”, concluiu Von der Leyen no centro de acolhimento que foi instalado na base militar de Torrejón Ardoz, nos arredores de Madrid.