O negócio da guerra visto por um editorial do PÚBLICO
A posição do Bloco reafirma o erro e irresponsabilidade da invasão criminosa em 2001 e da ocupação subsequente.
No momento em que o mundo se choca com as imagens de desespero de Cabul, o editorial do PÚBLICO desta terça-feira dedica-se ao Bloco de Esquerda. Não é sobre o Afeganistão e o desespero do seu povo e das suas mulheres. Não é sobre os trabalhadores que colaboraram com a NATO e foram deixados à sua sorte. Não é sobre os negócios de milhões da guerra ou da droga. Não é sequer sobre a invasão ou a retirada. Não. É sobre a posição do Bloco, que reafirma o erro e irresponsabilidade da invasão criminosa em 2001 e da ocupação subsequente. Esperar que a ocupação de um país por uma potência estrangeira possa deixar mais que ruínas é ignorar a história. Não há ocupações fracassadas. Só ocupações — e as suas ruínas.
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No momento em que o mundo se choca com as imagens de desespero de Cabul, o editorial do PÚBLICO desta terça-feira dedica-se ao Bloco de Esquerda. Não é sobre o Afeganistão e o desespero do seu povo e das suas mulheres. Não é sobre os trabalhadores que colaboraram com a NATO e foram deixados à sua sorte. Não é sobre os negócios de milhões da guerra ou da droga. Não é sequer sobre a invasão ou a retirada. Não. É sobre a posição do Bloco, que reafirma o erro e irresponsabilidade da invasão criminosa em 2001 e da ocupação subsequente. Esperar que a ocupação de um país por uma potência estrangeira possa deixar mais que ruínas é ignorar a história. Não há ocupações fracassadas. Só ocupações — e as suas ruínas.
Manuel Carvalho parece estar convencido de que o Afeganistão foi invadido para que as meninas pudessem ir à escola. Nessa fábula, o 11 de Setembro teria sido o acontecimento que fez despertar o mundo para o “regime vil”. Essa versão precisa de omitir três factos: que esse “regime vil” era aliado dos EUA e por estes foi financiado; que a invasão, aliás denunciada por muitos democratas em todo o mundo, foi um crime à luz do direito internacional; e que responder a um movimento terrorista difuso invadindo um país é usar um pretexto e alimentar o ressentimento e o ódio que está na origem do fanatismo.
O editorial de Manuel Carvalho poderia ser apenas despropositado. Mas é grave, porque faz parte da barreira contra o questionamento da política da guerra. Essa barreira tenta ostracizar quem faz perguntas incómodas e esqueceu-se de questionar quem ganha com os milhões da guerra. E quem perde. Quem perde tudo. Essa barreira, que legitima quem abandonou as meninas afegãs e hoje tenta instrumentalizar a nossa comoção, nunca terá a coerência de propor a invasão da Arábia Saudita para proteger os direitos das mulheres. Essa barreira, que torna invisíveis as mulheres e homens que lutam pelos seus direitos, esconde os negócios de milhões que os subjugam.
Como Manuel Carvalho sabe, porque leu o comunicado do Bloco, nunca propusemos que os taliban sejam interlocutores de coisa alguma. Mas não prescindimos de recusar, uma vez mais, a política da guerra e os milhões que, afinal, alimentam os taliban e o terrorismo. Depois de tanto sofrimento, tanto ódio, tantas mentiras, depois da devastação do Iraque, do nascimento do “Estado Islâmico”, a barreira permanente contra o questionamento é, ela sim, aliada dos ataques aos direitos humanos. Com trágicas provas dadas.