Como desligar do trabalho nas férias

Delegar é fundamental para assegurar que tudo o que é verdadeiramente essencial continuará a ser feito mesmo sem a sua presença e, sobretudo, para que possa realmente desligar durante as férias.

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Jordan Bauer/Unsplash

Passamos o ano inteiro a dizer que precisamos de férias. E depois chegamos às férias e não conseguimos desligar. A nova tendência do teletrabalho, trazida pela pandemia, não veio ajudar nada. Habituámo-nos a estar disponíveis quase a 100%. Os horários de trabalho não existem, estamos sempre a espreitar os e-mails, a responder a mensagens, a atender telefonemas fora de horas... E chegamos às férias com dificuldade em simplesmente... estar de férias.

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Passamos o ano inteiro a dizer que precisamos de férias. E depois chegamos às férias e não conseguimos desligar. A nova tendência do teletrabalho, trazida pela pandemia, não veio ajudar nada. Habituámo-nos a estar disponíveis quase a 100%. Os horários de trabalho não existem, estamos sempre a espreitar os e-mails, a responder a mensagens, a atender telefonemas fora de horas... E chegamos às férias com dificuldade em simplesmente... estar de férias.

Vivemos numa cultura e numa sociedade onde a norma é estarmos sempre on, sempre ligados, sempre conectados. A nossa vida gira à volta de um pequeno ecrã (o do telemóvel), desde que nos levantamos até à hora de nos deitarmos. E isso torna ainda mais difícil o processo de “desligarmos” quando queremos recarregar baterias. Não é preciso dizer que isto afecta bastante a nossa saúde física e mental, pois não?

Neste artigo, deixo algumas dicas para o ajudarem a desligar do trabalho e a aproveitar ao máximo as suas férias.

Antes de ir de férias:

1. Deixar tudo o mais organizado possível

Sim, isso significa um pouco mais de trabalho antes de ir de férias, mas vai compensar. O ideal é começar vários dias ou mesmo semanas antes de partir. Dependendo do tipo de trabalho que tem, faça uma lista de tudo o que tem a fazer. Atenção: isso não significa trabalhar mais horas antes de ir de férias. Significa organização e planeamento: sabendo quais as tarefas que ainda tem de desempenhar ou os projectos que tem de finalizar será mais fácil organizar a sua agenda e delegar funções e responsabilidades (já lá vamos).

Além disso, haverá sempre tarefas que não são prioritárias e que podem esperar para depois de vir de férias. E, se tiver identificado quais são, quando voltar ao trabalho, já tem uma lista para saber por onde começar.

2. Usar o out-of-office

Esta funcionalidade dos e-mails foi criada para alguma coisa! Mas muitas vezes é ignorada ou não é usada da melhor maneira. Se o seu trabalho passa muito pela utilização do correio electrónico, use o out-of-office, não só quando vai de férias, mas até mesmo quando se ausenta apenas um dia ou dois para uma “escapadinha”.

O ideal é referir sempre o período em que vai estar ausente e deixar um contacto alternativo. Quanto mais detalhado for, melhor; pode, por exemplo, indicar contactos diferentes para diferentes projectos. Em alternativa, pode pedir a um colega que gaste cinco minutos diariamente a ver a sua caixa de e-mail e a sinalizar as mensagens mais importantes. Quando ele for de férias, é a sua vez de o fazer.

Isto vai trazer-lhe paz de espírito: se houver algo verdadeiramente importante para ser tratado, será, mas não por si. Se não for importante, acredite que pode esperar para depois das férias.

3. Delegar responsabilidades e tarefas

Delegar é fundamental para assegurar que tudo o que é verdadeiramente essencial continuará a ser feito mesmo sem a sua presença e, sobretudo, para que possa realmente desligar durante as férias. É fácil convencermo-nos de que temos de ser nós a tratar daquele assunto, que só nós sabemos, ou até que somos insubstituíveis. Mas nada disso é verdade.

Poderá também ser útil pôr o seu chefe ao corrente desta sua gestão pré férias. Se ele souber que temas são realmente urgentes ou os que podem esperar, bem como quem está a “substituí-lo” caso surja algo, será menos provável que o incomode com telefonemas ou mensagens enquanto está na praia.

A verdade é que há pessoas que não desligam nas férias porque não querem ou não conseguem (os chamados workaholics) e os que não desligam porque não os deixam. Antes de ir, tenha uma conversa clara com os seus colegas e chefe e peça a sua colaboração para que as férias possam decorrer normalmente, ou seja, sem trabalho à mistura. Algo que pode ajudar neste processo é partilhar os seus planos. Se os outros souberem o quanto está entusiasmado com aquela viagem ou em se reunir com a família, talvez tenham mais pruridos em incomodá-lo sem razão (isto partindo do princípio que são bons colegas...).

No entanto, se ainda assim isso acontecer, faça um esforço: não responda de imediato nem atenda logo o telefone. Espere um bocado e envie uma mensagem de texto a dizer que a rede de telemóvel está fraca e a sugerir que contacte outro colega se for urgente. Para bom entendedor, deverá bastar.

4. Deixar o sentimento de culpa em casa

Isto é fundamental e só depende mesmo de si. É frequente sentirmos uma espécie de sensação de culpa ao ir de férias e deixar o trabalho a meio. Mas nada é assim tão importante que mereça interromper o seu merecido descanso, nem ninguém é insubstituível. Se tiver estas ideias bem presentes na sua cabeça, será mais fácil ir de férias sem culpa.

