O Minho está cada vez mais bonito. Como não #amarominho?
Visto de cima parece um puzzle, com peças e pecinhas que encaixam umas nas outras na perfeição. O Minho é um tapete complexo de territórios, costumes e gastronomias. A olhar para o futuro, mas bem agarrado às raízes.
Percorrer as paisagens do Minho é como olhar para um crochet de terras. Cantos e recantos, bocadinhos pequeninos, uns entre os outros. Cada um com a sua identidade, parece que de costas voltadas para o do lado. “Muros altos, eiras pequenas”, como alguém sintetizou com minúcia minhota. Porém, só na aparência. A combinação de paisagens quase únicas no país, entre as serranias e o mar, confere uma riqueza incrível a este pedaço de mundo. Da gastronomia de sabores consistentes aos afamados vinhos verdes, das festas religiosas e profanas às tradições culturais, tudo se conjuga para transformar uma manta de retalhos numa colcha de harmonias perfeitas. Olhando como se estivéssemos a ver o Minho a bordo de um helicóptero, a olhar lá do alto, a pergunta é inevitável: como não #amarominho?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Percorrer as paisagens do Minho é como olhar para um crochet de terras. Cantos e recantos, bocadinhos pequeninos, uns entre os outros. Cada um com a sua identidade, parece que de costas voltadas para o do lado. “Muros altos, eiras pequenas”, como alguém sintetizou com minúcia minhota. Porém, só na aparência. A combinação de paisagens quase únicas no país, entre as serranias e o mar, confere uma riqueza incrível a este pedaço de mundo. Da gastronomia de sabores consistentes aos afamados vinhos verdes, das festas religiosas e profanas às tradições culturais, tudo se conjuga para transformar uma manta de retalhos numa colcha de harmonias perfeitas. Olhando como se estivéssemos a ver o Minho a bordo de um helicóptero, a olhar lá do alto, a pergunta é inevitável: como não #amarominho?
Pegue-se nos lenços dos namorados. Olhe-se com atenção para os pontos, para as cores suaves, mas marcantes, as mensagens que olham de soslaio para a gramática mas estão cheias de paixão, o jeito com que as mulheres fazem os fios deslizar pelos panos de linho ou algodão… Quase que por magia, somos levados aos tempos em que os “Lenços de Pedido” eram bordados com símbolos amorosos, como corações, flores ou pássaros a voar. Estamos em Vila Verde e, naquele tempo (século XVIII), a escolaridade era uma miragem, as raparigas dos meios rurais do Minho encontraram neste acto simbólico, de extrema candura, uma forma de encontrar o seu amado. O português arcaico chegou até aos nossos dias e é muito disso que se faz o encanto destes lenços dos namorados. “Secretamente, faziam chegar o lenço ao amado e se este o usasse em público era sinal de que o amor era correspondido, começando assim o namoro”, pode ler-se nas explicações dadas na cooperativa Aliança Artesanal – Centro de Dinamização Artesanal.
Este pólo de desenvolvimento e promoção cultural de uma das tradições mais conhecidas do Minho é ponto obrigatório de paragem, para melhor se conhecerem as tradições desta região do topo norte Atlântico de Portugal. Ao entrar nesta instituição criada em 1988, o visitante pode experimentar fazer o seu próprio lenço e bordar os símbolos e as mensagens escritas que o seu coração designar. Ficará, assim, mais perto de perceber o forte sentimento de ligação à terra das suas gentes, marcadas de forma indelével pela paisagem moldada pelos rios Cávado e Ave.
A entrada em cena da modernidade
Nem só de tradições ancestrais se faz a riqueza cultural do Minho. Há cada vez mais um forte desejo de dar o salto em frente, de mostrar que a modernidade não pediu licença para entrar. Monção é um belo exemplo de como a tradição não tem qualquer dificuldade em ser aliada às artes mais arrojadas e de como espaços outrora abandonados hoje são espaços de atracção de visitantes locais e forasteiros.
Se a fortificação sobranceira ao rio Minho é um dos símbolos maiores da cidade, os olhares vão sendo desviados, aos poucos, para outros motivos de interesse. Como são as residências artísticas do concelho, que têm resultado em diversos projectos culturais de grande relevância. A escultura Bruma, da autoria de Ana Almeida, é um desses casos paradigmáticos. Integrada no Programa de Residências Artísticas do #amarominho, Bruma recupera a memória dos tempos em que o comboio a vapor ligava Monção ao resto do mundo – uma locomotiva feita em ferro, estacionada na estação. “É a leitura e interpretação do território mais alargado e os artistas trabalham nesse conceito”, descreve Helena Mendes Pereira, curadora do projecto artístico.
