Sucesso dos taliban enfurece o Daesh e divide Al-Qaeda
“Os taliban adquiriram um estatuto mítico como pequeno grupo que renasceu das cinzas e conquistou um país aos EUA e à NATO em poucas semanas”, diz especialista em grupos fundamentalistas islâmicos.
Atentos ao colapso do Governo afegão apoiado pelos EUA, vários grupos fundamentalistas islâmicos da região comemoraram a “vitória histórica” dos taliban. A única excepção é o Daesh, que continua a atacar os seus rivais afegãos e a designá-los como uma “milícia apóstata”.
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Atentos ao colapso do Governo afegão apoiado pelos EUA, vários grupos fundamentalistas islâmicos da região comemoraram a “vitória histórica” dos taliban. A única excepção é o Daesh, que continua a atacar os seus rivais afegãos e a designá-los como uma “milícia apóstata”.
À medida que a situação vai evoluindo no Afeganistão, os vários grupos jihadistas no país e na região tentam perceber de que forma os taliban vão governar, principalmente “quão genuína e severa será a aplicação da lei islâmica”, diz Mina Al-Lami, especialista em grupos fundamentalistas islâmicos e editora no serviço BBC Monitoring.
“Os taliban adquiriram um estatuto mítico como pequeno grupo que renasceu das cinzas e conquistou um país aos EUA e à NATO em poucas semanas. Ainda assim, começam a surgir algumas divisões”, diz Mina Al-Lami no site da BBC.
O principal motivo, segundo a especialista, é a forma como os taliban parecem querer conduzir a política externa do Afeganistão, principalmente a sua aparente aproximação à China e abertura a entendimentos com outros países da região. E também as declarações no sentido de uma maior inclusão das mulheres e das minorias étnicas.
“Isso não cai bem entre os mais conservadores, incluindo muitos apoiantes da Al-Qaeda”, disse Mina Al-Lami.
De fora deste jogo de espera, para ver se os taliban são mais ou menos severos na aplicação da sharia no Afeganistão, está o Daesh.
“O Daesh está furioso com os ganhos do seu rival, e irá fazer tudo o que puder para sabotar os esforços dos taliban no sentido de consolidar o seu poder no Afeganistão. É altamente improvável que os dois grupos venham a trabalhar em conjunto, e os taliban não precisam do Daesh, que é um grupo muito mais pequeno e com recursos limitados no Afeganistão.”
Segundo a especialista, os apoiantes do Daesh olham para os taliban como um agente dos EUA, e estão convencidos de que os seus rivais chegaram ao poder mediante um acordo político com os norte-americanos.
Outra divisão surgiu entre a Al-Qaeda e o grupo jihadista Hay'at Tahrir al-Sham (HTS), da Síria. Para a rede terrorista fundada por Osama bin Laden, o HTS virou as costas à jihad e deve ser visto agora como um grupo traidor.
Do outro lado, o HTS acusa a Al-Qaeda de hipocrisia, por elogiar os taliban afegãos e condenar o grupo sírio, que defende uma abordagem semelhante de não-confrontação com o Ocidente.