Labour expulsa Ken Loach, autor de O Espírito de 45

Ken Loach denuncia “caça às bruxas” e diz que Keir Starmer e a sua “clique” nunca vão “liderar um partido do povo”: “Nós somos muitos, eles são poucos”

Foto
Reuters/TOBIAS SCHWARZ

O cineasta inglês Ken Loach anunciou no Twitter ter sido expulso do Partido Trabalhista. Loach, realizador do famoso “O Espírito de 45” – um documentário sobre a vitória do Labour, liderado por Clement Attlee, sobre os conservadores de Churchill, em 1945 – diz ter sido afastado por se recusar a apoiar a “purga” em curso. Escreveu o cineasta, de 85 anos: “O quartel-general do Labour decidiu finalmente que eu não sou adequado para ser membro do seu partido, já que eu não repudio aqueles que já foram expulsos. Estou orgulhoso em ficar ao lado de bons amigos e camaradas vítimas da purga. É, de facto, uma caça às bruxas. Starmer e a sua ‘clique’ nunca vão liderar um partido do povo. Nós somos muitos, eles são poucos”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O cineasta inglês Ken Loach anunciou no Twitter ter sido expulso do Partido Trabalhista. Loach, realizador do famoso “O Espírito de 45” – um documentário sobre a vitória do Labour, liderado por Clement Attlee, sobre os conservadores de Churchill, em 1945 – diz ter sido afastado por se recusar a apoiar a “purga” em curso. Escreveu o cineasta, de 85 anos: “O quartel-general do Labour decidiu finalmente que eu não sou adequado para ser membro do seu partido, já que eu não repudio aqueles que já foram expulsos. Estou orgulhoso em ficar ao lado de bons amigos e camaradas vítimas da purga. É, de facto, uma caça às bruxas. Starmer e a sua ‘clique’ nunca vão liderar um partido do povo. Nós somos muitos, eles são poucos”.

O antigo chanceler-sombra sob a liderança de Jeremy Corbyn, John Mc Donnel, escreveu no Twitter: “Expulsar um socialista desta qualidade, que tanto deu para promover a causa do socialismo, é uma desgraça. Os filmes de Ken mostraram as desigualdades na nossa sociedade, deram-nos esperança na mudança e inspiraram-nos a lutar. A minha solidariedade ao meu amigo e camarada”. Jeremy Corbyn foi suspenso do Labour em Outubro por ter dito que o problema do antisemitismo dentro do partido tinha sido “exagerado por razões políticas” pelos media e os seus adversários.

Também Yanis Varoufakis, antigo ministro das Finanças do governo grego quando o Syriza estava no poder, se insurgiu: “Acabei de saber que Keir Starmer expulsou Ken Loach do Labour Party. Espero que isto sejam “fake news”. Se não o for, o que ele está a fazer é a expulsar a alma do Labour, ficando com um árido partido sem alma – um ainda mais pobre do que aquele sob a liderança de Blair e os seus criminosos de guerra”.

 Em declarações aos jornais britânicos, um porta-voz do Partido Trabalhista afirmou que “não comentava casos individuais. Como já foi noticiado, o NEC [National Executive Comité, uma espécie de comissão política do partido] tomou a decisão de afastar um certo número de organizações na sua última reunião”. Em 20 de Julho, o NEC baniu quatro organizações trabalhistas, considerando que “não eram compatíveis com as regras do Labour e os seus valores e objectivos”. Em causa, assim como na suspensão de Corbyn, estão organizações que defendiam que as críticas ao partido por causa do alegado antisemitismo tinham sido manipuladas por razões políticas. No dia da reunião do NEC, várias organizações da ala esquerda dos trabalhistas manifestaram-se contra a decisão de expulsão à porta do quartel-general, em Londres.

Ken Loach tinha abandonado o Partido Trabalhista nos anos 90, em colisão com as políticas de Tony Blair, tendo regresso ao Labour já sob a liderança de Jeremy Corbyn.

Além de “O Espírito de 1945”, em que o cineasta descreve o ambiente que conduziu à vitória dos trabalhistas contra Churchill, Ken Loach é autor de “I, Daniel Blake”, de 2016, que lhe valeu a segunda palma de Ouro em Cannes. A primeira é de 2006, com “The Wind that shakes the Barley”, sobre a guerra da independência irlandesa.