“Estamos a trabalhar os baluartes da fortaleza [de Monção] em moldes artísticos. Os criadores têm de estar no território, pois só assim conseguem ter um olhar contemporâneo sobre a arte tradicional”, explica Helena Mendes Pereira. Quanto à autora da obra, Ana Almeida Pinto, diz que “a escultura se potencia quando está alguém lá dentro”, ou seja, no momento em que o visitante se coloca dentro da locomotiva. “Esta escultura veio dar uma nova centralidade a Monção. É arte pública, que pode contribuir para que os espaços possam ser de novo habitados/frequentados.”
Mas voltemos às franjas do rio, onde os passadiços nos levam ao longo de boa parte da muralha mandada construir em 1306 por D. Dinis – a origem do nome remonta à ocupação dos suevos: Orosion, depois traduzido para Mons Sanctus. Apesar da construção militar, tudo o que se pode encontrar agora é mesmo paz e sossego, com o rumorejar das águas junto ao parque, lá em baixo perto do rio; os antigos postos de vigia militar são agora pacíficas e ecológicas pistas para pedestres e ciclistas.
Num desses pontos de encontro entre muralha e ecopista pode ser vista a estátua a uma das mulheres de armas de Monção: Deu-La-Deu Martins, de quem se diz ter ganho o primeiro nome por ocasião de uma das batalhas contra os invasores franceses. Como o cerco se prolongava, Deu-La-Deu decidiu mostrar às tropas inimigas que havia fartura de alimentos, pelo que tão cedo não haveria rendição. Assim, fez pão e atirou-os como oferta aos franceses… pelo menos, é o que reza a lenda.
Também a festa da “coca” é incontornável. Celebrada no dia do Corpo de Deus, o “enredo” tem lugar na Praça de Deu-La-Deu, com o duelo entre São Jorge e o dragão – a “coca”. É o velho combate entre o Bem e o Mal e já se sabe quem ganha no fim. As memórias em Monção não dispensam a Romaria da Senhora da Cabeça, na terça-feira de Páscoa, e as festas em honra da Senhora das Dores, no quarto domingo de Agosto.
Uma vez em Monção, faça-se uma pequena viagem de uma vintena de quilómetros para conhecer a castiça e rústica aldeia de Santo António de Vale de Poldros, conhecida também por Vale dos Óbitos. Alvo de diversos estudos de especialistas nacionais e internacionais acerca da arquitectura de transumância, este pequeno povoado resulta das viagens dos brandeiros (vigias) com o gado durante os meses de Verão, regressando às suas casas de origem para os meses de Inverno.
COURAME, que eu gosto
Barrios, Cepões, Vilar do Monte e Calheiros. São estas as quatro freguesias que terão dado origem ao encontro de quatro religiosos que, sentados a uma mesa a partilhar comida e bebida, discutiam as coisas importantes daquelas terras. Então, juntavam-se-lhes vários populares para debates comunitários. Nascia assim a história da Mesa dos Quatro Abades, uma tradição que se manteve até aos dias de hoje. A cada dia 20 de Junho, os presidentes das quatro juntas de freguesia rumam ao mesmo local, “perdido” no meio dos montes, para, na presença do presidente da câmara de Ponte de Lima, fazerem as suas reivindicações. Depois, claro, há almoço partilhado com as populações, que isto de falar de problemas deixa um certo vazio no estômago…
Por falar em mesa farta, pode parecer estranho pensar em pratos vegetarianos em terras de sarrabulhos, rojões, lampreias e outras gastronomias mimosas, mas eles existem. E um dos locais mais conhecidos é o restaurante O Xisto, em Boalhosa-Insalde. Não é possível perder as alheiras vegetarianas do Tino, as pataniscas e o arroz malandrinho de legumes. Para degustar enquanto se observam os lagos com peixes que já quase não existem, “porque as lontras comeram quase todos”, ou a quinta pedagógica com vacas e galinhas portuguesas.
Este restaurante é uma peça na imensa engrenagem do projecto COURAME, baptizado assim para ser a marca registada dos produtos regionais de Paredes de Coura: biscoitos de milho, compotas, peças de joalharia, fumeiros, artesanato, licores…
Minho sem jogo do pau não é Minho. Em Arco de Baúlhe, a Associação Jogo do Pau de São João Baptista de Busco resiste ao passar dos tempos e luta para manter a tradição desde 1980. Hoje um jogo, ontem um modo de defesa, este jogo rude e com muita violência à mistura terá sido criado pelos pastores para se protegerem dos ladrões. Não é caso para menos, sobretudo para quem andava a guardar gado no meio das serras…
Se o viajante quiser fazer um périplo por algumas das partes do Minho durante um fim-de-semana, a gastronomia tem de estar sempre (sempre!) presente. Se a opção recair por um almoço de domingo a saborear uma vitela à moda de Fafe, nada melhor do que colocar no GPS a morada da Casa do Tomilho – Casas do Ermo (em Estorãos). O melhor é encomendar, porque as três horas de forno a lenha têm mesmo de ser cumpridas para respeitar os ditames do processo de certificação da vitela assada à moda de Fafe. A seguir, há sesta pela certa.