Quando estiver quase a agarrar no telemóvel para abrir o e-mail ou responder àquela mensagem de trabalho, lembre-se dos seus objectivos e motivações para as férias. Quer descansar? Divertir-se? Passar tempo com a família e os amigos? Relaxar? Responder a solicitações de trabalho vai ajudá-lo nisso? Termos bem presente o que queremos retirar das nossas férias ajuda a não perdermos o foco.

Durante as férias:

5. Dar folga ao telemóvel

Isto é, provavelmente, o melhor que pode fazer por si nas férias: dê umas férias ao telemóvel. É verdade que ele não é sinónimo de trabalho. Usamo-lo para tudo e mais alguma coisa, desde falar com a família e amigos, tirar fotos, pedir direcções, ler notícias ou simplesmente espreitar as redes sociais. Mas essa dependência excessiva é o que faz com que seja mais fácil cometermos um deslize do género “deixa-me só ver rapidamente a caixa de correio” ou “responder a este e-mail”.

Até já há um nome para este fenómeno: o FOMO (“fear of missing out”), o medo de ficar de fora, de perder alguma coisa neste mundo em velocidade acelerada. Sentimos que temos de acompanhar tudo: os posts dos nossos amigos, as intermináveis mensagens nos grupos de WhatsApp, os convites nas redes, as notícias que saem a toda a hora. E, claro, o FOMO relativo ao trabalho quando estamos fora.

Se quer mesmo desligar nas férias, comece por desligar todas as notificações do seu telemóvel e, de preferência, mantenha-o sem som todo o dia ou sempre que possível. É menos uma fonte de distracção. O ideal seria mesmo aproveitar as férias para iniciar uma espécie de dieta tecnológica. Sim, pode ser muito giro partilhar no Facebook ou no Instagram as fotografias na praia ou no restaurante. Mas melhor que isso não será estar ocupado a vivê-lo?

6. Se for mesmo necessário, definir uma hora para trabalhar

Se em 90% dos casos, é mesmo a nossa cabeça que não nos deixa desligar do trabalho, haverá uns 10% em que realmente não podemos desligar. Seja porque acabámos de lançar um negócio próprio, porque somos responsáveis por um grande projecto ou por outro motivo qualquer (justificável!).

Se assim for, e se não houver mesmo maneira de o evitar, defina um bloco de tempo no seu calendário de férias para estar a trabalhar. Pode ser uma manhã por semana, uma hora, ou apenas dez minutos ao fim do dia, enfim, o que resulte para si. Sem exageros. Tente que seja o mínimo de tempo possível, mas que esteja verdadeiramente concentrado, para ser mais produtivo e não deixar esticar o tempo de trabalho. Se sentir que tem tendência em deixar derrapar, peça ao seu companheiro(a) ou a outra pessoa que o responsabilize e o chame à atenção quando estiver a exceder os limites.

7. Planear actividades estimulantes

Claro que não devemos encher as férias com um calendário de actividades que não nos deixam tempo para relaxar e descansar. Mas se o seu problema é desligar do trabalho durante as férias, por vezes ter demasiado “tempo livre” não ajuda nada, sobretudo se tiver uma personalidade que necessita de estimulação constante. É provável que naqueles “momentos mortos” acabe por ceder à tentação de espreitar e-mails ou, simplesmente, de pensar no trabalho que deixou para trás e no que vai ter de fazer quando voltar.

Ocupar a agenda das férias com actividades estimulantes e divertidas, seja sozinho ou em família, ajuda a manter o foco.

8. Realizar uma pequena prática diária

Durante as férias, escolha uma actividade ou pequena prática para realizar todos os dias e que lhe traga o sentimento de realização pessoal, alegria e foco mental. Pode ser uma caminhada na praia, 15 minutos de meditação, ler um capítulo de um livro, preparar um bom pequeno-almoço, fazer um passeio em família, etc..

Realizar todos os dias uma pequena prática de autocuidado vai ajudá-lo a relaxar, a desligar mais facilmente do trabalho e a tirar mais partido das suas férias. Escolha para prática algo que gostaria de incorporar na sua rotina diária pós-férias. Pode até ser algo que já tentou anteriormente, mas que acabou por desistir por achar que não tinha tempo, no meio do stress do trabalho e dos afazeres em casa. Se fizer desta prática de autocuidado uma prioridade quando está de férias, será muito mais fácil conseguir integrá-la na sua rotina diária quando regressar.

É muito fácil sucumbirmos ao mito da cultura empresarial moderna de que temos de ser pessoas extremamente ocupadas e constantemente disponíveis, e de que é isso que faz de nós um trabalhador exemplar. Mas, na realidade, andar a mil e não ter tempo para relaxar e recuperar não faz de nós melhores trabalhadores. Muito pelo contrário. Facilmente conduz a menor produtividade, foco, criatividade e motivação.

As férias podem ser um bom momento para tentar contrariar isso. Mas não podem ser o único. Para muitas pessoas, o problema não é não conseguirem desligar nas férias, mas não conseguirem desligar nunca. E isso só significa que precisamos ainda mais de desligar: não só uma ou duas vezes por ano, mas um bocadinho todos os dias.


Health coach, autora do projecto About Real Food