Conservadores culpam Boris Johnson por “catástrofe” no Afeganistão
Theresa May acusa o Governo britânico de se ter limitado a seguir os EUA e a “rezar para que tudo corresse bem”. Na oposição, os trabalhistas exigem um reforço dos planos para receber refugiados afegãos.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi alvo de fortes críticas no Parlamento britânico, esta quarta-feira, pela forma como geriu a retirada militar do Afeganistão, e pelo falhanço na antecipação da queda do Governo do país perante o avanço dos taliban.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi alvo de fortes críticas no Parlamento britânico, esta quarta-feira, pela forma como geriu a retirada militar do Afeganistão, e pelo falhanço na antecipação da queda do Governo do país perante o avanço dos taliban.
Num debate sobre os recentes acontecimentos no Afeganistão, Johnson começou por dizer que o Reino Unido não podia permanecer no país — e muito menos na liderança do esforço internacional — após a retirada dos EUA.
“Não acredito que o envio de dezenas de milhares de soldados britânicos para combater contra os taliban fosse uma opção aceitável para o povo britânico ou para esta câmara”, disse Johnson.
Algumas das críticas mais duras ao primeiro-ministro britânico vieram do Partido Conservador, pela voz da sua antecessora no n.º 10 de Downing Street, Theresa May.
Depois de perguntar a Johnson se não tinha conversado com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre “uma possível aliança com outras forças” — e depois de ter ouvido que Johnson só falou com Stoltenberg nos últimos dias —, May insinuou que o Governo britânico se limitou a seguir os EUA de olhos fechados.
“Os nossos serviços secretos foram assim tão maus? O nosso conhecimento do Governo afegão e da situação no terreno era assim tão fraco? Ou simplesmente achámos que nos bastava seguir os EUA e rezar para que tudo corresse bem?”
A antiga primeira-ministra britânica disse também que o Afeganistão “pode voltar a ser um terreno fértil para o terrorismo”, o que por sua vez teria consequências no Reino Unido: “O objectivo do terrorismo é a destruição do nosso modo de vida”, disse May.
No mesmo sentido, o conservador Mark Harper, ex-ministro nos governos de David Cameron, salientou “o falhanço catastrófico dos serviços de informação” do Reino Unido, recordando que Johnson afirmara, a 8 de Julho, que os taliban não tinham condições para tomar o poder.
Em resposta, o primeiro-ministro britânico disse que os acontecimentos no terreno no último fim-de-semana, que levaram à queda do Governo afegão quase sem resistência, “desenvolveram-se a um ritmo que surpreendeu os próprios taliban”.
“Temos de lidar com a situação como ela se apresenta agora”, disse Johnson. “Temos de aceitar tudo aquilo que alcançámos e o que não alcançámos.”
Perante o novo cenário, o Governo britânico anunciou um aumento para o dobro no orçamento anual destinado ao Afeganistão, que será agora de 286 milhões de libras (243 milhões de euros). E Johnson disse que irá aproveitar a reunião do G7, na próxima semana, para coordenar uma resposta humanitária no seio do grupo.
“Também iremos apoiar a restante comunidade internacional a criar projectos humanitários na região através das novas verbas destinadas ao Afeganistão, que vão ficar disponíveis de imediato”, disse o primeiro-ministro britânico.
No lado do Partido Trabalhista, as principais preocupações são os refugiados afegãos, para os quais estão programadas 5000 entradas no Reino Unido este ano — e mais 15 mil ao longo dos próximos anos.
“Para quem procura ajuda de forma desesperada, não existe ‘longo prazo’, apenas luta pela sobrevivência”, disse o líder trabalhista, Keir Starmer, que criticou também a “terrível resposta do Governo britânico numa semana desastrosa e trágica”.